O fim do amor puro, filmado em palavras: o jornalista e publicitário Mario Marques lança seu primeiro romance em noite de autógrafos na Barra.
Mario Marques nunca acreditou que grandes histórias de amor sobrevivessem aos filtros, à pressa e à distração do mundo contemporâneo. Por isso, seu primeiro romance se passa em 1982. Tudo Acabou Ontem, seu décimo-segundo livro, que será lançado no dia 5 de junho, com noite de autógrafos no restaurante Hollandaise, na Barra da Tijuca, é uma ponte sensível entre duas épocas: de um lado, os amores puros e impossíveis dos anos 80; do outro, as relações líquidas e voláteis do presente.
Mario é jornalista, publicitário e escritor com longa trajetória na imprensa e no mercado de comunicação. Agora, mergulha pela primeira vez em uma narrativa longa de ficção, que ele define como “um filme escrito em palavras”.
— Trabalho nesse romance há três anos. Quis escrever como se fosse cinema. Com cortes secos, diálogos precisos, respiros e silêncios. Fui muito influenciado por Alejandro Iñárritu. A ideia era construir um livro que se sentisse na pele, como se a câmera estivesse o tempo todo colada no personagem — explica Marques.
Tudo Acabou Ontem é um romance que se divide entre três cidades — Nova York, Kansas City e Nova Iguaçu — mas todas elas gravitam em torno da mesma pergunta: o que acontece com os amores que não podem ser vividos? Na linha do tempo da obra, há cartas que não chegam, músicas que resistem, lembranças que persistem e um mundo que, aos poucos, perde o cheiro, o toque e o olhar direto.
— Sempre me interessou essa ideia de perda. Não só a perda da pessoa amada, mas a perda da experiência amorosa como ela foi um dia. Hoje se fala, se combina e se esquece tudo rápido demais. Eu quis voltar a um tempo em que o silêncio era uma resposta. O tempo era outro. A ausência durava. A espera fazia sentido — diz.
A escolha de ambientar a história no início dos anos 80 não é apenas estética. É uma declaração de princípios. A ausência de celulares, redes sociais, aplicativos ou e-mails dá aos personagens a chance de viverem intensamente — ainda que, muitas vezes, no vazio ou na tragédia. Para o autor, o livro é uma metáfora do fim de uma era em que o amor ainda ousava não ser mediado por telas.
O romance apresenta personagens como Paddy, um funcionário da Tower Records em Nova York que envia fitas com músicas para uma mulher que ele ama em segredo; Geddy, um jovem perdido em Kansas City que encontra nas canções do U2 um mapa para sua transformação; e Franco, um adolescente da Baixada Fluminense que descobre o amor — e o luto — ao som de Sunday Bloody Sunday, num sobrado marcado por tiros e memórias.
A música, aliás, é um fio condutor essencial no livro. A discografia do U2 — especialmente os álbuns Boy, War e October — é quase uma trilha sonora paralela da obra. Mario reconhece a importância da banda irlandesa em sua vida e a utiliza como símbolo de um tempo em que a juventude ainda acreditava em grandes gestos.
— O U2 é o motor emocional da história. As letras, os acordes, tudo isso atravessa os personagens e ajuda a moldar quem eles são. Eu mesmo fui formado por essas canções. Elas me ensinaram sobre amor, política, coragem e dor. Então foi natural que elas estivessem presentes — diz.
Apesar da densidade emocional, Tudo Acabou Ontem também fala de amizade, juventude e descobertas. Há cenas em que os personagens brincam nas ladeiras de Nova Iguaçu, roubam carros para ver shows no Rio, encontram consolo em discos riscados ou se escondem em quartos apertados repletos de muambas e silêncios. Tudo isso atravessado por uma estética que remete ao cinema de memória e à literatura de formação.
Com mais de três décadas dedicadas ao jornalismo e à comunicação, Mario Marques diz que o desafio de escrever um romance foi ao mesmo tempo angustiante e libertador.
— Eu nunca tinha escrito algo tão longo, tão íntimo, tão arriscado. Mas senti que era hora. Como jornalista, passei a vida contando histórias dos outros. Agora, como romancista, precisei inventar um mundo que, no fundo, tem muito de mim. Talvez por isso o livro seja tão pessoal, mesmo que nenhum personagem seja exatamente eu.
O lançamento de Tudo Acabou Ontem marca uma nova fase em sua carreira e, segundo ele, não será o último.
— Esse livro é uma espécie de ritual de passagem. Ele fala de finais, mas também de começos. Fala de um tempo que passou, mas também de uma possibilidade de reencontro. Acho que, no fundo, eu escrevi para me reconciliar com tudo aquilo que a gente perde, mas continua amando — conclui.
A noite de autógrafos no restaurante Hollandaise, na Barra, promete reunir amigos, políticos, leitores, músicos e artistas. O evento começa às 18h e é aberto ao público. O livro estará disponível para compra no local e terá lançamento mundial na Amazon em 10 idiomas a partir da mesma data.