Apesar do título de Patrimônio Mundial da Unesco, quem anda por certas bandas do Rio pode achar que a fama da sua beleza natural é apenas um cartão-postal. Segundo o Censo 2022, divulgado pelo IBGE nesta quinta (17/04), mais de 37% da população da Região Metropolitana do Rio vive em ruas e avenidas sem nenhuma árvore plantada.
O número joga o Rio para baixo da média nacional — 66% dos brasileiros vivem em vias com alguma arborização, enquanto aqui, esse índice cai para 62,2%. Estamos atrás de estados como Mato Grosso do Sul, onde mais de 92% das ruas são arborizadas. No ranking das 27 capitais, o Rio amarga a 15ª posição.

As regiões mais críticas se concentram em áreas do subúrbio carioca e na Baixada Fluminense. Em bairros como Campo Grande e Santa Cruz, a urbanização ainda em desenvolvimento avança sem planejamento verde. O mesmo já aconteceu em partes da Zona Norte, especialmente na Área de Planejamento 3.3, que inclui bairros densamente povoados e consolidados desde o século passado, como Madureira e Irajá — também os mais quentes do município.
Contrastes no planejamento

Mas nem tudo é cinza no Rio. Alguns bairros ainda respiram um ar mais fresco e ameno graças a um planejamento urbano cuidadoso do início do século XX. Na Zona Sul, Ipanema e Leblon foram desenhados com esmero europeu. Há uma curiosidade por ali: em Ipanema, cada rua tem uma espécie diferente de árvore plantada. Nas paralelas à orla (Redentor, Barão de Jaguaripe, Nascimento Silva e Barão da Torre), foram usadas espécies diferentes em cada via. Já as perpendiculares foram arborizadas com a amendoeira-da-praia, espécie capaz de suportar os ventos salgados vindos do mar. Nas duas principais praças do bairro, a escolha também foi estratégica: a Praça General Osório recebeu exemplares de Ficus religiosa, enquanto a Nossa Senhora da Paz seguiu com as amendoeiras — uma identidade própria para cada espaço.


Bairros como Jardim Botânico, Laranjeiras, Gávea, Lagoa e Humaitá também se beneficiam desse passado cuidadoso. O mesmo vale para o Grajaú, na Zona Norte, que nasceu inspirado no conceito de “bairro-jardim”, modelo importado da Europa, onde o verde fazia parte da planta original. Até hoje, o bairro é conhecido pelo charme de suas árvores centenárias. Nos dias mais quentes do verão, a diferença de temperatura pode chegar a até 7ºC.