Música clássica brasileira perde o cravista Roberto de Regina

Apaixonado pelo Barroco, o músico ajudou a difundir o gênero no Brasil. Além de ser cravista, Roberto também foi o primeiro luthier a fabricar o instrumento no País

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Roberto de Regina em apresentação na Capela Magdalena / Reprodução: YouTube

A comunidade de música clássica perdeu um dos seus maiores destaques, nesta sexta-feira (25), o maestro, cravista e médico Roberto de Regina, que tinha 98 anos, faleceu de causas naturais, em seu sítio em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Roberto Miguel de Barros Regina nasceu em 12 de janeiro de 1927, na cidade do Rio de Janeiro, e foi um dos responsáveis pela introdução e difusão da música antiga no Brasil.

De Regina se destacou ainda muito jovem no cenário musical, na década de 1940, atuando também como regente. Na década de 1950, deu início ao seu trabalho como luthier, sendo o pioneiro na construção e popularização do cravo no Brasil.

Formado em medicina em 1952, Roberto de Regina dedicou a vida à música, primeiro como pianista, depois como cravista e regente. A sua paixão era o Barroco, gênero que ajudou a difundir, assim como os grandes compositores, como Bach, François Couperin e Rameau.

Em 1974, Roberto de Regina e a cravista Ingrid Müller Seraphim fundaram a Camerata Antiqua de Curitiba, um dos grupos mais importantes dedicados à música antiga no Brasil, que conta com atuação até hoje. 

Roberto de Regina também se destacou como artesão e pintor. As suas obras podem ser conhecidas no museu e na Capela Magdalena, criados por ele em seu sítio em Guaratiba. No local, há uma pequena sala de concertos, com um cravo do século XVIII, pinturas estilizadas e inspiradas no período barroco. Tudo feito por Regina.

Como cravista gravou dois discos. Sua discografia inclui 26 álbuns e 5 DVDs. Ao longo da sua carreira, Roberto de Regina recebeu diversos prêmios e honrarias; a última, no ano passado: a outorga do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em entrevista à revista CONCERTO, Roberto de Regina falou sobre o seu amor pelo Barroco:

“De tudo o que a humanidade fez, o que mais me deslumbra é o barroco, que, surpreendentemente, é ainda muito pouco conhecido. Só se conhecem as obras fundamentais. Quantas pessoas mergulharam de cabeça nos oratórios de Händel? Muitas vezes há um desprezo pelo rótulo barroco, mas quem se aprofundar neste repertório reconhecerá que a música teve, nesta época, seu ponto culminante. A partir daí fez uma curva, deixou de lado muita coisa, e perdeu um pouco o seu esplendor. Depois do barroco, o vermelho púrpura e o vermelho sanguíneo da música viraram rosa bebê. Mozart, para mim, é cor de rosa se comparado com o esplendor escarlate da música barroca”, disse ele a Luis S. Krausz.

No final de 2024, o cineasta Luiz Eduardo Ozório finalizou as filmagens do documentário O cravista, sobre a trajetória de Roberto de Regina. A locação final foi na Casa Julieta de Serpa, com a reprodução de um baile real com dançarinos e músicos da UFRJ. 

“Para mim o documentário será muito positivo para reverberar o valor que o cravo representa para a música. Acredito que é um instrumento que tem um potencial de se manter vivo, crescer, porque ele tem algo especial. O som é parecido com as cordas da guitarra, então acho que o futuro do cravo será promissor com os jovens”, disse Roberto de Regina na ocasião, segunda a revista CONCERTO.

O idealizador do projeto Música no Museu, Sérgio da Costa e Silva, lamentou o falecimento do artista e amigo, que diversas vezes tocou no Música no Museu.

Em 2022, Roberto realizou o seu último concerto público na Academia Brasileira de Letras (ABL), nas celebrações do bicentenário da Independência do Brasil.

O concerto reuniu 200 pessoas e teve início com uma peça do organista, alaudista e compositor alemão Conrad Paumann, do início do Renascimento. Na sequência, de Regina executou músicas de Johann Sebastian Bach e de Domenico Scarlatti.

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