‘Precisamos que as pessoas nos ajudem a tomar conta da cidade’, diz Anna Laura Secco, secretária de Conservação do Rio

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO, líder da pasta detalhou as ações feitas durante sua gestão e pontuou que a população precisa colaborar com a conservação dos bens públicos

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Anna Laura Secco, Secretária de Conservação do Rio de Janeiro (Foto: Carla Montenegro/Seconserva)

O Chafariz da Praça Saens Peña, um dos ícones do bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio, foi reinaugurado no último mês de dezembro, quatro anos após ficar fechado devido a atos de vandalismo. Menos de uma semana depois do retorno triunfal do equipamento, ele voltou a ser depredado e precisou passar por um novo reparo. Esse é um dos desafios enfrentados pela secretaria de Conservação do Rio de Janeiro, no trabalho de preservação e manutenção da infraestrutura urbana da cidade.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO, a secretária de Conservação, Anna Laura Secco, aborda essa e outras questões, como a depredação de monumentos na cidade, problemas com furto de bueiros, revitalização de ícones do Rio, como os Arcos da Lapa e o futuro das políticas de conservação para o Rio de Janeiro.

Confira:

DRR: Como a nova administração da Conservação encontrou a cidade depois da gestão Crivella?

  • – Não gosto muito de falar de administrações passadas, aqui preferimos olhar sempre pra frente, mas a cidade estava carcomida. São problemas enormes que a cidade tem. Mas em nenhum momento a gente ficou chorando as mágoas, arregaçamos as mangas, calçamos nossas botas e fomos para a rua trabalhar.
  • DDR: No que esse período pandêmico tem atrapalhado o trabalho da Conservação?
  • No ano passado a gente teve períodos muito difíceis. A gente teve duas mortes aqui no prédio (onde funciona a sede da Secretaria, na região central do Rio). Nesse período difícil, nós evitamos pessoas de fora, fizemos sempre rodízio e tivemos muito cuidado com o nosso pessoal que atua nas ruas. A conservação não para, é um órgão que não pode parar. Também obrigamos todo mundo a tomar a vacina, mas nem foi preciso, pois todos quiseram tomar.
  • DDR: Quais as áreas da cidade demandam mais cuidados?
  • Cada uma tem a sua particularidade. Na Zona Sul, nós temos muitos problemas de calçada, de asfalto, buracos nas vias. As Zonas Oeste e Norte, são regiões mais pobres, que precisam de mais tipos de serviços. Cada região tem a sua necessidade, a sua área que precisa de mais atuação em determinados assuntos.

DDR: Mas existem áreas com demandas mais importantes que as outras, certo?

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Eu não diria mais importantes, mas necessárias. Por exemplo, a gente na Zona Oeste faz muita troca de manilhas, porque as ruas tem muito afundamento. Acabamos de fechar hoje (segunda-feira – 10/01) uma obra na Glória, onde foram colocadas cinco manilhas de 700 metros, ou seja, uma obra bem grande, na Zona Sul, área nobre. Não tem aonde precisa mais, aonde precisa menos, depende da ocasião. De repente na porta da sua casa abre uma cratera, você pode morar na Delfim Moreira (no Leblon) ou você pode morar em Santa Margarida, o problema é o mesmo. Aqui a gente trabalha para a cidade como um todo. Depende da época, final do ano a gente focou muito nos lugares turísticos. O Piscinão de Ramos estava precisando de um bom trato, nós fizemos. A gente vai priorizando as áreas conforme os problemas.

DDR: Nós conversamos com muitas pessoas, de diversas áreas da cidade, que alegam que o Poder Público, de uma forma geral, tem um olhar mais atento para a Zona Sul. O que a senhora diria para essas pessoas?

  • Ano passado a gente começou, de janeiro a julho, com a pior verba da história da Conservação. O prefeito muito sensível com isso, primeira oportunidade de uma verbinha, além da Saúde, claro, ele colocou pra gente melhorar um pouco, porque ele está muito incomodado com o estado que a cidade estava e ainda está. A gente trabalha 24h por dia, mas a gente ainda tem muito trabalho. Nosso lema é fazer a cidade voltar a dar certo, arrisco a dizer que já está dando. Desde janeiro de 2021, nós fechamos mais de 140 mil buracos nas ruas de toda cidade. Sendo: 26.200 buracos tapados na AP 1 e AP 2 (Área de planejamento) da Tijuca, Centro e Adjacências da Zona Sul, 37.655 buracos na Zona Norte (AP 3), 25.039 buracos tapados na Barra da Tijuca, Recreio, Jacarepaguá (AP 4) e 52.594 buracos na Zona Oeste (AP 5). A gente trabalha muito Zona Norte e Zona Oeste.

