Um levantamento inédito realizado pelos Cartórios de Registro Civil do país revela que mais de 3,4 mil crianças e adolescentes de até 17 anos perdem pelo menos um dos pais por ano no estado do Rio de Janeiro. O estudo, que abrange o período de 2021 a 2024, mostra que a pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo nesse número.
Em 2021, a Covid-19 foi responsável por ao menos um quarto das crianças que ficaram órfãs no estado, totalizando 674 casos. “Foi possível chegar a este número graças ao CPF, utilizando-o como número identificador único”, explica Stênio Cavalcanti filho, presidente da Anoreg/RJ. A partir de 2021, tornou-se obrigatória a inclusão do CPF dos pais no registro de nascimento, o que permitiu o cruzamento de dados com os registros de óbitos.
Aumento da orfandade após a pandemia
Os dados consolidados pela Anoreg-RJ, via ON-RCPN, mostram um aumento no número de órfãos após 2021. Enquanto em 2021 foram registradas 3.064 crianças que perderam pelo menos um dos pais, em 2022 o número foi de 3.060, subindo para 3.762 em 2023. Até outubro de 2024, já foram contabilizadas 3.770 crianças órfãs, superando o recorde do ano anterior.
O levantamento também revela que o número de crianças que perderam ambos os pais aumentou. Em 2021 foram 47 casos, passando para 59 em 2022, 68 em 2023 e 62 até outubro de 2024.
“Trata-se de dados vitais para a elaboração de políticas públicas no país, inclusive para que os Governos possam se planejar para atender esta grande demanda de orfandade em nosso país”, afirma Gustavo Renato Fiscarelli, presidente da Arpen-Brasil.
Covid-19 e doenças relacionadas
O estudo aponta que a Covid-19 deixou 934 crianças órfãs de pelo menos um dos pais no Rio de Janeiro desde 2019. Considerando doenças relacionadas ao coronavírus, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), Insuficiência Respiratória e Causas Indeterminadas, o número pode chegar a 1.632 crianças.
Além disso, pelo menos 14 crianças perderam ambos os pais em decorrência da Covid-19. Considerando óbitos por doenças relacionadas à Covid-19, esse número pode chegar a 33.
O levantamento também indica um aumento no número de órfãos devido ao falecimento dos pais por doenças como infarto, AVC, sepse e pneumonia, que podem ter sido agravadas pela pandemia.