Seguindo os passos dos mestres Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, que em 1988 eternizaram o Rio como pano de fundo da primeira versão de Vale Tudo, a autora Manuela Dias vem mantendo a tradição com louvor. No ar desde março, o remake da novela já registra quase 200 gravações externas — um recorde absoluto, segundo levantamento recente da Rio Film Commission, órgão ligado à Secretaria Municipal de Cultura do Rio. O número é 11 vezes maior que o da novela anterior, Mania de Você.
Manuela, aliás, parece ter entendido bem a fórmula de Gilberto: usar o Rio não apenas como cenário, mas como personagem na trama. Locações emblemáticas da cidade foram escolhidas para dar vida ao universo dos personagens. A casa de Celina (personagem de Malu Galli), por exemplo, é um belíssimo casarão colonial no alto do Outeiro da Glória, bem atrás da Igreja. Já a sede da empresa dos Rotman ocupa o Ventura Corporate, um dos edifícios empresariais mais luxuosos Centro do Rio — por fora, claro, o interior foi recriado nos Estúdios Globo.
Já Solange Duprat (Alice Wegmann), personagem queridinha do público, mora em um casarão de época reformadíssimo no Horto, sub-bairro super charmoso do Jardim Botânico. Os detalhes não passaram despercebidos por quem acompanha a novela — e que ajudam a reforçar o tom sofisticado e realista da nova versão. Já o empresário Marco Aurélio (Alexandre Nero) mora no edifício Residências Nicolo Paganini, um dos prédios mais nobres da Lagoa.
De acordo com a jornalista Paula Autran, dos 17 cenários usados pela novela, apenas três foram construídos nos Estúdios Globo. Cerca de metade das cenas é gravada em estúdio, 33% na cidade cenográfica (Vila Isabel) e os 17% restantes nas ruas — o que evidencia o peso das gravações externas na atual produção.
A mudança na dinâmica imobiliária do Rio também impactou a geografia da trama. Na versão original de 1988, o núcleo mais modesto da novela era ambientado no Catete. Mas com a valorização da região nos últimos anos, a nova versão transferiu esse cenário para Vila Isabel, que hoje carrega o perfil popular que o bairro do Catete tinha à época.
