O Último Sorriso de Francisco — A Morte de um Papa com Alma Alegre

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Na manhã do dia 21 de abril de 2025, o mundo se despediu do Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos, no Vaticano. Sua morte, resultado de complicações pulmonares após uma pneumonia bilateral, foi anunciada pelo Cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Santa Sé. O luto é global, mas a lembrança que fica é de um homem profundamente humano — e especialmente bem-humorado.

Francisco não será lembrado apenas por sua firme atuação contra abusos dentro da Igreja, por sua defesa intransigente da ecologia integral, da dignidade dos pobres e das periferias, nem apenas por suas corajosas reformas internas no Vaticano, como a reestruturação da Cúria e o combate à corrupção. Ele também promoveu inovações marcantes, como a busca por um diálogo mais acolhedor com a comunidade LGBTQIA+, o fortalecimento do papel das mulheres na Igreja — inclusive com nomeações inéditas para funções de responsabilidade — e sua escuta atenta aos povos originários, especialmente na Amazônia. Incentivou uma Igreja mais descentralizada e sinodal, baseada na escuta, na participação e na corresponsabilidade entre clero e fiéis.

Mas Francisco será lembrado também — e com ternura — por seu sorriso constante, por suas reações espontâneas diante do inesperado, e por seu modo leve — até espirituoso — de tratar assuntos sérios. Com gestos simples, como abraçar um doente, ligar para uma viúva ou interromper cerimônias solenes para acolher uma criança, ele humanizou o papado e conquistou o mundo não só pelas suas posições, mas pela forma humana, próxima e corajosa com que as expressou.

Esse bom humor não era apenas um traço de personalidade. Era espiritualidade. Era filosofia. Era fé. E ele mesmo dizia que o mantinha vivo e sereno mesmo nos momentos mais desafiadores. Em uma de suas falas mais tocantes, Francisco confidenciou: “Far-nos-á bem recitar com frequência a oração de São Tomás Moro: repito-a todos os dias, funciona para mim.”

Quem foi São Tomás More, o Santo do Bom Humor?

São Tomás More nasceu em Londres, em 1477. Advogado formado pela Universidade de Oxford, teve uma trajetória brilhante como juiz e político, chegando a Chanceler da Inglaterra sob o reinado de Henrique VIII. Era conhecido por sua integridade, coragem e compaixão, e por defender os humildes e oprimidos com raro senso de justiça.

Mais do que um intelectual e homem de Estado, era um cristão profundamente fiel. Recusou-se a jurar fidelidade ao rei Henrique VIII como chefe supremo da recém-criada Igreja Anglicana, rompendo com a autoridade do Papa, e também se negou a reconhecer a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão para que este pudesse se casar com Ana Bolena.

Essa postura, fundamentada em sua fé católica e em sua convicção moral sobre a unidade da Igreja, levou à sua acusação de traição. Foi preso na Torre de Londres, onde permaneceu por mais de um ano, e, após julgamento, foi condenado à morte. Em 7 de julho de 1535, foi decapitado em público.

Mesmo confinado, escreveu cartas cheias de esperança a sua filha, nas quais ensinava que não há desgraça quando se confia em Deus. E mantinha o humor até nos momentos finais: ao subir ao cadafalso, disse ao carrasco com um sorriso no rosto que “ajudasse ele a subir, pois para descer cuidaria sozinho”. São Tomás More foi canonizado em 1935 por Pio XI e é hoje padroeiro dos políticos e governantes.

Francisco via nele um modelo de alegria cristã. Abaixo, a oração que o Papa rezava quase todos os dias.

A Oração que Traz um Sorriso

O Papa Francisco recita essa oração com emoção e leveza em um vídeo que pode ser acessado pelo Instagram no seguinte sítio:

https://www.instagram.com/reel/DCFk2ybt8gN/?igsh=NmtyOHY5OThhcjVr

A oração do bom humor, que o Papa Francisco reza, é atribuída a São Tomás Moro, e nos lembra da importância de cultivar a leveza e a alegria no dia a dia. Em meio aos desafios, ela nos convida a pedir não apenas saúde física, mas também um espírito sereno e bem-humorado.

É uma súplica por simplicidade, resiliência diante das imperfeições humanas e, acima de tudo, pela graça de encontrar e compartilhar alegria. Um convite a viver a vida com gratidão e confiança, mesmo diante das adversidades.

Oração do Bom Humor de São Tomás More

“Senhor, dai-me uma boa digestão,

mas também algo para digerir.

Concede-me a saúde do corpo,

com o bom humor necessário para mantê-la.

Dai-me, Senhor, uma alma simples,

que saiba aproveitar tudo o que é bom e puro,

para que não se assuste diante do pecado,

mas encontre o modo de colocar de novo as coisas em ordem.

Concede-me uma alma que não conheça o tédio,

as murmurações, suspiros e lamentos,

e não permitais que eu sofra excessivamente

por esse ser tão dominante que chama “Eu”.

Dai-me, Senhor, senso de humor!

Concede-me a graça de compreender as piadas,

para que conheça na vida um pouco de alegria

e possa comunicá-la aos demais.

Amém.”

“O Papa Sorriu”: Humor e Fé em Exposição

O sorriso de Francisco inspirou artistas no mundo inteiro. E foi exatamente esse sorriso que se transformou em tema da exposição “O Papa Sorriu”, realizada em 2014 pelo Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) e pela Associação dos Cartunistas do Brasil.

Comemorando o primeiro ano de pontificado, a mostra exibiu dezenas de caricaturas criadas por cartunistas brasileiros e estrangeiros. Todas foram reunidas em um livro entregue ao Papa Francisco pelo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.

Hoje, a exposição permanece viva na internet. Recomendo fortemente que os leitores acessem a versão virtual da mostra no sítio oficial do MAS:

https://museuartesacra.org.br/cartunistas-em-homenagem-ao-papa-francisco

Além disso, é possível ver o acervo completo das caricaturas digitalizadas, enviadas ao Papa, no arquivo que elaborei e que está no seguinte sítio:

https://drive.google.com/file/d/1HR2ooEwAzZTvtT9Zb–5sB8Me8RJ9Nnm/view?usp=drivesdk

Um Convite à Alegria

A morte do Papa Francisco marca o fim de uma era e o início de uma reflexão profunda.

Francisco nos deixa um testamento espiritual simples e poderoso: manter a fé, buscar a justiça e não perder a alegria. Seu rosto sempre aberto em sorriso, sua leveza diante do peso do mundo, seu afeto pelos pobres e seu amor pela simplicidade do Evangelho são marcas indeléveis.

Ele partiu, mas seu bom humor permanece conosco — e talvez seja essa a mais inesperada das beatitudes: “Bem-aventurados os que riem, porque serão consolados.”

A frase “Bem-aventurados os que riem, porque serão consolados” é uma releitura simbólica da bem-aventurança evangélica “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.

Em vez de negar o valor do sofrimento, ela destaca que o bom humor também pode ser uma forma profunda de fé e resistência. Rir diante das dificuldades — como fizeram São Tomás More, mesmo na prisão, e o Papa Francisco, diante dos desafios da Igreja — é um ato de coragem espiritual. O riso, nesse contexto, não é fuga da dor, mas uma resposta serena, um gesto de confiança em Deus e uma maneira de manter a dignidade mesmo nos momentos mais sombrios. Também os que riem — com humildade, leveza e fé — serão consolados.

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