Rio de Janeiro pode ter nova crise da geosmina este ano

O alto índice de esgoto próximo à Estação de Tratamento do Guandu possibilita a proliferação do organismo

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Geosmina deixa água com cheiro, gosto e cor. Foto: Reprodução/Redes sociais

Os indícios de crise hídrica no Rio de Janeiro estão cada vez maiores. O DIÁRIO DO RIO vem noticiando a situação. Até um comitê foi organizado para tentar controlar o eminente problema. A novidade da vez é que podemos ter um novo verão da geosmina, como em 2020 e 2021.

De acordo com especialistas, a alta quantidade de esgoto próximo à Estação de Tratamento (ETA) Guandu tende a gerar mais geosmina na água e isso impacta diretamente no líquido que chega para a população.

Os rios Queimados, Poços e Ipiranga são afluentes do Guandu (que abastece os municípios de Nilópolis, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, São João de Meriti, Itaguaí, Queimados e Rio de Janeiro) sofrem constante despejo de esgoto. Com a água mais poluída fica mais fácil a propagação das cianobactérias, da geosmina.

“Por conta da pandemia, as pessoas ficaram mais tempo em casa e, consequentemente, produziram mais esgoto, sobretudo na Baixada Fluminense, que tem municípios que despejam seus esgotos na bacia do Rio Guandu”, explica Adriana Sotero, pesquisadora da Fiocruz.

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Embora a possibilidade seja de que a nova crise da geosmina ocorra em dezembro, com o verão mais intenso, que segundo especialistas deixa o ambiente mais propício ao organismo que deixa a água com gosto e cheiro ruim, a situação nada agradável pode começar antes mesmo da estação mais quente do ano, já na primavera, que se iniciou no último dia 22/09.

Uma solução proposta por especialistas é o uso planeado da água de reúso. “Nós já temos a prática da água de reúso no Rio de Janeiro, mas sem planejamento. É preciso ter organização para que usemos melhor a água da Estação de Tratamento do Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas no estado do Rio de Janeiro. Se isso não for feito, vamos continuar tendo crises de abastecimento, sobretudo entre as pessoas mais pobres do estado. Na última crise da geosmina, recebemos informações na Fiocruz de que muita gente, sem dinheiro para comprar água, parou de beber, o que impacta na saúde pública”, destaca Adriana Sotero.

Em um artigo, Sotero destaca que “a utilização da água de reúso segura possibilita que a oferta de água potável seja destinada para fins essenciais, e a de água de reúso, para outros fins, tais como atividades agrícolas, irrigação paisagística e limpeza urbana”. E completa: “A água de reúso é o produto de um esgoto tratado e polido. Em algumas situações, o esgoto passa pelas etapas de tratamento nas estações de tratamento de esgoto (ETEs) e, posteriormente, pelas etapas de tratamento de água de reúso (ETAR) (PROLAGOS, 2015). Tecnologias alternativas visando ao tratamento e ao refinamento de água de esgoto vêm sendo levantadas como proposta para uso de fins potáveis”.

Também é defendido por técnicos que as ações de saneamento básico, principalmente na Baixada Fluminense, sejam intensificadas, e que as bacias hidrográficas que abastecem o estado do Rio sejam mais bem cuidadas e até mesmo recuperadas.

Procurada pela reportagem, a Cedae respondeu que “colocou em prática um plano de contingência com uma série de medidas para prevenir o surgimento da geosmina.

Uma delas é a implantação das Unidades de Tratamento de Rios (UTRs). A primeira será nos rios Poços e Queimados, responsáveis por pelo menos 70% do volume que deságua no Guandu. Isso significa que será possível captar água antes do local de propagação da geosmina.

Outra medida é a ampliação de um tratamento experimental adotado em 2021 que se mostrou eficaz: o sistema de bombeamento do Rio Guandu para a Lagoa, que não só aumenta o volume de água como baixa a temperatura na bacia em que há proliferação das algas produtoras das cianobactérias. Como o sistema de bombeamento gerou bons resultados com volume de 1 metro por segundo (m/s), a Companhia já triplicou a capacidade para 3 m/s e iniciou esforço adicional para alcançar 5 m/s.

No Sistema Guandu, a companhia já começou os trabalhos de reparo, manutenção e limpeza das duas estações de tratamento Veta (velha) e Neta (nova) como preparativos para o próximo verão.  A automação do sistema está em fase de projeto, o que permitirá o controle de cada etapa do processo e poderá acender sinais de alerta com antecipação.

O programa Replantando Vida da Cedae já plantou mais de 4 milhões de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica nas margens dos rios, ajudando a recompor matas ciliares.  Nesta semana, a Companhia anunciou projeto de plantio de 1 milhão de mudas em até cinco anos, o que contribui para preservação das margens e serve de filtro para que menos dejetos e menos esgoto sejam despejados indevidamente no rio.

Além destas providências, a Companhia monitora a qualidade da água com análise da água bruta (não tratada), da água na estação de tratamento e da água na rede de distribuição. O resultado é divulgado no portal da Cedae para acompanhamento da população (https://cedae.com.br/relatoriosguandu)”.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Sem saneamento básico e tudo sendo jogado nos rios, NADA MUDARÁ…
    É incrível que o impacto ambiental das grandes cidades seja tão falado por políticos hipócritas, mas nada é feito. A não ser o aumento de tarifas e de meios de arrecadação.
    Imagine se a iniciativa privada resolvesse problemas de caixa com elevação dos preços dos seus produtos…
    No entanto, o governo perdulário, em vez de trabalhar, só pensa em mais verba, enquanto degrada, a cada dia mais, os serviços essenciais com os quais deveria retribuir as contribuições que recebe de um povo enganado.
    Acho que o costume de encobrir esgotos a céu aberto com flores e folhas ficou arraigado na administração pública do Rio de Janeiro, depois que conseguiram enganar a comitiva de D. João VI.
    De lá para cá, apenas aprimoraram a técnica da enganação, para manter a gastança sem ter que trabalhar.
    Lembro-me que o famigerado Brizola, quando governador, recebeu do Japão a quantia imensa de US$ 700 MILHÕES (hoje, algo em torno de US$ 4 BILHÕES), para despoluição da Baía de Guanabara.
    O dinheiro simplesmente desapareceu, sem deixar vestígio de qualquer início de obra para o fim a que se destinava.
    Ter administradores públicos que vivem se locupletando com o dinheiro público e garantindo o próximo mandato, sem nada fazerem, a não ser dar despesa de compra de mais tornozeleiras eletrônicas é de uma canalhice sem par…
    VÃO TRABALHAR, VAGABUNDOS…
    VOCÊS NÃO PRECISAM DE MAIS VERBA, MAS DE VERGONHA EM SUAS CARAS DE PAU OCO…

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