O Fluminense disputou 2 jogos seguidos contra o Cruzeiro no Maracanã na última semana, um pela Copa do Brasil e outro pelo Brasileirão. Se o reencontro da torcida tricolor com o ídolo Fred – atualmente na Raposa – foi ‘morno’, os tricolores viram o despertar de duas joias das categorias de base: João Pedro, de 17 anos, e Marcos Paulo, de 18.
O primeiro foi autor de 3 gols nas duas partidas entre as equipes, enquanto que o segundo colaborou com uma assistência e jogadas importantes. A dupla, entrosada dentro e fora de campo (são amigos de longa data), já é chamada de Novo Casal 20, em alusão a Assis e Washington, que brilharam no Fluminense nos anos 80.
No entanto, justamente a expressão ”casal”, e se tratando de duas pessoas do mesmo sexo, ainda gera comentários homofóbicos (como mostra, por exemplo, o print abaixo), mesmo com todo o apelo do tema, inclusive na semana do Dia Internacional Contra a Homofobia (17/05).
Para falar sobre o assunto, o Diário do Rio conversou, com exclusividade, com o publicitário Sean Magalhães, de 27 anos, torcedor do Fluminense, que ficou conhecido durante o empate em 3 a 3 contra o Flamengo pela Copa Sul-Americana 2017, realizado no Maracanã. Na ocasião, num dos gols sofridos pelo Tricolor, que acabou gerando a eliminação do time, Sean, que estava no estádio, foi flagrado por uma câmera da emissora que transmitia a partida numa pose ‘estarrecida’, fato este que ocasionou memes homofóbicos na internet após o jogo.
1 – Como recebeu pela primeira vez os memes e percebeu que havia viralizado?
”Logo ao fim daquele Fla x Flu. Durante a partida, o Fluminense teve seus altos e baixos e, quando estava 3 a 2 ainda para o Fluminense, o que classificava a gente, sofremos o empate. Nesse empate, as câmeras da transmissão me pegaram lamentando de forma cômica e ao mesmo tempo muito chateado e triste pelo gol sofrido, placar que desclassificava da próxima fase da competição. E logo na descida da rampa do Maracanã, vieram inúmeras mensagens no meu telefone, via redes sociais, informando que minha imagem naquele jogo tinha viralizado em todo país e até no exterior.”
2 – Se sentiu incomodado com a repercussão?
”Logo após a descoberta, ainda chateado com a desclassificação, eu levei na esportiva, como ‘zoação’ de torcedor, mas, no decorrer das horas, começavam a vir mensagens em tons agressivos, homofóbicos e desrespeitosos, mesmo sem saber quem eu era. Então, comecei a me incomodar, mas nada que tomasse medidas mais drásticas. Até hoje levo na esportiva.”
3- Qual sua opinião sobre a homofobia no futebol? Atualmente, por exemplo, com o sucesso do ‘novo casal 20’ tricolor (Marcos Paulo e João Pedro), já há algumas zoações na internet em relação ao termo ”casal”.
”A homofobia, seja ela no futebol ou em qualquer âmbito da sociedade, na minha opinião é um problema grave e uma falta de respeito, que precisa ser combatida com iniciativas dos clubes e jogadores influenciando de maneira positiva o ambiente dos estádios. Já em relação ao ‘novo casal 20’, achei muito legal por parte da torcida essa comparação com o casal 20 da década de 80 (Assis e Washington), e acredito que assimilar os garotos a eles possa dar confiança e motivação, sabendo que estão indo no caminho certo e que continuem alegrando a torcida tricolor. Uma pena que algumas pessoas usam o termo ‘casal’ de forma preconceituosa. Neste mesmo ano já vivemos situações extremamente infelizes para o futebol. Acredito que essas insinuações homofóbicas se tornem insignificantes para o bem do futebol, e como a campanha em que o clube fez ainda no campeonato carioca dizia, ‘o Fluminense é um time de homens e mulheres de várias cores, condições sociais e sexualidades. O Fluminense é um time de todos”’.
4 – Qual sua relação com o Fluminense? Quando começou a torcer? Há quanto tempo frequenta estádio?
”Eu sou um apaixonado pelo Fluminense. Sou torcedor de arquibancada, adoro ver o Fluzão jogar. Comecei a torcer pelo Fluminense acredito que desde que nasci, com as 3 cores que herdei, o verde, o branco e o grená, influenciado pelo meu pai, que também é tricolor. Sempre estamos juntos para torcer pelo Fluminense, frequentamos o estádio desde quando não morávamos na cidade do Rio. Ainda criança já acompanhava meu pai nos jogos.”
5 – Para fechar, mudando de assunto, o que está achando do Fluminense 2019 e do trabalho de Fernando Diniz?
”O Fluminense de 2019 é uma equipe limitada mas com um time principal competitivo, principalmente depois da chegada de Paulo Henrique Ganso, que pode ser um jogador chave para essa temporada. Alguns altos e baixos em jogos decisivos, como no início do Campeonato Brasileiro, mas a falta de elenco pode pesar ao logo do ano se não haver mais contratações de peso. Ainda temos um problema financeiro grave, e com as novas eleições marcadas para o mês de junho, vamos esperar para podermos projetar algo. Já o trabalho do Fernando Diniz, acredito que os jogadores abraçaram o estilo de jogo e está dando certo. Temos uma posse de bola bem bacana, mas aquele último passe e a finalização ainda precisamos melhorar. Aprecio a forma como conduz o time, torço muito para que consigamos ganhar algo esse ano, principalmente nas competições de mata-mata como a Copa do Brasil e a Sul-Americana, para poder premiar o trabalho feito pelo Diniz e principalmente a nossa linda torcida tricolor.”