DDR: Existe alguma política especial para se evitar o vandalismo a infraestrutura urbana, monumentos e chafarizes da cidade? Alguma ação integrada com forças de segurança?  

Nós temos em torno de 1.300 monumentos e 200 chafarizes. Quando nós assumimos, no início do ano, tinham 3 ou 4 chafarizes funcionando. Como aqui é um trabalho muito braçal, muito pesado, com buracos e drenagens, então, a gente tem um olhar muito carinhoso para esse lado. Quando você restaura um monumento ou um chafariz, é um resgate da nossa história. É uma história que foi contada aqui no Rio de Janeiro. Em relação ao chafarizes, nós já religamos os da Urca, Largo do Machado, Tijuca, Alto da Boa Vista, e estamos preparando o do Cais (na Região Portuária). É muito importante o carinho com esses monumentos. A estátua do Noel Rosa em Vila Isabel, por exemplo, tem três câmeras de segurança integradas ao COR (Centro de Operações da Prefeitura). As câmeras que monitoram a estátua do Drummond de Andrade, em Copacabana, flagraram a ação do bandido que roubou os óculos, mas ele já está lá, lindo e de volta para receber os turistas. A gente pede muito para que as pessoas tomem conta do patrimônio público, mas aí já é uma questão de segurança pública.

DDR: Falando de Centro da Cidade, O DIÁRIO O RIO recebe diariamente uma série de fotos que mostram um pouco do estado em que se encontra a região, com paralelepípedos faltantes, monumentos depredados e calçadas esburacadas. Muitos dizem que a sensação é de que nada é feito na região há pelo menos 5 anos. O que a secretaria tem a dizer sobre isso?

Nós, a pedido do prefeito Eduardo Paes, tivemos a participação do Fajardo (Washington Fajardo, secretário de Planejamento e Urbanismo do Rio), que juntou um grupo e fez as chamadas áreas brinco, em meados do ano passado, tendo a primeira etapa indo da Praça Mahatma Gandhi ao Theatro Municipal, na Cinelândia. Não ficou uma pedra portuguesa fora do lugar, não ficou nada errado, a Comlurb estava presente, a Rio Luz estava presente, a CET-RIO estava presente. Os monumentos foram todos limpos. Existem uns postes e umas placas, que foram feitos na época dos jogos olímpicos (RIO-2016), a maioria está quebrada. Isso é uma coisa que nós estamos tirando de todos os cantos, pela cidade toda, um poste desses, com a placa que você nem consegue mais ver, a gente já tirou, nessa área do centro foram tirados uns dois ou três. Cuidamos todas as rampas de acessibilidade que estavam faltando. Hoje já estamos com muitas pedras portuguesas faltantes, tem muito do cuidado das pessoas. Por exemplo, os ambulantes e barraqueiros colocam suas barracas e destroem as pedras portuguesas. Em todas as áreas que a gente passou, não ficou um buraquinho para trás. Na área da Subprefeitura do Centro foram 9.617 buracos tapados, limpeza e recuperação de 4.701 caixas de ralo e a limpeza de 12.874 metros de galerias de águas pluviais. Tudo feito com todo capricho, todo cuidado, mas no dia seguinte picham. A gente já fez três áreas brincos grandes ali no Centro. Falta o cuidado das pessoas zelando pela cidade.

DDR: A que se deve essa sensação, então?

