“Coração do meu Brasil”, como eternizou seu hino, o Rio de Janeiro completa 460 anos no próximo 1º de março, reafirmando seu papel como um dos maiores ícones culturais do país. Primeira cidade do mundo a receber o título de Patrimônio Mundial da Unesco como Paisagem Cultural Urbana, em 2012, a capital fluminense tem uma identidade única, formada por sua beleza natural, pela arte e pela irreverência do povo carioca.
A Câmara Municipal do Rio tem contribuído para essa valorização ao reconhecer, por meio de leis, diversos elementos da cultura local como patrimônio cultural imaterial da cidade. O sotaque carioca, com seu inconfundível chiado no “s”, está entre os símbolos protegidos pela legislação (Lei 5.982/2015). A paixão pelas praias e pelos esportes também tem reconhecimento oficial, com a altinha (Lei 6.711/2020), o futevôlei (Lei 6.196/2017), o futmesa (Lei 7.513/2022), o voo livre (Lei 7.520/2022) e o surfe (Lei 8.593/2024) na lista de práticas imortalizadas.
“O berço do esporte no Brasil foi o Arpoador. Quando comecei, éramos poucos praticantes, mas hoje o surfe está cada vez mais democrático. O Rio, com suas praias e sol o ano inteiro, respira surfe. Ver a modalidade reconhecida como patrimônio cultural me enche de orgulho”, afirma Ricardo Fontes de Souza (Rico), pioneiro do surfe no Brasil e responsável pelo primeiro campeonato nacional, em 1975.
A cidade que canta sua história
A musicalidade também faz parte da identidade do Rio. A bossa nova, gênero que conquistou o mundo com João Gilberto e Tom Jobim, foi reconhecida como patrimônio imaterial (Lei 8.558/2024). “Que me desculpem os outros estados, mas a bossa nova só poderia ter nascido no Rio. Foi um passo determinante para nossa cultura, dando mais leveza à música e ao comportamento do carioca”, destaca Roberto Menescal, um dos maiores nomes do gênero.
Mais antigo que a bossa nova, o choro – criado no século XIX por músicos negros escravizados – também tem seu espaço garantido na história carioca. O estilo está presente no Reduto Cultural do Choro Alfredo da Rocha Vianna Filho (Pixinguinha), de Olaria (Lei 8.044/2023), e na Roda de Choro da Praça Jardim Laranjeiras (Lei 7.500/2022). “O choro está vivo nas ruas, nos bairros, no coração e na alma de todos nós”, afirma o flautista Eduardo Neves.
E, claro, o samba, alma do Rio, não poderia ficar de fora. Com raízes na cultura africana e no folclore brasileiro, o ritmo é celebrado com o reconhecimento de escolas como Unidos da Tijuca (Lei 8.594/2024), Unidos de Vila Isabel (Lei 8.056/2023) e Unidos de Padre Miguel (Lei 7.561/2022). Já o Carnaval de rua também foi oficialmente protegido, com os tradicionais blocos considerados patrimônio cultural pela Lei 7.522/2022.
Da dança ao sabor carioca
A cultura urbana do Rio também é reconhecida. Ícone das favelas e da juventude carioca, a dança do passinho e a batalha do passinho foram imortalizadas pelas Leis 6.381/2018 e 7.524/2022. O Viaduto Negrão de Lima, em Madureira, segue como referência dessa manifestação artística, sendo palco do baile charme mais famoso do Rio há mais de 35 anos.
Na gastronomia, os sabores do Rio também são motivo de orgulho. O bolinho de feijoada, invenção que reúne tutu à mineira, bacon e linguiça, foi declarado patrimônio municipal pela Lei 7.096/2021. A tradicional Feijoada da Mangueira, servida na quadra da escola de samba, também recebeu reconhecimento oficial (Lei 7.323/2022).
Com uma identidade rica e múltipla, o Rio de Janeiro segue inovando e deixando sua marca na cultura brasileira e mundial. A cidade completa 460 anos, celebrando suas raízes e reafirmando seu legado como um dos maiores centros culturais do país.