Qual a relação da arte com a cognição humana?

Artigo de Rafael Higashi aborda a relação entre arte e desenvolvimento cognitivo da humanidade, que expressa e recria a realidade seletivamente de acordo com a sua vivência e os seus valores

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  • Por Rafael Higashi

A arte é uma das principias áreas de estudo da filosofia denominado de estética, pois envolve uma questão fundamental e universal da existência humana.

Para compreender o papel da arte na vida humana devemos verificar que arte é um fim em sim mesmo, ou seja, não tem outro propósito além da contemplação humana, diferente de outros produtos produzidos pelo ser humano como um carro, moveis e roupas que têm um produto para um meio utilitário, já um quadro, uma estátua, não.

A arte já existe na humanidade desde tempos pré-históricos, por uma necessidade humana, ou melhor, da preservação e sobrevivência da sua cognição. A cognição humana é conceitual por isso necessita de integração, ou seja, uma compreensão unificada e ampla da vida para definir seus valores, escolher seus objetivos, planejar seu futuro, ou seja, coerência da sua vida. A cognição humana busca uma unidade econômica através da integração de informações essências em forma de um pensamento conceitual que é abstrato (ex: homem, árvore, justiça) e faz também o caminho inverso, ele condensa o pensamento abstrato (conceitos) em forma de concreto (existente), ou seja, a arte.

Ao organizar seu material perceptivo em conceitos, e seus conceitos em conceitos cada vez mais amplos (ex: princípios), o homem é capaz de transcender a limitação imediata de informações perceptuais concretas em uma quantidade ilimitada de conhecimento, por exemplo podemos reter informação em dado momento de quatro a cinco arvores, mas somente pela nossa capacidade conceitual podemos generalizar informações de todas as arvores que existiram, existem e existirão, retido em uma única palavra árvore. O conceito (ex: árvore) funciona como uma equação matemática com unidades especificamente definidas a qual pode ser aplicada a qualquer dado momento.

A visão da realidade (metafísica) do individuo é a base para suas escolhas, no entanto, ela é uma abstração ampla, pois inclui tudo que ele percebe na existência e para manter o foco da sua consciência do que é importante, ele precisa da arte. De acordo com Ayn Rand: “A arte é uma recriação seletiva da realidade de acordo com os julgamentos de valor metafísicos de um artista. Por uma recreação seletiva, a arte isola e integra aqueles aspectos da realidade que representam a visão fundamental do homem, de si mesmo e da existência. A arte é uma concretização da metafísica”.

O papel fundamental da arte é mostrar nossas abstrações. A arte não substitui o pensamento teórico. O conhecimento teórico (ex: ética) permaneceria na posição de engenharia, a arte é a construtora de modelos, sua função primária não é ensinar, mas mostrar.

A verdade ou falsidade de uma obra de arte é irrelevante em relação a sua natureza fundamental, pois sua função cognitiva e psicológica permanece a mesma em todo o tipo de arte, ela confirma ou nega a eficácia da consciência humana.

Cada indivíduo adquire uma visão implícita da vida, uma estimativa de si mesmo e do mundo a seu redor, de uma capacidade de lidar com o mundo, verdadeiras ou falsas, seu mecanismo subconsciente, integra suas conclusões em uma soma emocional que estabelece um padrão habitual e que se torna a sua resposta automática da visão do mundo ao seu redor, uma emoção que faz parte de todas as suas outras emoções, ou seja, a soma integrada dos valores básicos de um homem, isto é o seu senso de vida. É o senso de vida individual que fazem um aprovar ou condenar uma obra de arte mas não é um critério valido para o julgamento estético de uma obra de arte, mas sim o mecanismo cognitivo e psicológico que o permite fazer, então, não é contradição dizer: “Esta é uma grande obra de arte mas não gosto dela”.

O artista em sua arte está dizendo, a vida significa isto para mim, ou seja, esta é a vida como eu vejo, do outro lado quem observa a arte reconhece ou não como o próprio enxerga a vida. A arte reivindica a confirmação de uma visão da existência, para que permita contemplar suas abstrações fora de sua mente, um espelho metafísico.

Aristóteles dizia que ficção é de maior importância filosófica do que a história, porque a história representa  as coisas  somente como elas são, ao passo que a ficção as representa como poderiam ser ou deveriam ser. A arte pode ser melhor compreendida através de uma frase do livro, A nascente de Ayn Rand: “Não trabalhem para a minha felicidade, meus irmãos, mostrem-me a sua, mostrem-me que é possível, mostrem-me suas conquistas, e o conhecimento me dará coragem para a minha”.

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Rafael Higashi é médico (52.74345-3), mestre em medicina, neurologista (RQE:13728) e nutrólogo (RQE:19627) da Clínica Higashi no Rio de Janeiro.

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