Se deve a uma série de fatores, total abandono, sem querer falar mal dos outros, mas a cidade ficou quatro anos abandonada, você não via serviço público nas ruas, mas passou estamos aqui para trabalhar. Eu pessoalmente participei das vistorias das primeiras áreas brincos do Centro, ficou tudo perfeito, não havia uma pedra portuguesa fora do lugar. Você vai lá na Cinelândia hoje, parece que nada aconteceu, e ainda tem trechos no Centro que ainda não conseguimos chegar, é muito trabalho. Uma pedrinha portuguesa para você fazer um metro quadrado, demora quase que um dia inteiro. E nós precisamos do trabalho em conjunto com as concessionárias. Se você pegar as minhas redes sociais, eu estou sempre lá criticando, “que feio Light” , “que feio Cedae”, a gente precisa deles também. Não pode chegar uma concessionária dessas, resolver o seu problema e deixar o seu buraco coberto com cimento no meio de uma rua de asfalto. Aquilo vai gerar um desnível, um transtorno. Com esse assunto concessionária, a gente é multa todo dia.

DDR: A senhora acha que iniciativas como o Reviver Centro e o Aliança Centro Rio podem contribuir com a Conservação da região central do Rio?

Com toda certeza, eu não conheço a fundo esses movimentos, mas eu vejo e tenho acompanhado que, movimentos de pessoas interessadas em fazer aquele lugar voltar a dar certo, conte com a gente, sempre. Esse tipo de parceria que a gente precisa, de pessoas que ajudem, porque ficar reclamando, criticando não leva a nada. Neste momento, temos que unir forças.

DDR: Quais ações recentes na cidade tem sido feitas pela pasta?

No Túnel Sá Freire (Copacabana), a gente trocou todas aquelas placas cimentícias, nos túneis do Joá, as placas também foram todas trocadas. Mergulhão Clara Nunes, em Campinho, também fizemos o mesmo trabalho Hoje nós começamos a revitalização dos Arcos da Lapa, em uma obra de uns cinco meses. Paralelo a isso, nós vamos recuperar todas as calçadas do entorno. Agora, não adianta, se as pessoas não ajudarem a gente a tomar conta.

DDR: Há um tempo atrás, o DIÁRIO DO RIO noticiou a substituição de paralelepípedos por laje de concreto desenhado, em Santa Tereza, e em outros trechos da região central do Rio, os chamados paralelepípedos “fakes“. Na época, a Conservação (gestão Crivella), falou em “solução temporária“, como anda essa questão?

Eu confesso que não tinha escutado isso, mas vamos ficar atentos a isso, por que a gente faz muita reposição. Se bobear, fizemos a substituição desses paralelepípedos e nem ficamos sabendo.

DDR: Nós estamos vivendo um verão super atípico. Recentemente tivemos um período de chuvas incomum para esta época, e a cidade mais uma vez voltou a sofrer com os temporais e alagamentos, como anda a limpeza dos ralos e das galerias pluviais da cidade?

No ano passado, nós começamos a operação Ralo Limpo, em parceria com o COR (Centro de Operações Rio), a Comulrb e a Rio Águas, em julho, com muita antecedência (desse período de chuva), exatamente para fazer evitar esses transtornos grandes. A Operação Ralo Limpo não consiste apenas em limpar o ralo, consiste em fazer um diagnóstico das mais variadas áreas da cidade. Ver se aquele ralo de determinada região precisa apenas de uma limpeza, de um reparo, de alguma pequena intervenção, ou, por um acaso, de uma grande obra. Nós cuidamos da micro drenagem, a Rio Águas cuida da macro drenagem. Lugares clássicos que tem alagamento no Rio, Silveira Martins, no Catete. Ali é uma grande obra que a Rio Águas já está com projeto. Ali a gente faz um trabalho exaustivo de limpeza. Choveu a gente já manda um caminhão pra sanar o problema, mas sabendo que a gente enxuga gelo. Porém, a gente minimiza os transtornos para as pessoas que moram ali. Ali a gente sabe que precisa de uma obra grande.

DDR: E em relação ao furto de bueiros da cidade, existe algum planejamento de ação integrada para se evitar esse tipo de delito?

Infelizmente a gente tem muito roubo dos tampões e caixas de ralo. A gente tem uma fabricazinha própria, que a gente está trocando tudo que a gente puder por concreto. Por que o roubo de caixas de ralo e tampões é algo que a gente não consegue acompanhar. Existiam ruas inteiras que não tinham essas tampas. A gente colocava a tampa de ferro fundido e enquanto a gente voltava para casa, já tinham roubado tudo. Em vias que permitem, a gente está colocando concreto. A gente está fazendo uma fábrica de artefatos de concreto. Estamos montando uma em cada área para que a gente mesmo consiga produzir nosso próprio concreto. A demanda é muito grande. A gente tapou 3.755, é nada, perto da quantidade que precisa.

