A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do Brasil, tem encontrado aliados inesperados em pequenas propriedades rurais, como a de Bruno Teixeira, em Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro. Com cerca de 1 hectare inicialmente reflorestado, Bruno observou a volta da água a uma fonte seca, provando o impacto imediato da recuperação da vegetação nativa.
O impacto do reflorestamento em propriedades privadas
A iniciativa no sítio de Bruno começou com a adesão ao Projeto Guapiaçu, conduzido pelo Ação Socioambiental (ASA) em parceria com a Petrobras. O objetivo do projeto é motivar proprietários a destinarem parte de suas terras ao reflorestamento, mostrando que preservar o bioma pode melhorar a produção agrícola e a qualidade de vida. Desde 2017, o projeto já plantou mais de 500 mil mudas em 300 hectares de Cachoeiras de Macacu.
“Plantar uma árvore é um ato generoso. Pode ser que eu não usufrua da sombra dela, mas estou deixando esse legado para as próximas gerações,” reflete Gabriela Viana, presidente do ASA.
Benefícios observados
- Recuperação hídrica: Áreas antes secas voltaram a produzir água em menos de um ano após o plantio.
- Biodiversidade: Com o avanço do reflorestamento, espécies de fauna, como pássaros e tamanduás, retornaram à região.
- Qualidade ambiental: O ar ficou mais puro, e a paisagem ganhou vida, atraindo também visitantes interessados em conhecer a recuperação.
O trabalho inclui a manutenção por até três anos, garantindo que as árvores se estabeleçam de forma autossustentável. O custo médio do reflorestamento é de R$ 60 mil a R$ 90 mil por hectare, coberto pelo projeto.
A importância de corredores de floresta
O município de Cachoeiras de Macacu tem um papel crucial na preservação da Mata Atlântica, abrigando parte do Parque Estadual dos Três Picos, o maior do estado. A região concentra 60% das águas do parque e dois terços das florestas, tornando-se um ponto estratégico para projetos de reflorestamento.
Segundo Tatiana Horta, coordenadora operacional do Projeto Guapiaçu, criar corredores florestais é essencial. “Essas conexões entre fragmentos permitem o fluxo gênico, a circulação de animais e a variabilidade genética. Quanto mais propriedades se unirem ao reflorestamento, maior o benefício coletivo,” explica.
Desafios na mobilização
Apesar dos benefícios claros, a adesão ainda enfrenta desafios. De acordo com Viana, o projeto visitou mais de mil propriedades, mas apenas 16 aceitaram participar. A resistência é atribuída à falta de entendimento sobre os ganhos ambientais e econômicos do reflorestamento.
Mata Atlântica: um bioma ameaçado
Com apenas 29% de sua cobertura original, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais desmatado e com o maior número de espécies ameaçadas. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, 80% das áreas remanescentes estão em propriedades privadas, tornando iniciativas como o Projeto Guapiaçu indispensáveis para a recuperação.
Esperança em meio à crise climática
Apesar do cenário crítico, os esforços em pequenas áreas trazem esperança. “Um hectare reflorestado já é suficiente para mudar o ambiente local,” reforça Horta. Para os responsáveis pelo projeto, cada árvore plantada é um passo importante para combater os efeitos da crise climática e garantir um futuro mais sustentável.
“Eu acredito que ainda dá tempo,” conclui Gabriela Viana, destacando a importância de esforços coletivos para salvar as florestas e, consequentemente, o planeta.
Resumo dos dados-chave
- Localização do projeto: Cachoeiras de Macacu, RJ
- Área reflorestada até agora: 300 hectares
- Mudas plantadas: 500 mil
- Custo por hectare: R$ 60 mil a R$ 90 mil
- Estados abrangidos pela Mata Atlântica: 17 estados brasileiros
- População vivendo no bioma: 70% dos brasileiros
Iniciativas como o reflorestamento em propriedades privadas mostram que pequenas ações podem gerar grandes impactos, fortalecendo a conexão entre conservação ambiental e qualidade de vida.