Paulo Ganime: O conflito entre Rússia e Ucrânia vai impactar sua vida

Para Paulo Ganime, nem o Brasil, que está a mais de 10 mil quilômetros de distância, está livre dos efeitos dessa grave crise

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Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

É impossível a gente não se abalar com as cenas de horror provocadas pela invasão da Ucrânia por tropas russas. Desde a semana passada, estamos assistindo o desespero de milhares de refugiados da guerra tentando cruzar as fronteiras, mísseis atingindo prédios residenciais, o massacre de civis inocentes e a destruição do país do leste europeu. Um conflito que apavora toda a humanidade, não apenas por esses trágicos eventos, mas também pelo drástico impacto que começa a produzir na economia global.

Nem o Brasil, que está a mais de 10 mil quilômetros de distância, está livre dos efeitos dessa grave crise. Infelizmente, nós, brasileiros, devemos sentir no bolso o aumento dos preços dos combustíveis, da carne, do pão e dos produtos agrícolas, principalmente.

As primeiras consequências econômicas do conflito já podem ser sentidas com o aumento do preço internacional do petróleo para US$ 110 o barril, o maior nível desde 2014. A Petrobras, que nos últimos dias vinha conseguindo segurar os preços dos combustíveis por conta da valorização do real frente ao dólar, pode se ver obrigada a anunciar novos reajustes – o último foi em 12 de janeiro.

E num país em que a economia é altamente dependente do transporte rodoviário, com 65% de cargas transportadas por rodovias, já dá para dimensionar o tamanho do estrago. A guerra ainda deve atrapalhar os planos do governo de tentar estabilizar os preços dos combustíveis, uma queixa frequente dos brasileiros.

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Os efeitos imediatos do conflito também podem ser constatados pela queda nas bolsas de valores no mundo e pelo aumento do dólar. No caso do Brasil, a desvalorização do real ainda não foi sentida porque a moeda americana sofreu uma queda de quase 10% no início deste ano. Porém, se o conflito se estender por mais tempo, a situação pode piorar. Em momentos de tensão e imprevisibilidade, os investidores tendem a buscar opções mais seguras e acabam evitando mercados emergentes, como o brasileiro. Esse movimento tem impacto no câmbio, desvalorizando o real.

A agricultura brasileira pode ser um dos setores mais afetados. Somos grandes produtores agrícolas, mas ainda temos uma forte dependência de outros países para aumentar a produtividade do solo com o uso de fertilizantes. Isso deixa o agronegócio muito suscetível a crises internacionais. Importamos cerca de 85% dos fertilizantes e a Rússia é a nossa principal fornecedora, respondendo por 23% das importações. Com as sanções econômicas impostas aos russos, a oferta deve diminuir e, por consequência, o preço deve aumentar, elevando o custo da nossa produção. E num momento em que a população já sofre com o alto preço dos alimentos.

Outra preocupação recai sobre o mercado de grãos, uma vez que a Ucrânia é o 3º maior exportador de milho no mundo e o 4º de trigo. Já a Rússia está na 1ª posição na exportação de trigo. Nesse caso estamos falando do nosso tradicional pãozinho francês, aquele que não pode faltar no café da manhã do brasileiro. No caso do milho, que é o principal alimento da dieta das aves e do gado, o aumento do preço deve impactar os preços da carne, do leite e de derivados.

Como num efeito cascata, a alta de preços do petróleo e de diversos produtos vai impactar a inflação, dificultando ainda mais as perspectivas de retomada de crescimento da economia nacional e afetando o poder de compra da população, já agravado pela pandemia. E isso acontece quando o país registra mais de 10% de inflação ao ano. E tem ainda a possibilidade de aumento de juros. Para conter o aumento da inflação, o Banco Central pode recorrer à elevação da taxa de juros – que em 2022 já voltou a superar a casa dos dois dígitos – e, assim, desacelerar a economia.

A guerra é terrível e injustificável. A crise humanitária – já são mais de um milhão de refugiados – e os graves desdobramentos econômicos vão impactar o mundo inteiro por muitos anos, mesmo os países mais distantes da zona de conflito. Esperamos que a Rússia e a Ucrânia cheguem finalmente a um acordo de cessar-fogo para poupar vidas de inocentes e evitar uma crise econômica de proporção mundial capaz de levar à pobreza e à fome. Conflitos devem ser resolvidos com diplomacia e não por meio da força.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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