Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial

Inaugurado em 1984, o Sambódromo presenciou momentos, que de tão importantes, já fazem parte da tradição e cultura carioca

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Foto: Folha de S.Paulo - Desfile Portela 2015

Para matar a saudade do Carnaval e manter a esperança viva, vamos relembrar desfiles históricos das 12 escolas do Grupo Especial, que impactaram a Marquês de Sapucaí.

Paraíso do Tuiuti – “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”

Quem não lembra do refrão do samba enredo:

“Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar, não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social”

tuiuti Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Marcos Serra Lima/G1

Em 2018, o Paraíso do Tuiuti fazia o seu segundo desfile no Grupo Especial e surpreendeu ao levar para avenida uma crítica social emocionante que lhe garantiu o vice-campeonato, a melhor colocação da agremiação entre as grandes. A escola de São Cristóvão gerou comoção em todo país ao recontar a história da escravidão no Brasil e fazer crítica ao racismo e às dificuldades dos trabalhadores brasileiros nos tempos autuais. O carnavalesco Jack Vasconcelos, responsável pelo enredo, também levou para avenida um ala em que os operários seguravam uma carteira de trabalho como escudo em tom crítico à reforma trabalhista. Fechando o desfile a escola levava em seu último carro alegórico o inesquecível “Presidente Vampiro”, que representava o presidente, à época, Michel Temer.

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Acadêmicos do Grande Rio – “No mundo da lua”

O ano era 1993 e a Grande Rio retornava ao Grupo Especial e levava para avenida um dos melhores sambas daquele ano.

“Ô luar, ô luar (ô luar)
Vem pratear a nossa rua (bis)
A semente da fartura semear
Virar o mundo de bumbum pra lua”

Grande Rio 1993 3 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Reprodução TV Globo

Criado pelo carnavalesco Alexandre Louzada, o enredo falava das lendas, das expressões e dos mitos da Lua. A escola de Caxias mostrou em seu desfile questões astrológicas como a relação da lua com a magia e até as bases da nossa cultura, quando os tupis-guaranis cultuavam Jaci, foram retratados na avenida. A lua enquanto musa dos românticos foi outro aspecto apresentado pela Grande Rio. Mas a escola também teve referência política, a representação dos “lunáticos” foi inspirada no escândalo político que derrubou o presidente Fernando Collor.

Unidos do Viradouro – “E A Magia da Sorte Chegou.”

Era início da década de 90 e a Viradouro começava a despontar no Grupo Especial. Mesmo sem ser conhecida pelo grande público, a vermelho e branco literalmente encantava a Sapucaí, que cantava seu samba.

“O Sol brilhará,
Surge a estrela guia
E sobre a proteção da Lua (bis)
Canta Viradouro
Que a sorte é sua”

viradouro 93 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Portal samba RJ

Max Lopes era o carnavalesco da escola em 1992, que tinha como enredo a história dos ciganos e pretendia fazer uma verdadeira festa cigana na Avenida. O desfile emblemático, em que a escola ao final era aclamada como campeã, foi comprometido por um incêndio em sua quinta alegoria. O carro da Sibéria era composto por cachorros da raça huskys siberianos, uma das alegorias mais bonitas que a escola levava para avenida e a preferida do carnavalesco da vermelho e branco de Niterói. Devido ao acidente, a agremiação perdeu 13 pontos na apuração, o que lhe rendeu o 9º lugar na colocação geral. Além de um marco para a escola, foi a partir deste momento, que as demais agremiações passaram a adotar procedimentos rigorosos de segurança contra incêndio.

Unidos da Tijuca – É segredo

No ano de 2010 a Unidos da Tijuca parou a Sapucaí com o enredo “É Segredo”.

“É segredo, não conto a ninguém
Sou Tijuca, vou além
O seu olhar, vou iludir
A tentação é descobrir”

tijuca campea carnaval 02 original Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Veja Rio

Elaborado pelo carnavalesco Paulo Barros, “É Segredo” levou a Tijuca ao campeonato naquele ano, após 74 anos sem títulos no Grupo Especial. O enredo contou a história dos mistérios da humanidade e levou vários segredos e efeitos especiais para a avenida. Um desses segredos era o da comissão de frente, que impactou a Sapucaí ao fazer um truque em que os componentes trocavam de figuro em pouquíssimos segundos usando técnicas de ilusionismo. O segredo das minas do Rei Salomão, do cavalo de Tróia e o desaparecimento da Arca Sagrada que, guardava os dez mandamentos também foram levados à avenida pela agremiação.

Estação Primeira de Mangueira – “100 anos de liberdade – realidade ou ilusão?”

