Polícia do Rio atua mais em áreas dominadas pelo tráfico do que pela milícia

Estudo da UFF e da UFRJ aponta que, mesmo com a milícia dominando mais de 50% do território na cidade, operações policiais acontecem em maior número em comunidades dominadas pelo tráfico

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Policial militar participa de operação em favela na zona sul do Rio de Janeiro (Foto: José Lucena)

Mesmo com milicianos tendo controle de 57% da área da Capital Fluminense, as operações policiais na cidade são bem mais frequentes nos territórios dominados por traficantes do que nas regiões comandadas pela milícia.

O levantamento faz parte de em um relatório parcial do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), e do Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ).

O estudo aponta o valor percentual das operações policiais segundo o tipo de grupo armado predominante em em cada bairro.

Segundo o estudo, 48% das operações da polícia na cidade são realizadas em áreas do tráfico, e apenas 6,5% em regiões de milícia. 45,5% da atuação das forças de segurança se dá em territórios disputados por ambos os grupos criminosos.

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Em números absolutos, o Geni analisou um total de 569 operações em 2019:

  • 259 operações (45,5%): área “em disputa” (inclui disputa entre traficantes, milícias ou os dois)
  • 233 operações (40,9%): área do Comando Vermelho (tráfico)
  • 39 operações (6,9%): área do Terceiro Comando Puro (tráfico)
  • 37 operações (6,5%): área de milícia
  • 1 operação (0,2%): área do Amigos dos Amigos (tráfico)

Os pesquisadores do Geni identificaram que em bairros na Zona Oeste onde quem manda é a milícia houve menos operações policiais. É o caso de Guaratiba, Barra da Tijuca e Campo Grande. Os dados foram obtidos após o cruzamento de mapas localizando os domínios de grupos armados com a base de dados sobre operações.

Por outro lado, em Bangu, também na Zona Oeste, Méier e Pavuna, na Zona Norte, o cruzamento das informações mostrou que houve mais ações da polícia. Nesses bairros, segundo a pesquisa, “há porções territoriais em disputa e importante presença de ‘comandos’ do tráfico de drogas“.

Áreas sob domínio do CV tem 6 vezes mais operações que as de milícias

De acordo com os dados, no ano passado o número de operações em áreas sob domínio do Comando Vermelho foi seis vezes maior do que a quantidade de ações em territórios controlados por milicianos.

O gráfico também mostra que o percentual de ações policiais em regiões chefiadas por bandidos do Terceiro Comando Puro equivale ao de combate a grupos milicianos. E em áreas comandadas por traficantes da facção Amigo dos Amigos houve 0,2% das operações policiais.

O estudo sustenta, ainda, que a maioria das incursões da polícia ocorre em áreas sinalizadas pelos pesquisadores como “em disputa” pelos criminosos.

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Mapa detalha controle de grupos armados no Rio de Janeiro — Foto: Disque-Denúncia (Elaboração Fogo Cruzado, GENI-UFF, NEV-USP, Pista News)

Favorecimento de grupos armados

Os pesquisadores do Geni também oferecem uma explicação para o resultado do levantamento. Segundo a análise, o favorecimento de grupos milicianos pode ter relação com a “ativa participação de agentes públicos“, sejam eles policiais civis, militares, parlamentares e outros.

O relatório refuta a versão de que as operações são, de fato, efetivas no combate ao crime. Para os pesquisadores, o resultado do estudo serve de alerta para o “uso das operações policiais como um instrumento de favorecimento de alguns grupos armados em relação aos seus rivais“.

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3 COMENTÁRIOS

  1. Novidade…
    As operações realizadas nas áreas disputadas por milicianos e traficantes (45,5%) só são feitas para asfixiar o último grupo e expandir o domínio do primeiro.

    Basta os estudiosos expandir o estudo e fazer uma análise histórica, para certificarem isso. Anotem aí.

    Falo isso porque a área do território da capital fluminense dominada hoje pelas milícias (57%) era, antes, do tráfico.

    Fazer regredir isso, infelizmente, somente passando o crime de formação de grupos armados de milícia para a competência de invergar, processar e julgar para o âmbito federal – isso enquanto é tempo.

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