Paulo Ganime – Inflação: BR do Mar pode combater alta nos preços

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre as oscilações de preços das mercadorias

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Foto: Reprodução Internet

Já virou rotina na vida do consumidor brasileiro chegar ao supermercado e se deparar com grandes oscilações de preços das mercadorias. Uma semana é porque choveu muito em determinada região e as estradas ficaram intransitáveis; outra por conta do reajuste dos combustíveis. Houve até uma greve nacional de caminhoneiros que paralisou o país durante 10 dias em 2018 afetando os preços dos gêneros alimentícios. Tudo é motivo para encarecer os produtos nas prateleiras.

E isso acontece porque a economia nacional é altamente dependente do sistema rodoviário para o escoamento dos seus mais variados tipos de cargas. Estima-se que o setor responde por 65% de tudo que é transportado no país, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Esse cenário deixa o país mais vulnerável à alta dos preços dos combustíveis e às péssimas condições da malha viária, que provocam acidentes, atrasam o deslocamento e aumentam em 27% os gastos com manutenção de caminhões.

Recentemente, foram sancionadas a lei 14.273/21 (Marco Legal das Ferrovias), que permite a iniciativa privada explorar e construir ferrovias sem precisar enfrentar as terríveis burocracias; e a lei 14.301/22 (BR do Mar), que flexibiliza as regras para o transporte de cargas por embarcações estrangeiras na nossa costa. Essas duas iniciativas prometem fazer uma grande transformação no transporte de cargas no país, permitindo maior equilíbrio entre os diferentes modais. E o tamanho desse impacto pode ser medido pelos custos logísticos que representam 12% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em outro artigo, no ano passado, escrevi sobre o Marco Legal das Ferrovias (https://bityli.com/UjugY) e hoje quero abordar o tema da BR do Mar, que vai abrir uma nova rota marítima para escoamento de cargas. No Brasil, a cabotagem ­ –  transporte de cargas entre os portos brasileiros – responde por apenas 11% da carga total em território nacional. Isso num país com mais de 8 mil km de litoral. Antes restrita à operação por empresas brasileiras com navios próprios, a cabotagem abre agora para navios estrangeiros. A projeção não poderia ser melhor: o volume de cargas brasileiras transportadas por vias marítimas pode chegar a 30%.

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A nova lei de cabotagem promete trazer muitos benefícios, como a redução do custo do transporte, produtos mais baratos, menor custo Brasil, mais competitividade, aumento da produtividade e menor impacto ambiental. E os números dão a dimensão da importância do transporte marítimo. Segundo o BNDES, o custo médio de transporte de carga por tonelada é  4,5 vezes mais barato via cabotagem do que pelas rodovias, levando-se em consideração uma distância de mil quilômetros. No caso do meio ambiente, o ganho é com a redução da emissão de gás carbônico, que chega a ser cinco vezes menor via cabotagem.

No estado do Rio de Janeiro, as vantagens podem ser ainda maiores com a geração de emprego e renda. A costa fluminense tem 636 km de extensão (8,6% do total brasileiro) e conta com 27% de seus municípios voltados para o mar, com uma população de aproximadamente 11 milhões de pessoas (67% da população do Rio). Aqui temos dois portos – Rio e Itaguaí – entre os 10 maiores portos públicos em movimentação de cargas no país (2021). E tem tudo para aumentar ainda mais esse volume. Ou seja, temos um grande potencial para o desenvolvimento da economia do mar, que pode gerar muitos negócios e oportunidades. 

O setor de óleo e gás será um dos mais beneficiados com a nova lei. Um estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) aponta que até 2030 devem entrar em operação 57 unidades de exploração e produção de petróleo e gás. E, com o aumento da produção offshore, será necessária a construção de mais embarcações de apoio, que poderão ser encomendadas aos nossos estaleiros. Afinal, o estado do Rio concentra 55% dos estaleiros brasileiros.

Chegou a hora de o Brasil corrigir um erro histórico e seguir na mesma direção dos países desenvolvidos, que privilegiam o transporte marítimo com 80% das cargas movimentadas mundialmente por esse modal. É inadmissível que as rodovias, num país de tamanho continental com mais de 8,5 milhões de km², sejam o principal meio de transporte para levar sua safra e diversos outros produtos às mais distantes regiões do país. Sem dúvida, com a BR do Mar (e também com o Marco Legal das Ferrovias) teremos num futuro não muito distante um mercado mais pujante e eficiente, capaz de oferecer aos brasileiros preços mais justos e produtos mais baratos.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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