O que nos ensina o Papa Francisco?

O mundo unido em oração, pela recuperação e saúde do Papa Francisco. É oportuno entendermos um pouco de seu magistério e de sua mensagem aos cristãos. O desafio da paz, tolerância e justiça para toda humanidade.

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Vatican News

Recente, um grande amigo e intelectual de origem judaica, reclamava comigo sobre um possível silêncio ou omissão do Papa, diante das atrocidades que terroristas fazem em todo o mundo, especialmente em Israel.
Eu argumentei que o papa jamais se omitiu. Ele é firma da defesa da pessoa humana, especialmente contra violência de grupos terroristas ou de governos e sistemas que oprimem os mais frágeis. Aliás o Papa Franciso é ardoroso defensor da paz e é radicalmente contra aqueles que usam de todo tipode  violência, da luta de classes como forma de política e da opressão dos mais pobres e marginalizados.

O Papa Francisco prega o entendimento, a tolerância entre os povos. E nas situações de guerra e conflitos, é importante entender que de todos os lados há razões e vozes que precisam ser escutadas. Aliás, há uma sangrenta perseguição a cristãos em diversas partes do mundo, perseguição por grupos políticos regionais, religiosos e por sistemas doutrinários. Em muitos casos as perseguições avançam para o martírio que acontecem ainda hoje. Neste mês de fevereiro de 2025, no Congo, África, militantes do grupo Allied Democratic Forces (ADF), afiliado ao Estado Islâmico, invadiram a vila de Mayba, na província de North Kivu (RDC), arrastaram 70 cristãos para uma praça e os decapitaram com facões e martelos (1). Não é preciso ir tão longe, aqui no Rio, na região de Brás de Pina, algumas igrejas católicas foram impedidas de oficiar as missas, por conta de traficantes crentes, que só permitiam uma denominação religiosa de um determinado pastor. Qualquer outro tipo de cristão ou de outra religião era impedida de acessar os territórios dominados. (2)

 Os papas, na história, sempre se posicionaram contra tiranos, terroristas e líderes abusadores. Ao contrário o que os grandes historiadores demonstram é que a Igreja dos Apóstolos sempre esteve na defesa da vida, do direito, das liberdades e em favor dos povos.

O Legado do Papa Francisco: Fé, Justiça e a Barca de Pedro no Século XXI

E neste momento, que o mundo está unido em oração. De Roma às periferias mais distantes, católicos e não católicos elevam preces pelo Papa Francisco, hospitalizado desde fevereiro de 2025 por complicações respiratórias e renais. Seu estado crítico, porém, estável, mobiliza vigílias em São Pedro e reflexões sobre o papel único de um pontífice que, aos 88 anos, redefine o que significa liderar uma instituição de dois milênios. A Igreja recorda: sua missão transcende a figura humana. Como escreveu Bento XVI, “a Igreja não é do papa; o papa é da Igreja”. Francisco personifica essa verdade – um pastor que, mesmo frágil, lembra ao mundo que a barca de Pedro navega em águas tempestuosas, mas segue firme nesta missão.

A imagem do papa como timoneiro remonta a Jesus acalmando a tempestade no Mar da Galileia. Para Francisco, conduzir a Igreja no século XXI significa enfrentar turbulências: crises ecológicas, desigualdades digitais, guerras e a “globalização da indiferença”. Em Evangelii Gaudium (2013), ele traçou um projeto ousado: uma Igreja “em saída”, que troca palácios por periferias existenciais. Seu lema – “melhor uma Igreja acidentada que enferma” – sintetiza uma visão onde a fé não se enclausura em dogmas, mas se faz carne nas favelas, campos de refugiados e prisões. E principalmente na Eucaristia.

Essa “nova Jerusalém” que Francisco propõe não é utopia celestial, mas um chamado à transformação terrena. Em Fratelli Tutti (2020), defende uma sociedade baseada na “amizade social”, onde fronteiras não separem irmãos e economias não oprimam os fracos. Critica nacionalismos (“não há lugar para a xenofobia na casa comum”) e propõe um “amor político” que una ética e governança. Seu legado aqui dialoga com João Paulo II, que, na Centesimus Annus (1991), denunciou o capitalismo selvagem, e Bento XVI, que na Caritas in Veritate (2009) vinculou justiça à verdade.