O ano de 1988 foi marcado pela nova constituição, após o termino da ditadura militar e pelo centenário da abolição da escravidão. É neste cenário, que a Mangueira questiona, na voz de Jamelão, a suposta liberdade dos negros brasileiros.

“SENHOR… (ah senhor!)
Veja a luta do bem contra o Mal
que tanto sangue derramou
contra o preconceito racial

O Negro samba
o negro joga capoeira
ele é o Rei da Verde e Rosa da Mangueira”

Mangueira 1988 1 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: site Carnavaln1

A tarefa de abordar a temática da abolição da escravidão coube ao carnavalesco Júlio Matos. Em linha critica a Mangueira levou para avenida “100 anos de liberdade – realidade ou ilusão?”, enredo que convidava a reflexão em meio a comemoração do marco histórico do 13 de maio: seria realidade ou mera ilusão? A verde e rosa foi além do óbvio e fez um desfile voltado para a abordagem do racismo na sociedade brasileira. O sincretismo religioso, a que os negros foram submetidos para poderem cultuar os Orixás, foi outro destaque do emocionante. Mesmo sendo reconhecido como um dos desfiles mais marcantes de 1988, a Mangueira obteve a 2º colocação no carnaval carioca.    

Mocidade Independente de Padre Miguel – “Vira virou, a Mocidade chegou”

Em um desfile inovador para época, a Mocidade entra na avenida em 1990 cantando o inesquecível samba:

“Ah vira virou, vira virou
A Mocidade chegou, chegou
Virando nas viradas dessa vida
Um elo, uma canção de amor, olha vira virou, virou”

mocidade vira virou 1990 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: O Globo

O enredo dos carnavalescos Renato Lage e Lílian Rabello marca o início de grandes vitórias para verde e branco de Padre Miguel. Naquele ano, a agremiação conquistou a primeira colocação contando sua própria história, nascida em 1955 de um time de futebol (Independente Futebol Clube). O abre-alas da escola impressionou pelo estilo abre-alas high tech e ainda levava a estrela, símbolo da Mocidade, em prateado e cercada por néon e luzes verdes. Ao final do desfile, a escola prestou homenagem a personalidades importante da sua trajetória, como Mestre André, os carnavalescos Arlindo Rodrigues e Fernando Pinto, e o intérprete Ney Vianna.

Acadêmicos do Salgueiro – “Tambor”

Quando o Salgueiro entrou na avenida em 2009, como diz a letra do samba, arrepiou:

“Vem no tambor da Academia
Que a Furiosa bateria vai te arrepiar!
Repique, tamborim, surdo, caixa e pandeiro
Salve o Mestre do Salgueiro”

salgueiro 2009 tambor Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: site Carnavalesco

O enredo desenvolvido pelo carnavalesco Renato Lage partiu de dentro da bateria. O tambor, instrumento musical conhecido e venerado no mundo do samba, levou para vermelho e branco do Andaraí o título do carnaval de 2009. Aspectos místicos e religiosos do instrumento foram contados no desfile. Ritmos brasileiros como maracatu, forró e xaxado também fizeram parte do tambor salgueirense. Em homenagem carregada de emoção, a última alegoria da agremiação reverenciava os mestres de bateria das escolas de samba, em especial Mestre Louro, que havia falecido no ano anterior.

Beija-flor de Nilópolis – “Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia”

Impossivel falar da Beija-flor e não mencionar o desfile revolucionário de 1989 de samba vibrante:

“Firme… Belo perfil!
Alegria e manifestação
Eis a Beija-flor tão linda
Derramando na avenida
Frutos de uma imaginação

Leba – laro – ô ô ô ô
Ebó lebará – laiá – laiá – ô

Reluziu”

beija flor 89 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: O Globo

O saudoso e emblemático carnavalesco Joãozinho Trinta fez história com a Beija-flor e o com aclamado enredo “Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia”. A imagem do Cristo Redentor mendigo, que seria o abre-alas da escola, foi proibida pela justiça a pedido da igreja. A alegoria foi então adaptada para o desfile: coberta por um plástico preto e uma faixa em forma de protesto. Em contraste, o desfile levava para avenida mendigos luxuosos e carros ricos construídos com materiais baratos. Apesar de impactante, a Beija-flor não venceu aquele carnaval. A escola de Nilópolis foi a segunda colocada, mas até hoje o desfile de 1989 da azul e branco é reconhecido como um dos maiores da era do Sambódromo.

