#RaizDoProblema: Zonas Norte e Oeste têm menor índice de arborização urbana da cidade

Nesta série de reportagens, DIÁRIO DO RIO mostra como as podas assassinas de árvores e a histórica indiferença do Poder Público quanto à arborização do Rio impactam em muitos danos

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O jornalista Zuenir Ventura cunhou, no título de um livro, o termo “cidade partida” para jogar luz nas profundas desigualdades do Rio de Janeiro. O abismo é evidente, mas engana-se quem acha que ele se limita às questões socioeconômicas. A nova série de matérias do DIÁRIO DO RIO, a #RaízDoProblema, mostra como as podas criminosas de árvores e a histórica indiferença do Poder Público quanto à arborização do Rio impactam em muitos danos. A primeira matéria fala sobre a desigualdade ambiental.

De acordo com o Movimento Baía Viva, apesar da existência de um verdadeiro “apagão” de dados e informações sobre a situação ambiental e climática da cidade, estima-se que a Prefeitura do Rio de Janeiro recebe diariamente cerca de 100 pedidos de podas e cortes de árvores pela Central de telefone 1746.

Ainda segundo o Movimento, entre 2001-2007, a COMLURB  fez 52.752 podas e remoções de árvores na cidade, sendo que a Fundação Parques e Jardins (FPJ) fez o manejo de 369.264 árvores (uma média anual de mais de 49 mil intervenções). Já a partir de 2009-2013, houve uma média de 273 mil serviços de poda, remoção e destoca de árvores no município. O percentual de podas emergencial realizada é de 5%.

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No período de 2010 a 2013, devido à expansão construtiva da cidade, foram emitidos 79.361 pareceres favoráveis para remoção de árvores, em várias Áreas de Planejamento (APs) da cidade: AP 3 (Zona Norte e Ilha do Governador): 13.333 autorizações de remoção de árvores; AP 4 (Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Cidade de Deus): 32.063 autorizações de remoção de árvores; AP 5 (Zona Oeste: Realengo, Bangu, Campo Grande, Sepetiba, Guaratiba, Santa Cruz): 28.206 autorizações de remoção de árvores.

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O Baía Viva destaca que, atualmente, não é possível comprovar de fato qual a quantidade de árvores que tiveram “plantio compensatório” nos bairros, já que o esvaziamento e/ou desmantelamento da FPJ, como vêm ocorrendo nos últimos anos em sucessivos governos, teve como consequência a redução das equipes técnicas que atuavam em ações de fiscalização em função dos cortes orçamentários realizados anualmente a partir de 2006. Destaca-se que a capacidade média anual de novos plantios feitos pela FPJ é de apenas 22.500 árvores.

“O Rio de Janeiro tem uma forte marca de desigualdade social associada diretamente à segregação urbano-espacial, cujo Racismo Ambiental se reproduz através do elevado déficit de arborização urbana existente em especial nas Zonas Norte e Oeste da cidade. Consideramos que a Arborização Urbana é fundamental para a garantia do Direito à Cidade e nas estratégias de enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas em nosso município. Infelizmente, em sucessivos governos, as podas assassinas de árvores se transformaram num equivocado padrão anti-ecológico de política pública; além da ausência de fiscalização por parte da Prefeitura das podas abusivas e excessivas executadas pela concessionária privada LIGHT nos bairros. Para reverter este quadro, que se agrava no verão com o aumento da temperatura acima de 40 graus, estaremos apresentando aos órgãos municipais um conjunto de sugestões e propostas que visam a criação de um Protocolo Participativo e de um Inventário Arbóreo para que o carioca possa participar da implementação do PDAU (2015) e a entrega de Petição online com cerca de 10 mil assinaturas contra as “podas assassinas” de árvores. Há anos, está em curso uma política “moto-serra” adotada pela LIGHT que atua na poda e remoção de árvores claramente sem respeitar a legislação e sem prestar informações à prefeitura: a empresa só pensa em sua lucratividade e dane-se o patrimônio ambiental. O resultado disso, tem sido prejuízos à saúde coletiva, impactos no meio ambiente urbano e a formação de mais ’ilhas de calor’ nos bairros, desta forma reduzindo o conforto térmico ou conforto climático em toda a cidade que está virando, a cada ano, um caldeirão fervendo com maior calor!. Apesar de nunca ter sido feito um Inventário Arbóreo, estima-se que na cidade existam mais de um milhão de árvores em ruas e praças e este rico e diversificado patrimônio paisagístico, ecológico e cultural precisa ser protegido e preservado pela prefeitura e a sociedade”, enfatiza Sérgio Ricardo, ecologista e Gestor Ambiental e Co-fundador do Movimento Baía Viva que é a instituição proponente da petição online.

O excesso de cortes e podas criminosas, mal feitas e até assassina de árvores nestas regiões das zonas Norte e Oeste têm consequências diretas. A qualidade do ar na Zona Sul, onde também acontecem podas erradas, mas bem menos que no restante da cidade, é sempre melhor que no restante do municipio. Além disso, tem a questão do calor. A maior sensação térmica já registrada no Rio de Janeiro aconteceu em fevereiro do ano passado, em Santa Cruz: 55,4 graus. No último dia 02/10/2020, um recorde de alta temperatura na cidade. O bairro de Irajá, às 15h15, chegou a ter 46,3°.

“Um fato é que os subúrbios cariocas sofrem com a redução da cobertura vegetal, seja para construção particular ou até mesmo pública. Um exemplo disso foi o BRT Transcarioca em Ramos. Mas é possível ver outros exemplos como clinicas da família ou naves do conhecimento. As poucas Praças de subúrbios, por vezes, são usadas como reserva técnica de terrenos, trocando a arborização por instrumentos construídos até mesmo para fins eleitorais, cuja manutenção futura é incerta. Em áreas tão degradadas como os subúrbios, não faltam terrenos privados que poderiam ter este fim de uso para saúde e educação, assim como para aumentar o número de praças públicas”, opina o geógrafo Hugo Costa.

De acordo com dados do Instituto Pereira Passos, das 15 áreas com a pior classificação no ranking de áreas verdes, 10 ficam na Zona Norte. Esse índice tão baixo contraria a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Muitas doenças, entre elas respiratórias e ligadas ao estresse, podem resultar desta situação, dizem os especialistas.

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Gráfico do Alerta Rio

Reconhecendo o problema, o secretário de meio ambiente, em entrevista ao DIÁRIO DO RIO no início deste mês de janeiro, disse que há um plano para que o município, junto com iniciativas da sociedade civil, faça um grande projeto de arborização de toda a cidade, sobretudo as zonas Norte e Oeste.

A próxima matéria da série #RaizDoProblema vai falar sobre os responsáveis pelas podas assassinas de árvores na cidade do Rio de Janeiro.

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1 COMENTÁRIO

  1. Vocês repararam que no Parque do Flamengo a área verde está cada vez menor? As árvores não são cuidadas. Tem ataque de cupim. Usuários destroem as copas das árvores. Montam aparelhos para atividades físicas utilizando seus troncos e fazem os galhos de balanço. Pessoas urinam junto às árvores. O ácido úrico destrói tudo – até concreto, imagina árvores e arbustos receberem todos os dias… Sem cuidados, elas adoecem, ficam fracas e são atacadas por cupins. Seque a falta de manutenção até serem decapitadas.

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