A diretoria do Fluminense estuda a possibilidade de transformar o futebol do clube em SAF, algo recorrente no cenário esportivo brasileiro recente. No entanto, alguns conselheiros e sócios tricolores têm reclamado de falta de transparência em relação ao assunto.
De acordo com o jornalista Diogo Dantas, do site ”O Globo”, a negociação, liderada pelo presidente do clube, Mário Bittencourt, junto ao banco BTG Pactual para a chegada de um investidor financeiro tem causado incômodo interno. Isso porque somente o próprio mandatário; o VP geral, Mattheus Montenegro; o VP de finanças, Paulo Henrique Figueira Todaro; o diretor Ronaldo França; e alguns conselheiros mais próximos estão por dentro dos detalhes.
Em 2022, o Vasco transformou seu futebol em SAF, vendendo 70% de suas ações à empresa 777 Partners, dos Estados Unidos, por R$ 700 milhões. O processo, porém, foi bastante criticado, por ser considerado ”nebuloso”, isto é, sem que os sócios tivessem pleno conhecimento da proposta norte-americana.
É justamente isso que os sócios tricolores não querem que aconteça no Fluminense, priorizando um modelo similar ao do Botafogo (John Textor) e ao do Bahia (Grupo City) – este, inclusive, já citado por Bittencourt como exemplo a ser seguido -, com total transparência e diálogo entre diretoria e quadro social a respeito de valores e informações sobre investidores.
Outro ponto criticado em relação à possível SAF tricolor é o fato de Mário Bittencourt vir a ser o CEO. Embora isso não seja ilegal, é considerado imoral dentro do clube. Vale lembrar que ele não pode ser novamente candidato à presidência, uma vez que está em seu segundo mandato consecutivo.
Horta critica
Pré-candidato à presidência do Fluminense, André Horta corrobora com as críticas direcionadas à atual diretoria. Em contato exclusivo com o DIÁRIO DO RIO, André, que é filho de Francisco Horta, presidente do clube entre 1975 e 1977, responsável por montar o histórico time conhecido como ”A Máquina Tricolor”, afirma que é uma opinião uníssona entre os associados a necessidade de haver mais transparência por parte dos dirigentes em relação ao processo.
”Sobre a SAF, sou a favor de discutir o assunto, acho que é futuro do Fluminense e de muitos clubes. Mas a forma como vem sendo feito eu discordo totalmente, não existe transparência. De vez em quando, algumas notícias são vazadas e, em poucas vezes, a diretoria fala sobre. ‘BTG está tentando investidores e em breve vamos debater com os sócios’. Não pode ser dessa forma”, diz ele.
”Botafogo e Bahia conversaram com seus sócios, o Vasco não. Meu medo é ser uma 777 no Fluminense. Isso será um problema enorme”, complementa.
Horta também critica o papel dos conselhos Deliberativo e Fiscal dentro do clube e afirma que, por ora, com as informações que possui, não é a favor da SAF.
“Quando se fala em Conselho Deliberativo ou Fiscal no Fluminense é a mesma coisa que nada. Até porque, não protegem o clube. Aprovam camisas e assinam cheques em branco. Quem decide a SAF é a Assembleia Geral. Mas, como vamos aprovar ou não se não sabemos de nada? Eu, como sócio proprietário, não aprovo essa SAF, pois não sei do que se trata”, diz.
Paralelamente, o pré-candidato endossa o coro contra a possível ida de Mário Bittencourt para o cargo de CEO da SAF. Segundo ele, isso seria um absurdo.
“A questão do atual presidente, Mário Bittencourt, ser o CEO, é absurda. Não é ilegal, mas é imoral. Não é especialista na área. Por que quer ocupar esse cargo? Quem são os investidores? Qual a empresa? Quantos anos ela têm no mercado? Quanto tem de capital? São assuntos que devem ser debatidos. Isso é importante demais para ser tratado assim. Nem o estatuto está preparado para isso. Vai vender o Fluminense e de qualquer jeito? Não, isso não vamos permitir. Tenho certeza que o torcedor quer transparência. Isso falta a essa gestão”, criticou, fazendo uma comparação com a situação do Consórcio Maracanã.
“Não pode ser como na Assembleia Geral convocada para decidir o consórcio Maracanã. Foi apenas no sim ou não. Ninguém sabia o conteúdo. Tanto que menos de mil pessoas foram votar. E, o pior, foi em dia de semana, impossibilitando muitos sócios a votarem. O Fluminense tem muitas prioridades. Inclusive a questão financeira, onde a dívida é astronômica”, afirmou.
“Eu, como pré-candidato à presidência do Fluminense, vou sempre tentar o debate, tendo ou não união da oposição. Vamos em frente, para fazer o melhor pelo Fluminense”, concluiu André Horta.