Os Pilares do Magistério Recente: De João Paulo II a Bento XVI

Para compreender Francisco, é essencial contextualizá-lo na linhagem pós-Vaticano II. João Paulo II (1978-2005), o “papa peregrino”, redefiniu o papado como voz global. Suas 104 viagens e o estabelecimento das Jornadas Mundiais da Juventude revitalizaram o catolicismo pós-Concílio. Teologicamente, enfatizou a dignidade humana contra totalitarismos, declarando em Veritatis Splendor (1993) que a liberdade sem verdade leva ao caos. Seu combate ao comunismo e defesa da vida, da concepção à morte natural, ecoam hoje em movimentos pró-vida.

Bento XVI (2005-2013), o “papa teólogo”, aprofundou a razão na fé. Em Deus Caritas Est (2005), lembrou que a caridade não é assistencialismo, mas reconhecimento do divino no outro. Seu debate com o secularismo, especialmente na Spe Salvi (2007), alertou que uma sociedade sem transcendência degenera em tirania. Sua renúncia, gesto humilde de consciência da finitude, preparou o terreno para Francisco, mostrando que a Igreja sobrevive a qualquer figura, por maior que seja.

Em Francisco temos uma proposta quase revolucionária, mas com muita ternura.  Se João Paulo II foi o profeta e Bento XVI o sábio, Francisco é o místico pragmático. Seu pontificado (2013–presente) conjuga espiritualidade inaciana com audácia reformista franciscana.  Todos os documentos pontifícios aqui citados podem ser acessados pelo site do vaticano, (3) Para facilitar ao leitor, proponho quatro pontos no ensinamento de Francisco:

1. Ecologia Integral: A Terra como Sacramento

Em Laudato Si’ (2015), Francisco elevou a ecologia a imperativo moral. Mais que uma encíclica “verde”, é um tratado social: liga a exploração ambiental à opressão dos pobres. Criticou o “paradigma tecnocrático” e propôs uma “conversão ecológica” que una contemplação e ação. Seu apelo teve eco global, inspirando o movimento Laudato Si’ e diálogos com cientistas como o falecido Stephen Hawking.

2. Inclusão e Misericórdia: As Fronteiras da Graça

Amoris Laetitia (2016) redefiniu a pastoral familiar, substituindo juízos rígidos por discernimento. A abertura aos divorciados recasados, ainda controversa, reflete sua máxima: “a realidade é superior à ideia”. Já Fiducia Supplicans (2023), ao permitir bênçãos a casais irregulares (inclusive homoafetivos), separou caridade pastoral de aprovação doutrinal – um equilíbrio entre tradição e compaixão. E que fique claro que não é o casamento como sacramento, mas uma benção a pessoas e o caminho da santificação pela conversão e castidade.

3. Reforma Institucional: Sinodalidade e Transparência

A constituição Praedicate Evangelium (2022) reestruturou a Cúria Romana, permitindo leigos liderarem dicastérios. Para Francisco, isso não é mera modernização, mas resgate da sinodalidade do primeiro milênio: “Uma Igreja que escuta”. Seu combate a abusos, através de Vos Estis Lux Mundi (2019), estabeleceu protocolos obrigatórios de denúncia, priorizando vítimas sobre instituições.

4. Diálogo e Paz: Pontes em Tempos de Guerra

Do hospital Gemelli, em fevereiro de 2025, Francisco enviou apelos pela Ucrânia, Sudão e Oriente Médio. Sua diplomacia, marcada por gestos como lavar os pés de refugiados, segue o princípio de Fratelli Tutti: “Nenhum conflito é inevitável”. Apesar de críticas à suposta ingenuidade, seu pacifismo radicaliza o ensinamento de Paulo VI: “Nunca mais a guerra!”.

Desafios e Críticas: O Preço da Ousadia

Nenhum legado é isento de tensões. Conservadores acusam Francisco de relativismo doutrinal, especialmente após Fiducia Supplicans. Progressistas cobram avanços em ordenação feminina e celibato. Sua ênfase na misericórdia, porém, não é laxismo, mas fidelidade ao Evangelho: “Eu desejo misericórdia, não sacrifício” (Mt 9:13).   Economicamente, sua crítica ao “deus dinheiro” incomoda tanto neoliberais quanto regimes autoritários. O dinheiro deve ser ferramenta para promoção da igualdade e bem-estar social, e não para acumulação de uns poucos às custas da exclusão de muitos.

Por fim, permanecemos no aguardo de boas notícias do Hospital Gemelli. E vale retornar as encíclicas, ensinamentos e ao legado de Francisco. Alguém que, como Inácio de Loyola, acredita que “o amor se coloca mais nas obras que nas palavras”. Suas textos deixam o sinal do amor de Deus, presente na humanidade, pelo Espírito Santo. Sigamos peregrinos em oração, estudos e caridade.

Referências.

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