Reportagem do New York Times destaca violência da polícia do RJ ‘licença para matar’

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Reprodução: New York Times

Uma matéria publicada nesta segunda-feira (18/05) no jornal norte-americano New York Times, um dos principais veículos de imprensa do mundo, diz que a polícia militar do estado Rio de Janeiro tem “licença para matar” em seu título.

O texto ainda afirma que, “confrontos em áreas tradicionalmente violentas do Estado do Rio – como comunidades comandadas pelo tráfico – nem sempre seguem a cartilha do uso da força letal apenas no enfrentamento de uma ameaça iminente“.

A reportagem, feita pelos jornalistas, Manuela Andreoni and Ernesto Londoño, diz também, que as forças de segurança do estado foram responsáveis por um número recorde de mortes no ano passado, 1.814.

De acordo com a publicação, “um crescimento repentino, na casa das centenas, em um estado de longa história de brutalidade policial e onde lideranças políticas prometeram cavar ‘covas’ contra o crime“. O jornal americano analisou 48 mortes de uma região na Zona Norte da capital, em que o uso excessivo da força não impediu que os agentes voltassem depois para as ruas.

Na apuração dos jornalistas, em ao menos metade dos mortos foi atingida nas costas, segundo autópsias. Desses casos, em 20 os mortos foram baleados ao menos três vezes. Esse tipo de ferimento confronta a orientação do uso de força letal apenas em situações de ameaça iminente. Já o número de policiais feridos durante os confrontos se resumiu a dois: um atingido por disparo acidental de seu próprio fuzil e outro caiu ao tropeçar.

Entre os homicídios por policiais analisados pelo Times, um quarto envolve um agente que já respondeu por denúncia da mesma natureza, e metade é acusada de ao menos um crime. Em oito destes casos apurados, parentes disseram que as mortes ocorreram durante emboscadas armadas pela polícia para matar traficantes. Também foram ouvidos relatos de torturas feitas por agentes.

As 13 mortes ocorridas na sexta-feira em uma operação no Complexo do Alemão, durante a quarentena do novo coronavírus, com negócios fechados e a população reclusa.

A reportagem informa que discursos de “guerra contra criminosos” ditos por governantes, como o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio, Wilson Witzel, endossariam o comportamento da polícia. Entre um dos casos destacados pela reportagem, está o do sargento Sérgio Britto, de 38 anos, em trabalho nas ruas mesmo enquanto aguarda julgamento por homicídio. Ele entrou na Polícia Militar em 2002, e desde 2010 participou de pelo menos 20 mortes em serviço. Em 2007, Britto quase foi afastado das ruas após a determinação de um juiz, mas seus advogados recorreram e alegaram que ele é um bom policial e agiu em legitima defesa. Ele disparou atrás da orelha direita de um suspeito de tráfico de 20 anos de idade.

O sargento apoiou o atual presidente durante as eleições, em outubro de 2018, ao se juntar ao grupo em frente ao condomínio de Bolsonaro, na Barra da Tijuca, na noite da votação e publicar, no mesmo dia, em seu perfil do Facebook a mensagem “Chegou uma nova era, a era da opressão” com o emoji da mão em gesto de arminha, movimento popularizado. Britto não atendeu ao pedidos de entrevistas feitos pelo “New York Times”.

A PM tem um quarto a menos de agentes previstos na corporação: um déficit de 15 mil no contingente que deveria somar 60 mil. No 41º BPM (Irajá) – conhecido como “batalhão da morte” – mais de 20% dos 612 agentes (menos da metade do número necessário) estão de licença ou afastados por problemas físicos e psiquiátricos. É um dos mais violentos desde sua criação, em 2010, para reforçar a segurança de meio milhão de pessoas. Em seu território,há cerca de 50 favelas. Segundo declarou o tenente-coronel Vinícius Carvalho, que esteve no comando do batalhão, afastar policiais envolvidos em um homicídio é “utópico” em áreas de confrontos regulares.

Em nota ao NYT, a Polícia Militar informou que os agentes do 41º BPM assumiram riscos consideráveis para apreender mais de 1.800 armas nos últimos cinco anos de “marginais sanguinários”. E acrescentou que todos os tiroteios com vítimas fatais envolvendo a polícia são investigados minuciosamente.

O governo do Estado e a Polícia Militar não comentaram a reportagem do “New York Times”.


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3 COMENTÁRIOS

  1. Sugiro um intercambio – quero ver os policiais de la, ao virem homens de fuzil pela rua, gritarem, “vcs estão presos! ponham as armas no chão e as mãos atras da cabeça!”

  2. Isso ainda é mais reforçado com Políticas de governantes populistas que pensam nas ações de segurança pública ao estilo “bandido bom é bandido morto” mas que não pensam na banalização na morte e na consequentemente brutalização do agente de segurança.
    Tinham todos esses policiais que voltar para o curso de reformulação junto com uma reformulação de toda Política de Segurança Pública.

  3. Todo veículo jornalístico estrangeiro de credibilidade sabe que a Polícia do Brasil, tanto a Civil, mas especialmente a Militar, praticam atos que seriam enquadrados perfeitamente como Crimes de Guerra.
    Os agentes pensam que possuem uma licença para atirar
    Entram dando tiros, descarregando suas armas para cima (se for morro) e para dentro avançando por becos e vielas.
    Interessante que o brasileiro justifica (e os agentes) justificam a ação policial violenta sinalizando que o que vivenciam no Rio de Janeiro (e outras cidades do país) é uma guerra civil ou contra o tráfico/milícia.
    Esses mesmos ignoram completamente – e chega a ser tão absurda a desculpa – como se nós EUA não houvesse criminosos fortemente armados (na verdade o que mais tem) gangues e tráfico de drogas, assim como outros países fossem isentos de organizações de traficantes armados.
    Em todo o mundo desenvolvido a questão das drogas é combatida com ações de inteligência Policial. Mira-se no grande traficante, no financiador e na logística de distribuição. Não é no varejista da droga.
    E em alguns países, paralelamente às ações de polícia, como saúde pública e tratamento terapêutico aos usuários.
    A Polícia brasileira é imagem e semelhança do povo brasileiro: grotescos e violentos.

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