“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem), foi isso que Michel Temer escreveu para a então presidente Dilma Rousseff pouco antes de começarem o movimento pelo impeachment dela. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), deveria se lembrar deste momento ao romper completamente com o vice-prefeito Nilton Caldeira (PL).
De acordo com Guilherme Amado/Metrópoles, um dos melhores colunistas de política do Brasil, na primeira noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio, Paes simplesmente removeu seu vice do principal grupo de WhatsApp da Prefeitura, que reúne secretários, presidentes da maioria das empresas vinculadas e ex-secretários que Paes nunca tira.
Obviamente, esse grupo deve ser usado para discutir estratégias eleitorais, e Caldeira é do partido adversário: ele é fundador e presidente municipal do PL, que terá o governador Cláudio Castro como candidato à reeleição. Mas a educação de grupo de WhatsApp não é tirar a pessoa, é simplesmente criar um grupo novo, ou como diria Ariano Suassuna “Falar mal das pessoas pela frente é falta de educação, a espere ir embora e evite constrangimentos desnecessários“.
Isso foi a gota d’água de uma relação já desgastada. Paes até tentou colocar Caldeira como conselheiro do TCM, o que abriria espaço para uma candidatura a governador, deixando o presidente da Câmara, Carlo Caiado (PSD), em seu lugar. Claro que esqueceria o fato que precisaria ter uma nova eleição direta para prefeito… o PL não aceitou ir para o TCM e colocar contra seu governador um candidato tão forte.
O prefeito também tirou a forte Secretaria de Habitação de Caldeira e do PL, deu para o irmão de Caiado, Claudio Caiado, atual pré-candidato a deputado estadual com fortes chances de vitória. Paes também não teria dado o espaço prometido ao PL no governo do Rio. Hoje o vice, de acordo com Berenice Seara, despacha em uma sala improvisada na Secretaria de Ordem Pública. Normalmente seria no andar do prefeito.
A crise então tomou outro tamanho durante o carnaval, com Nilton Caldeira dizendo em nota oficial: “Não terá mais nada combinado. Ele não combina comigo, eu também não preciso combinar com ele. Vai ser da cabeça do nosso grupo político. A lei me faculta isso. Na ausência do prefeito, quem assume é o vice. E eu estou vivo” e completou: “Esta atitude desrespeitosa não foi só comigo, mas, com o PL. Sou um dos fundadores e atual presidente municipal da sigla, as atitudes que não considero corretas do Eduardo comigo, na verdade, não vêm de agora. (…) Falta de educação e soberba não combinam comigo, e se ele é assim, realmente não podemos mais sentar à mesma mesa“.
O Erro Grave de Paes
Nilton Caldeira pode ser um político desconhecido do público, mas é querido entre os políticos. Fez parte de muitos governos, tem boa relação com vários empresários e jornalistas. Não teria a força de Temer para um impeachment, até porque a Câmara é quase toda do Eduardo Paes, e Carlo Caiado é amigo de décadas, e duvido que um adversário como Pedro Duarte (Novo) votaria em um impeachment sem um motivo forte.
Só que Paes perde para 2026 se pensa em ser candidato à reeleição, pode ficar conhecido como alguém que não cumpre o acordado. Essa é uma das piores pechas que pode ficar em qualquer pessoa, especialmente em um político. Caldeira pode jogar contra todos os momentos.
Além disso Caldeira pode atrapalhar bastante o governo, basta uma viagem de Eduardo para bagunçar um pouco o governo e atrapalhar uma Prefeitura que já não está popular, como mostrou a pesquisa do Instituto Rio21.
Eduardo Paes acabou pedindo desculpas: “O vice-prefeito é uma figura elegante e querida. Fui deselegante ao tirá-lo do grupo de WhatsApp. Já me desculpei pela indelicadeza“, disse Paes, em nota. Será que é o suficiente?