Portela – “ImaginaRIO, 450 Janeiros de Uma Cidade Surreal”

Em 2015 a Portela voltou a experimentar o gosto de vencer o carnaval carioca. Com sede de vitória, a azul e branco entrou na avenida cantando:

“Sou carioca
Sou de Madureira
A Tabajara levanta poeira
Pra essa festa maneira
Meu bem me chamou
Lá vem Portela, malandro
O samba chegou”

portela 2015 aguia 1 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Tãnia Rêgo/Agência Brasil

Com enredo “ImaginaRIO, 450 Janeiros de Uma Cidade Surreal” do carnavalesco Alexandre Louzada, a Portela prestou homenagem aos 450 anos da cidade que lhe abriga, o Rio de Janeiro. Símbolos do Rio, como as palmeiras do Jardim Botânico, as praias, os Arcos da Lapa e o Maracanã foram retratados no desfile. A marca maior da escola, a águia, transformou-se em um imenso Cristo Redentor na Sapucaí. Os integrantes da comissão de frente eram personagens do Rio, como o vendedor ambulante, o malandro e as damas da Lapa. A azul e branco também foi aclamada pelos efeitos desenvolvidos na avenida, que lhe garantiu a primeira colocação.

São Clemente – “E o Samba Sambou”

A São Clemente fez em 2019 uma reedição do enredo de 1990 da agremiação e divertiu o público na Marques de Sapucaí.

“É fantástico
Virou Hollywood isso aqui (isso aqui)
Luzes, câmeras e som
Mil artistas na Sapucaí”

sao clemente 2019 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Riotur

O enredo “E o Samba Sambou” desenvolvido e reeditado pelo carnavalesco Jorge Silveira fez uma crítica bem-humorada ao próprio mundo do samba. O carro abre-alas da agremiação “É fantástico! Virou Hollywood isso aqui”, sintetizava bem o tipo de abordagem que a escola pretendia realizar. Os camarotes do Sambódromo e corte de verbas da prefeitura para o carnaval também foram criticados. A agremiação ficou em 6º lugar.

Unidos de Vila Isabel – “A Vila Canta o Brasil Celeiro do Mundo – Água no Feijão, que Chegou mais um

Em 2013 a Vila desfilou no dia do aniversário de um dos seus ícones: Martinho da Vila, que na ocasião completava 75 anos. E foi o samba de Martinho em parceira com Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Tunico da Vila, que empolgou a Sapucaí.

“Festa no arraiá
É pra lá de bom
Ao som do fole, eu e você
A vila vem plantar
Felicidade no amanhecer”

vila 2013 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: conexão jornalismo

A Vila fez uma homenagem ao homem do campo. O enredo desenvolvido pela Carnavalesca Rosa Magalhães, “A Vila Canta o Brasil Celeiro do MundoÁgua no Feijão, que Chegou mais um” empolgou desde o início da apresentação da escola. A comissão de frente era formada por componentes em um tripé em forma de caixote, que faziam vários movimentos com um controle remoto. A bateria surpreendeu com as paradinha, em que durante a execução os ritmitas surguiam com elementos cenográficos dando efeito de “arraiá” na Sapucaí. A escola de Marinho ficou em 1º lugar e deu de presente para artista o campeonato do Grupo Especial como presente de aniversário.

Imperatriz Leopoldinense – “Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajères”

Quem nunca ouviu o refrão do samba enredo da Imperatriz de 1994. Com refrão forte, foi um dos melhores daquele ano na voz de Preto Jóia:

“Sou índio, sou forte
Sou filho da sorte, sou natural (bis)
Sou guerreiro
Sou a luz da liberdade, carnaval”

imperatriz 94 Relembre desfiles marcantes das escolas de samba do Grupo Especial
Foto: Fernando Maia/Agência O Globo

O Enredo de Rosa Magalhães levou o índio como protagonista para avenida. “Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajères” buscou na França do século XVI uma festa oferecida por Henrique II e Catarina de Médici, em que índios brasileiros foram transportados para o país europeu com o objetivo de representarem na festa seus hábitos e costumes. A tradicional comissão de frente da escola de Ramos mais uma vez impressionou pelo luxo e efeito provocado pela evolução, quando abrindo seus leques em verde e dourado. A Imperatriz Leopoldinense foi a campeã do Carnaval de 1994.  

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Costa do mar, do Rio, Carioca, da Zona Sul à Oeste, litorânea e pisciana. Como peixe nos meandros da cidade, circulante, aspirante à justiça - advogada, engajada, jornalista aspirante. Do tantã das avenidas, dos blocos de carnaval à força de transformação da política acreditando na informação como salvaguarda de um novo tempo: sonhadora ansiosa por fazer-valer!
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