Em 2018 foram feitos os primeiros relatos mostrando a presença de uma espécie de mexilhão-verde na Baía de Guanabara. A quantidade ainda era pequena e não assustou. Contudo, com o passar dos últimos anos, o número cresceu e se espalhou não só pelo litoral do Rio de Janeiro, mas também para outras partes do país, como Ceará, Paraná, São Paulo e Santa Catarina.
“Estamos vendo muitos desses, cada vez mais, nas nossas pescas na Baía de Guanabara“, conta o pescador artesanal Carlos Eduardo.
Alguns pescadores têm relatado que onde essa espécie aparece, alguns peixes somem. Há também informações de que esse mexilhão-verde está sendo vendido para consumo humano.
De acordo com ambientalistas ouvidos pela reportagem do DIÁRIO DO RIO, espécies como essas são altamente adaptáveis e possuem capacidades competitivas que lhes permitem proliferar rapidamente em novos ambientes. Com isso, diminuem ou até eliminando espécies nativas. Essa situação muda toda a dinâmica ambiental e afeta à saúde pública da população que vive próximo às regiões afetadas ou depende das mesmas para garantir sustento e sobrevivência.
“Tanto a saúde coletiva dos pescadores artesanais, quanto a saúde ambiental da Baía de Guanabara e a vida marinha, precisam ter um monitoramento permanente e com credibilidade o que o Movimento Baía Viva defende que seja feito através das universidades públicas e instituições científicas, como a Fiocruz, UERJ, UFF, UNIRIO e UERJ. Já que, infelizmente, não há confiabilidade da sociedade nos dados produzidos pelo órgão ambiental que licencia os grandes empreendimentos industriais, no caso o INEA. E não os fiscaliza e nem muito menos dá publicidade e transparência aos dados que coleta. Há muitos relatos de alta incidência de câncer que tem levado crescentemente ao óbito de pescadores que trabalham diariamente em águas extremamente poluídas e contaminadas por óleo, chorume, substâncias toxicas e embalagens plásticas que produzem micro plástico e nano plástico que são nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. Assim como as comunidades pesqueiras cada vez mais têm chamado a atenção para a proliferação de espécies marinhas invasoras, como esse mexilhão verde e o coral sol, que precisam ter um monitoramento independente dos riscos, danos e impactos que podem provocar à saúde humana e na saúde ambiental doa ecossistemas da Baía de Guanabara e nas demais baías fluminenses“, afirmou Sérgio Ricardo Potiguara, coordenador do Baía Viva.
Edson Barbieri, doutor em oceanografia pela USP e pesquisador do Instituto de Pesca, apresentou um trabalho a respeito do mexilhão no último Congresso Latino Americano de Ciências do Mar (Colacmar), realizado em Itajaí, Santa Catarina. Ele explicou, ao site Diário do Litoral, como a espécie invasora saiu das águas quentes do Indo-pacífico e chegou ao Brasil.
“Quando navios carregam água de lastro em um porto para manter a estabilidade durante suas viagens, eles inadvertidamente capturam uma variedade de organismos marinhos, incluindo larvas, pequenos crustáceos, moluscos e até microalgas. Ao chegar ao destino, essa água é descarregada, liberando os organismos junto com ela e potencialmente introduzindo-os em um ambiente completamente novo e, muitas vezes, vulnerável. Este processo de descarga de água de lastro ocorre em portos de todo o mundo, criando um circuito global de transferência de espécies que, sem medidas de controle rigorosas, pode levar a invasões biológicas significativas”.
Segundo especialistas, existe a preocupação que essa espécie de mexilhão-verde se espalhe e domine todo o litoral do Brasil. Sobretudo em áreas onde as condições ambientais são favoráveis e não existem predadores naturais para controlar sua reprodução.