OBS: posteriormente, a secretaria de Conservação enviou os dados da primeira etapa da Operação Ralo Limpo.

Na primeira fase da Ralo Limpo, que durou três meses, foram removidas 411 toneladas de resíduos e desobstruídos mais de quatro mil ralos de 50 vias públicas com maior recorrência de alagamentos e bolsões de água. Essas vias foram definidas de acordo com um mapeamento feito pelo COR em cima do histórico de alagamento da cidade. Na segunda fase da Ralo Limpo, serão contemplados outros 80 pontos da cidade, indicados pelas subprefeituras.

DDR: No curto prazo, a gente tem as ações da Conservação, mas vai ficar sempre nesse trabalho de faz e vêm alguém e quebra?

Infelizmente a Conservação é um enxuga gelo, porque enquanto a gente está conversando, a gente tem mil buracos, abertos, a gente está tapando e vamos dormir com 840, no meio da noite nós vamos acordar com 1.025. Aqui a coisa é muito dinâmica, não para. Por exemplo, o Chafariz da Praça Saens Peña foi inaugurado com dois meses de atraso por um outro ato de vandalismo que havia acontecido. E, agora, com o Chafariz pronto e lindo, menos de uma semana depois, vandalizaram de novo. A gente pede que a população se conscientize e nos ajude. A gente já trabalhou muito para tirar esse aspecto de total abandono. Vamos trabalhar mais para que a nossa Cidade Maravilhosa volte a dar certo. Agora a gente precisa da conscientização da população.

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6 COMENTÁRIOS

  1. Não sei se pode se falar em administração anterior, o Pastor-prefeito ou Prefeito-Pastor, como preferirem, foi brincadeira, o negócio do Crivela, é outro gente, todo mundo sabe, o que se queria era emplacar um cara do perfil dêle, e sempre conseguir mais votosdízimos ou dízimos-votos , como preferirem.
    Ou será que se acredita em Papai Noel…me poupem. Os tentáculos do polvo só chega, em quem da bobeira, “Oh! Manto”, como diz o Pastor Arnaldo….ogifudigfudkvkfjfjdufkfjfjdjfjdmmertes.

  2. Parabéns! Parece ser uma secretária que arregaça as mangas.
    Eu, e alguns moradores de Santa Teresa, alí pela parte debaixo, Ladeira de Santa Teresa, postamos muitas solicitações no 1746 solicitando que olhassem por favor pelo monumento Arcos da Lapa. Houve inclusive, sugestões. Alí embaixo dos Arcos, final da Rua Joaquim Silva, deveria ocupar com alguma coisa interessante, tipo, barraca de flores, cabine de informações turísticas, entre outras coisas menores e simples, mas que faz diferença. Isso ajudaria na conservação do monumento, evitaria aglomerações de gente das ruas, de pichadores. Perto dali a Escadaria do Selarón fica abarrotada de turistas, poderia estar emendando as coisas.
    Fica a dica.

  3. Gostaria que a Secretária informasse quando é que o Departamento de Conservação Viária irá olhar para o Recanto do Recreio (o IPVA mais caro da região) pavimentando ruas como Miguel Antônio Fernandes, Dr, Crespo, Sílvia Pozzano, Tim Maia.
    Pergunto também quando será removida a expansão de uma residência que invade a rua na esquina de Rua Claude Monet com Rua Athos Bulcão, e pavimentar esta última que dá acesso interno ao Colégio Palas.

  4. Muito bem, mas a maioria dos exemplos do trabalho feito por ela são do Centro e da Zona Sul.

    É evidente a preferência por essas regiões.

    Sociedade Civil no Brasil é quase nula. Não tem incentivos para fiscalização popular. Podiam começar por aí…E não me venha com o 1746 porque isso não funciona.

    Deviam resolver problemas crônicos e focar em perfumarias depois. Seriam obras longas que seriam entregues no próximo governo e isso ninguém quer, né?

  5. Rio está abandonado faz anos e agora a culpa é da administração anterior?!? E na do prefeito atual, durante os eventos no Rio, que fez vários canteiros de obras e não terminou?!? Me poupe, né?!

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