Na semana em que celebramos o Dia do Padre na memória litúrgica de São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars (04/08), torna-se oportuna uma reflexão sobre a realidade do padre que atua na cidade do Rio de Janeiro. O padre carioca é diferenciado! Como qualquer outro padre de uma grande metrópole, como é o caso do Rio, ele tem o desafio de exercer o ministério sacerdotal em meio a uma sociedade plural, diversificada e em ambiente com consideráveis índices de criminalidade. Mas o sacerdote carioca é maleável, tem alta capacidade de adaptação às condições das mais complexas onde se faz necessária a presença da Igreja. Seja na favela seja no asfalto, nas zonas mais nobres da cidade ou nas mais pobres onde tudo se carece, nos locais mais seguros ou nos mais violentos, lá está o padre pronto para anunciar o Reino e torna-lo presente por sua própria presença e atuação, como o próprio Cristo.
publicado no jornal da arquidiocese do Rio de Janeiro
Desculpem-me aqueles que exercem os mais variados ofícios na sociedade, mas seguramente nenhum outro se apresenta com a importância e o valor do exercício do ministério sacerdotal. Pois o sacerdote é o único voltado para a salvação integral de cada pessoa humana, ou seja, em toda plenitude de sua realidade. E são muitos os obstáculos que ele enfrenta para levar a bom termo a missão que recebeu do próprio Senhor. Obstáculos tanto em nível ad intra, a considerar suas limitações e fraquezas humanas decorrentes da natureza decaída, quanto ad extra, ao levar em conta as incompreensões e perseguições inerentes ao seguimento radical do Cristo.
O padre é aquele escolhido por Deus para ser canal da graça divina aos seus filhos, que constituem as comunidades eclesiais espalhadas por toda cidade, nos bairros. Sem estes canais ou veículos da ação de Deus, os prejuízos seriam incontáveis e os males bastante previsíveis. O contrário, a presença de bons sacerdotes, pessoas inteiramente consagradas à causa do Reino de Deus, traz consigo benefícios incalculáveis e não somente de ordem espiritual. Quando as águas do verão carioca provocam tragédias com perdas materiais de vidas, quem está lá para consolar e acolher as vítimas promovendo campanhas de arrecadação dos mais variados auxílios? O padre. E quando os pais perdem seus filhos vítimas da violência urbana ou porque optaram pelo mundo do crime? O padre. O padre, assim como o Senhor, jamais pode fazer acepção de pessoas, sobretudo o padre carioca, que batiza tanto o filho da “madame” quanto o filho da “diarista”; que sepulta tanto o policial quanto o criminoso; que consola tanto a mãe do PM morto em combate quanto a mãe do bandido, isto sem falar das famílias dos inocentes mortos em conflitos armados entre policiais e traficantes. Neste sentido, desde o nascimento, com o batismo, passando por todos os momentos difíceis da vida até a morte e exéquias, a Igreja se faz visível através de seus ministros.
Os efeitos do exercício do ministério sacerdotal na educação cristã dos jovens, no atendimento às famílias – sobretudo às mais pobres –, na formação da consciência cívica, na promoção da cultura local, no anúncio da Palavra e na celebração dos sacramentos são inumeráveis. São fatores de relevo indiscutível para o progresso dos bairros e, por tabela, de toda a cidade, pois fortalecem as bases fundamentais da vida em comunidade e de sua ordem moral.
Os padres, como sucessores de Cristo, dão continuidade a Sua obra salvífica na grande metrópole. Por suas mãos passa a seiva necessária, ou seja, a graça divina, para abençoar, curar, fortalecer, redimir e libertar os filhos de Deus de todas as cadeias opressoras, sobretudo, da morte eterna. Eles têm a tarefa não somente de ser sal da terra e luz do mundo, mas ainda de ensinar aos cristãos a também sê-lo.
A presença do pároco no bairro é sempre um referencial. Ele é aquele que visita as famílias, os doentes, batiza e confere a Primeira Eucaristia às crianças e, quando crescidas ainda lhes assiste o matrimônio. Uma das coisas mais belas que vi nos meus primeiros anos de sacerdócio eram as famílias de Vila Isabel se orgulharem de Monsenhor Sérgio Saldanha ter participado dos momentos mais importantes e marcantes de suas vidas através da celebração dos sacramentos, de um auxílio material ou mesmo pela escuta atenta ou uma simples palavra de conforto.
O padre no bairro é ainda um referencial religioso mesmo para aqueles que não têm fé, pois ao o verem pelas ruas, especialmente quando trajados de vestes clericais, são obrigados a pensar em Deus. E aqueles que têm uma fé ainda que primitiva, ao passarem por momentos difíceis na vida, sempre recordam que perto de casa há um padre a quem podem abrir o coração buscando força e conforto espirituais.
O padre carioca é homem de coragem! Ele atua onde muitos profissionais não querem trabalhar, entra onde o estado não consegue entrar; ele sobe os morros e entra em favelas, ambientes de frequentes conflitos armados onde vigoram as leis próprias de um poder paralelo ao do estado, enfrentando toda espécie de risco para evangelizar os pobres, levando-lhes a Palavra de Deus e a Sagrada Eucaristia.
O povo carioca em geral, independentemente de sua profissão religiosa reconhece as virtudes dos nossos padres e por isso lhe é grato com as mais comoventes manifestações de carinho e admiração; porque sabem que o exercício do ministério sacerdotal no Rio é ato heroico, é assumir o estilo de Jesus na mais genuína perspectiva da cruz. E é exatamente aí onde consiste nossa alegria: seguir e servir a Cristo na radicalidade e fidelidade evangélicas.
Pe. Valtemario S. Frazão Jr.
Pároco da Basílica N.S. de Lourdes
Parabéns padre!!!!Gostaria que todos os párocos tivessem esse mesmo nível de vocação sacerdotal!!!O mundo nunca precisou tanto!!!Tempos sombrios!!
Rezo muito pedindo a intercessão de Nossa Sra de Lourdes na vida de meus filhos!!!Se puder reze por eles tbm,por favor!!