Renata Guerra: O dilema dos ‘nem nem’

Apenas na capital fluminense, seriam 32% deles que estariam nessa categoria

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Imagem meramente ilustrativa (Foto: Reprodução Internet)

Um dos dilemas mais instigantes da atualidade diz respeito ao fenômeno conhecido como “nem nem”. São milhões de jovens que, por inúmeras circunstâncias — algumas das quais versaremos nesse artigo —, nem estudam e nem trabalham, situação que ainda foi agravada pela pandemia. Um levantamento recente da Secretaria Especial da Juventude Carioca, como publicado aqui no DIÁRIO DO RIO, dá a tônica do peso do problema: apenas na capital fluminense, seriam 32% deles que estariam nessa categoria.

O que faz esses jovens, no ápice da energia laborativa, quando poderiam estar se preparando ou mesmo trilhando a independência financeira, simplesmente estagnarem? Onde o modelo brasileiro de educação e onde os esforços de inserção profissional falharam? As hipóteses são muitas. A primeira delas parte do pressuposto que o problema é mundial: o desemprego da juventude, em especial nos países europeus.

Nessa linha, o mercado de trabalho exigiria cada vez mais experiência e qualificação, enquanto, ao mesmo tempo, a economia em retração reduziria as oportunidades abertas, não oferecendo postos de trabalho na mesma proporção de jovens disponíveis. Para piorar, a educação básica não entregaria jovens com a preparação suficiente para o emprego, especialmente pela perspectiva técnica, resultando na necessidade de continuar os estudos após a vida escolar – e, muitas vezes, a opção mais viável é a rede privada, o que tem seus custos e exclusões.

Um estudo do IPEA divulgado pelo site do Senado Federal traz outro ponto na discussão. O levantamento alerta que a gravidez precoce é um elemento a ser considerado na formação da geração dos “nem nem”. A gestação imprevista prejudicaria fortemente jovens mulheres de baixa renda a continuarem os estudos e conseguirem suas primeiras oportunidades. O problema viraria um círculo vicioso, prejudicando todo futuro familiar.

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Outro fator também comumente destacado é o custo do trabalho. O emprego formal teria um peso demasiadamente elevado para o empregador, especialmente o pequeno, o que prejudicaria negativamente na capacidade de contratação desses empresários. O problema, nesse caso, seria trabalhista: enquanto sociedade, aprovamos leis que, mesmo bem-intencionadas, desincentivariam a criação de emprego e marginalizariam quem busca a primeira oportunidade.

Algumas soluções, contudo, surgem à mesa. Uma delas é o chamado “Serviço Civil Voluntário”, política pública que, na avaliação do ministro Onyx Lorenzoni, busca criar uma “rampa de ascensão social” aos jovens, especialmente os de baixa renda. Na prática, seriam abertas oportunidades de trabalho nas prefeituras para aqueles com pouca ou nenhuma experiência profissional e, em troca, além do trabalho e de uma bolsa, esses jovens fariam cursos oferecidos pelo sistema S. A iniciativa é interessante e tem uma porta de saída: a qualificação profissional.

Um caminho similar poderia ser a ampla desoneração para quem busca a primeira oportunidade. O ponto negativo, nesse caso, seria influenciar a empregabilidade de outras gerações – por isso, um processo de desoneração mais horizontalizado poderia gerar menos efeitos colaterais.

Apresentado o problema, hipóteses e soluções possíveis, é preciso retomar a consideração que a juventude é um período único na vida. A psicóloga Meg Jay escreveu um livro que aponta que a fase dos 20 aos 30 anos é um momento de inflexão que influencia todo o futuro do indivíduo. Portanto, atentar-se aos dilemas e dificuldades dos jovens que, mesmo querendo, não estudam e nem trabalham, é fundamental. Na prática, é um problema não só deles, mas de todos os brasileiros. Precisamos, como sociedade, criar as condições para que seja possível progredir na vida – e, se não fizermos nada agora, no futuro pode ser tarde demais. 

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