Por um legado olímpico alternativo e sustentável

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Campo de GOlfe

No rastro do caminho enveredado pelo Rio desde o começo do século passado, admirado e imitado no inicio deste novo século, o das grandes intervenções urbanas, é preciso alertar para que alguns erros não se repitam: um dos maiores é a tendência de se planejar e executar obras sem atentar quanto à sua sustentabilidade posterior, o que faz com que na história recente da cidade, tenhamos produzidos alguns “elefantes brancos” em potencial.

Já não bastasse a “Cidade da Música”, a atual Cidade das Artes ter consumido quase 0,6 bilhão de reais ao Tesouro Carioca, gerando um custo de manutenção anual caro, que em 2008 já era orçado em R$ 7 milhões/ano, nossa população não entende os gastos se sucedem como se não houvesse o amanhã, como agora ocorreu com o Maracanã. Após gastos elevados para um arrojado projeto de modernização, que definitivamente elitizou sua audiência, seus atuais gestores (Complexo Maracanã) reclamam um prejuízo operacional de 48 milhões de reais em 2013, e de pouco mais de R$ 77 milhões, em 2014.

Concessão do Maracanã não cobrirá 18% do total investido nas últimas três obras

Maracanã

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O custo anual apenas para manutenção do estádio supera os R$ 10 milhões, mas a despesa chega a ser multiplicada por oito quando se incluem os gastos com serviços de segurança, equipamentos, água, luz e outros serviços.

É por isso que o governo do Rio de Janeiro não cogita receber de volta a administração do Maracanã. O Estado passa por grave crise financeira e tem atrasado repasses em áreas essenciais, como educação e saúde, e o pagamento de funcionários e fornecedores. Certamente, o projeto executado para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo desprezou sua sustentabilidade superior, vez que nossos campeonatos de futebol não tem a rentabilidade das competições europeias, como se sabe.

A coisa fica mais grave ao se verificar que a concessão do Maracanã não cobrirá 18% do total investido nas últimas três obras realizadas no estádio, segundo estudo feito pelo portal de noticias UOL: De acordo com a notícia, nos últimos 13 anos, o estádio passou por três grandes reformas, que custaram cerca de R$ 1,279 bilhão.

A primeira foi em 1999, que preparou o Maracanã para receber Mundial de Clubes da FIFA. Na ocasião, foram alocados R$ 106 milhões para a reforma; Entre 2005 e 2006, o estádio passou por outro período de obras, que custaram R$ 304 milhões. Essa reforma visava a modernização do Maracanã para o Pan-Americano; Já as obras para a Copa foram iniciadas em 2010 e ainda estão em execução. Elas já consumiram R$ 869 milhões.

A privatização do Maracanã e do entorno renderá ao Estado do Rio de Janeiro R$ 231 milhões em 35 anos, prazo da concessão. Serão 33 parcelas anuais, de R$ 7 milhões cada, uma vez que a concessionária vencedora teve dois anos de carência para efetuar os pagamentos; esse valor representa 25,6% do que foi comprometido com as obras para a Copa de 2014; e 18% do total investido nas três últimas reformas.

Outro exemplo do que falamos foi o do Parque Aquático Maria Lenk, parte do legado dos Jogos Pan Americanos em 2007, e que custou 85 milhões de reais na época, e teve de se submeter a uma reforma estrutural após 2014, para as Olimpíadas. Seu custo de manutenção passa dos 300 mil reais mensais. Ora, até que ponto a cidade aguenta novos equipamentos com alto custo de construção e manutenção?

O Investimento em transportes e na malha viária não pode somente seguir a lógica de servir aos eventos

BRT

Alem dos equipamentos esportivos, temos que comentar também sobre as intervenções viárias, e de mobilidade que inevitavelmente tem de ser planejadas e implementadas na Cidade.

O Investimento em transportes e na malha viária não pode somente seguir a lógica de servir aos eventos, mas deve servir a um propósito maior, que obviamente é o de criar uma mobilidade urbana sistêmica; as intervenções, com recursos em alto montante, cada vez mais escassos em época de crise financeira e econômica como essa, tem de ser direcionadas mais amplamente, e não apenas para servir a operacionalidade dos eventos, e sim da Cidade como um todo. Tal distorção, em concentrar o reforço das ligações entre zona sul e barra, tem nítido desenho de exclusão, como a teimosia em excluir boa parte da zona oeste e da região da Leopoldina como alvo de investimentos em corredores viários e transporte de massa.

As intervenções tem de procurar manter a cidade integrada, permeável e acessível, e não criar novas barreiras ou distâncias sociais, com a mobilidade restrita ou mais custosa. Uma economia urbana forte se faz, sobretudo, com acessos rápidos, facilitados, de pessoas e mercadorias, e não apenas pela preocupação estética, ou algum plano que não procure atender toda a cidade, sistemicamente planejada.

O legado não tem de ser, necessariamente, o “olímpico”, ou “pós-olímpico”, nem somente o aumento da rede hoteleira, e o inegável influxo de recursos no setor do turismo, mas o conjunto de intervenções, obras e equipamentos tem de servir à lógica da Cidade, como um todo, sob pena de criarmos outras “cidades partidas”. Não é esse o Legado que queremos.

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