O líder que o habita – I

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Foto de David Spinks

O verdadeiro líder mora dentro de você. O que o leva a buscar lá fora um líder, alguém que funciona como uma figura idealizada, é a sua verdadeira neurose!

A doença mental do ser humano é acreditar que é possível ser amado. O querer ser amado é um eterno processo de infantilização do humano. O fundamento, a essência da vida, é tornar-se um ser do desejo, como alguém que insiste, que luta com garra, que não refuga.

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Você que ser um líder? Não somente numa gestão empresarial, no exercício de uma profissão, em seu movimento de espalhar estima, nos canteiros daqueles que desejam ser liderados. Mas, também, em suas escolhas da vida, sejam elas quais forem. O bacana é poder não cessar de insistir naquilo que se deseja. O trilhar ardoroso de uma vida de seus amores, de seus desejos sexuais, de seus prelúdios de conquistas, de uma economia política de seus gozos.

O ser humano é doente de nascença, ele quer ser fraco, ser reconhecido e amado numa posição infantil, quer que alguém cuide dele, que seja único frente ao olhar de um outro. Pobre coitado! Ele carrega, em seu íntimo, uma uma tendência de querer acreditar que o outro sempre tem algo que ele não tem. Isso o leva a idealizar, idolatrar, amar o outro. É logico, para se sentir amado, sempre amado pelo que o ideal representa, e que ele acredita num eterno retorno. Trata-se, em todo caso, de uma postura infantil, uma espécie de dependência visceral, uma crença absoluta num pai entronizado, idealizado demais, capaz de orientá-lo em seu desejo. Por isso, se você quer ser o líder que o habita, faça o luto desta herança, vire a página, enterre o cadáver deste pai ideal, não espere nada de ninguém. Procure dentro de você mesmo, e não lá fora, aquilo que você julga melhor para sua existência!

Foto: Peter Ostergaard

Você vai realizar um trabalho no sentido de se perguntar sobre a história da sua vida. Não é uma tarefa fácil de ser empreendida, pelo contrário, ela, em si mesma, é difícil de ser realizada. Mas ela mesma não é impossível, vai depender do grau de seu investimento, de seu atrevimento frente a si mesmo, de sua coragem de se perguntar sobre seu desejo. Isso, certamente, passa por renúncias, separações necessárias. Isso vai depender tão somente de você aprender a diferenciar o que é o simples querer, daquilo que seria o verdadeiro movimento de enfrentar a solidão do ato de desejar.

O que dificulta esta busca de si mesmo, e é o que leva a acreditar que o líder sempre é um outro que não você mesmo, alguém que é sempre procurado lá fora, é tão somente a sua neurose. Seu desejo de ser amado, é o que impede de você exercer o caminho da liderança. Repito, desejo de ser amado é a verdadeira patologia do ser humano!

Sim, na medida em que você necessita do amor do outro, sua possibilidade de sucesso, de se autorizar naquilo que é seu desejo de líder, torna-se enfraquecida, anêmica, sem vida, morta. Você pode dar um primeiro passo. Realizar pequenos movimento de se fazer acreditar, tornando-se um líder particular, à sua maneira, fora dos padrões comuns. Não existe modelo de líder! Isso seria uma uniformização daquilo que teria sido o traço que dá origem à essa função. Uma espécie de comercialização das escolas de líderes. Um líder é sempre particular.

Você está disposto a pagar o preço de um investimento que o levaria a encontrá-lo? Isso que você procura nos outros pode ser encontrado em si mesmo. Qual vai ser a sua verdadeira escolha?

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Médico, Psiquiatra e Psicanalista. Especialização e Mestrado em Psiquiatria (UFRJ); Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Brasília, Rio de Janeiro e Vitória; Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); Editor-chefe da Companhia de Freud Editora
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