Para um Brasil melhor: Mais importa previdência ou cor de roupa?

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Muito mais importante do que a cor da roupa de menina ou de menino é a idade da aposentadoria de homens e mulheres. Contudo, enquanto detalhes da reforma da previdência são debatidos, as redes sociais são inundadas pela rasa discussão acerca de declarações da nova ministra Damares Alves. O debate público tem perdido qualidade e as redes sociais servem às vezes como causa e às vezes como mero veículo da superficialidade característica desse momento. O caso do azul ou rosa é apenas mais um exemplo.

As novas tecnologias permitem hoje uma multiplicidade de comentários nunca antes vista. A democratização do acesso à informação é altamente positivo e conscientizador. Da mesma forma, é muito bom que surjam novos meios e novas vozes. Este que aqui escreve, por exemplo, não estaria se comunicando com vocês sem essa nova realidade..

Ocorre que seriam aconselháveis ao menos duas precauções: um mínimo apego aos fatos e um mínimo conhecimento da área sobre a qual se opina. Quando todos são especialistas em tudo e em nada ao mesmo tempo e quando dizemos que as fake news que reproduzem o que pensamos são verdades e que as verdades que desmontam o que acreditamos são fake news, a opinião pode virar ilação, a variedade de canais de informação pode virar caos, os fatos podem ser secundários e o conhecimento pode ser descartável.

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Neste cenário, vale questionar: se uma opinião não é baseada nos fatos, mas no que se queria que fossem fatos, se a crítica não é baseada nos atos, mas na afinidade com o interlocutor, se os comentaristas não sabem nada sobre o assunto que estão comentando, para onde estamos indo?

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Trago aqui um exemplo: minha última coluna para este Diário do Rio foi sobre a intervenção federal. Comentei que, embora não tenha sido perfeita, ela trouxe grande melhora nos índices e deixou caminhos para o futuro. Pois bem. Muitos leitores que opinaram sobre o texto se concentraram em 4 grupos:

  • os que desconfiam dos índices pois são contra a intervenção (a verdade é fake news se eu não gostar dela)
  • os que dizem que a intervenção só seria boa se melhorasse a segurança na rua onde moram (um egoísmo enorme misturado com o desconhecimento de que o micro é afetado pelo macro diariamente)
  • os que afirmam que a intervenção deveria ser pra sempre por serem a favor do militarismo (apoiando a intervenção mesmo que os números fossem negativos e desconsiderando a responsabilidade legal do estado do Rio de Janeiro sobre a segurança por uma preferência ideológica)
  • os que alegam que a intervenção foi um complô político para ajudar mandatários e proteger elites (mesmo não havendo qualquer evidência que suporte a tese).

Ou seja: para alguns algo é positivo ou negativo antes mesmo dos resultados, para outros algo é definido pelo que leu no WhatsApp independente dos fatos e ainda há os que sabem de verdades superiores que só uma grande teoria da conspiração pode iluminar e os que acham que algo só é bom se for bom pra si. Para completar, discordar de qualquer um destes trará respostas intransigentes e algumas vezes raivosas, que reiteram as fakes, atacam os fatos e buscam desqualificar imediatamente a pessoa do interlocutor.

Será que é assim que chegaremos a um Brasil melhor? Não se trata aqui de defender o intelectualismo ou desprestigiar a nova realidade onde todos podem opinar. Ao contrário. Defendo que nesse novo cenário todos opinem, debatam e critiquem. Mas se isso for feito com apego aos fatos, dados concretos básicos sobre os temas, boa vontade e bom senso, esse debate público moderno poderá aproveitar as fontes inesgotáveis de informação, produzir conhecimento, identificar e corrigir falhas e gerar avanço para o Brasil. Se a lógica for apenas usar os pontos de encontro virtuais como ringues de luta mais confortáveis e meios mais baratos de propagação de mentiras úteis, teremos um 2019 onde novamente haverá clima chato no Natal das famílias por conta das brigas que só desperdiçaram tempo, dinheiro e neurônios. Continuaremos podendo comprar a roupa da cor que quisermos para as nossas crianças, seja como for o debate. Já a previdência poderia ter contornos distintos se a discussão sobre ela fosse mais popular. 

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