Praias do Rio registram o aumento de cavalos-marinhos em suas águas

A captura dos peixinhos para o aquarismo, aliada a poluição das águas das praias cariocas quase resultaram na extinção dessas delicadas e fascinantes criaturas

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Cavalos-marinhos grávidos - Reprodução / Foto meramente ilustrativa

Criado em 2002, o Projeto Cavalos-Marinhos do Rio de Janeiro, resulta de uma parceria entre a Universidade Santa Úrsula e outras instituições de estudos marinhos, como o Instituto Mar Urbano. Em seus quase 20 anos de existência, o projeto que também conta com a participação de pescadores, registrou o quase desaparecimento desses peixes no litoral carioca. Hoje, no entanto, a equipe de pesquisadores observa um movimento alentador: a população desses peixes vem crescendo, inclusive em locais improváveis, como as poluídas baías de Guanabara e de Sepetiba. O projeto monitora a vida desses pequenos peixes na praia de Urca, na Ilha Grande, em Arraial do Cabo e Búzios, além da sua presença nos costões cariocas, como o do Arpoador e o do Leblon.

Segundo os estudiosos, os cavalinhos-marinhos, com seus tons em amarelo, laranja, branco, rosa, vermelho e marrom, são considerados como bioindicadores de qualidade ambiental, dada a sua sensibilidade ao bem estar do ecossistema no qual estão inseridos. A sua multiplicação, portanto, revela que a qualidade das nossas águas está melhorando.

Em entrevista ao jornal O Globo, a coordenadora doCavalos-Marinhos do Rio de Janeiro, a bióloga Natalie Freret-Meurer, afirmou que, em 2015, na Baía de Guanabara, a média era de dois cavalos-marinhos a cada 400 metros quadrados. Três anos depois, os pesquisadores verificaram oito peixes por 400 metros quadrados. O ano de 2021 foi mais alentador ainda para a sobrevivência da espécie, pois foram registrados 13 cavalinhos na mesma área.

Um dos maiores desafios, segundo destacou Freret-Meurer ao O Globo, é educar a população para que ela não capture os peixes para cria-los em cativeiro. Segundo ela, a poluição atrelada ao aquarismo quase colocaram os coloridos e delicados peixinhos em risco de extinção. Porém, desde 2014, através da Portaria 445 emitida pelo Ibama, foi proibida a captura, transporte, armazenamento, guarda e manejo desses animais. A medida resultou no aumento da população de cavalos-marinhos, segundo a estudiosa.

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Cavalo-marinho: um animal sui generis

Com a cabeça que lembra a de um cavalo, o peixinho possui ainda uma cauda preênsil utilizada para se agarrar a algas e corais de forma semelhante aos macacos. Apesar da fragilidade e da delicadeza, o cavalinho é um predador de topo da cadeia que se alimenta da microfauna marinha.

Ainda que não tenha dentes, ele é carnívoro. Seu bico exerce a função de um aspirado de pó, através do qual larvas de peixes e crustáceos pequeníssimos são devorados por ele. Embora sejam diminutos –  o cavalos-marinhos do Rio medem entre 12cm e 21 cm –  eles são grandes aliados do bem estar ambiental ao impedir que algas e o fitoplâncton dos quais depende o equilíbrio dos mares, sejam devorados.

Peixe romântico

Segundo Natalie Freret-Meurer, o ritual de acasalamento dos cavalos-marinhos pode durar até dias, com direito a mudança de cor e nado em sincronia. “O namoro deles é a coisa mais linda. Mudam de cor, machos e fêmeas ficam brancos na lateral para demonstrar o interesse mútuo. E dançam juntos, em sincronia de movimentos e ritmo”, disse a pesquisadora ao jornal. Ela observou ainda como é processo de fecundação e gestação dos futuros cavalinhos. Apesar da sedução intensa, ela é breve e dá lugar a um grande senso de praticidade por parte da fêmea que introduz seus óvulos na bolsa de gestação — uma espécie de útero — do macho. Depois disso, cada um vai para um lado.

Danca dos cavalos marinho Praias do Rio registram o aumento de cavalos-marinhos em suas águas

No mundo dos cavalos-marinhos, o macho fica grávido e passa 15 dias nesta condição. Findado o tempo, ele entra em trabalho de parto, dando à luz a aproximadamente 600 e 700 filhotes, que nascem com alguns poucos milímetros. Em um dos laboratórios da Universidade Santa, onde os pesquisadores do projeto estudam o comportamento e formas de evitar a extinção dos cavalos-marinhos, um macho já pôs no mundo mais de 1.800 filhotes.

Em todo mundo existem 46 espécies desses peixes – 3 delas estão Brasil -, sendo que as espécies Hippocampus reidi, e a bem mais rara Hippocampus patagonicus vivem no litoral do estado do Rio. Freret-Meurer destacou que a última espécie foi encontrada apenas 2 vezes. Uma delas, na entrada da Baía de Guanabara, a 30 metros de profundidade. A outra foi na poluída Baía de Sepetiba e a apenas 1,5 metro de profundidade. Ainda assim, a pesquisadora salientou que a surpresa maior for ter encontrado a espécie na Lagoa de Araruama, pois as suas águas são uma vez e meia mais salgadas do que o mar, sendo que os cavalinhos não se parecem com peixes num ambiente de água hipersalina. Na Lagoa de Araruama, os cavalinhos podem ser encontrados em águas rasas e até mesmo em poças na areia molhada.

A bióloga Amanda Vaccani, também integrante do Projeto Cavalos-Marinhos do Rio de Janeiro, destacou ao O Globo que a população de cavalos-marinhos presente na Lagoa de Araruama é muito diferente de tudo o que se sabe sobre cavalos-marinhos no mundo. Para os cientistas, os peixinhos do Rio de Janeiro acabaram se adaptando aos ambientes hostis onde viviam, o que os levou a apresentar padrões de cores, tamanho e hábitos diferentes. “Os cavalos-marinhos do Rio são um desafio, vivem perigosamente e precisam de proteção”, finalizou a bióloga.

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