Roberto Anderson: A cidade pulsa

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É verão em Nova York. Há sol, muito sol. Calor já de crise climática. E pessoas nas ruas, muitas. Estão também nos parques e praças da cidade. Tomam sol nos gramados. Descontraídas, como se na praia estivessem. Nos bancos, aqueles corridos, bem característicos, casais namoram, idosos observam os passantes, jovens consultam o celular. Todos se juntam aos malucos que lá sempre estiveram. E também um coroa brasileiro cansado de bater pernas por aí.

Há muita música, do jazz ao rap. Talentos que estiveram praticando em apartamentos, fechados durante o inverno, agora saem às ruas para ganhar uns trocados. E crianças brincam em seus espaços seguros. A vida corre solta nas ruas da cidade, como se nunca uma pandemia tivesse existido. O medo ficou no passado. Ninguém diria que existiu e que bateu com tanta força. Quem perdeu os seus, os guarda na lembrança.

Há vasos floridos em esquinas, em calçadas, e pendurados nos postes. As praças, de vários tamanhos, em geral, são bem cuidadas. Vê-se que há um trabalho de jardinagem consistente e permanente. Há flores, flores e vegetações de cores variadas. Os arranjos paisagísticos, se não são os mais elaborados, são bastante simpáticos. Demonstram que há na cidade um corpo de jardineiros em trabalho constante. Em algumas praças, até canteiros de rosas há. Algo impensável na realidade carioca, cuja prefeitura deixou seus jardineiros envelhecerem e se aposentarem, sem substituição.

Essa é uma cidade em que tudo sempre muda. O restaurante, onde se tomava uma sopa barata de shoyo, já não existe. Os punks do East Village também já não existem. Nem os latinos, nem os artistas pobres da Tompkins Square. Tudo é gentrificação. Do sujeito que, a exemplo do Selaron, ladrilhava a St. Marks Place, só sobrou uma ou outra base de poste recoberta por mosaicos. O senhor afegão que, muito antes de sabermos do Taliban, vendia umas quinquilharias naquela rua, também se foi.

Em muito poucos anos, os bairros trocam de roupa, e de personalidade. Se o East Village já não é underground, o Meat Market District ficou chic, o Brooklyn entrou na moda, e o Harlem agora é um lugar bastante misturado. Poucas são as permanências. Uma delas, a Capela de St. Paul, de 1766. E o vazio das torres do World Trade Center, onde águas correm continuamente para dentro da terra.

Nova Iorque é cidade de passagem. Muitos vêm em busca do sonho artístico, outros fugindo de suas famílias e cidades conservadoras e homofóbicas, outros ainda para passar um tempo, enquanto ainda não sabem bem o que fazer da vida. É cidade boa para se ser jovem. Depois, eles se vão, sabe-se lá para onde. Quem sabe até para perpetuar o conservadorismo que um dia lhes oprimia.

São poucos os que ficam para envelhecer. Se ficam, correm o risco da solidão. Por sorte, têm os parques. E os bancos corridos. E as memórias de dias agitados e animados. Como os que vivem os jovens moradores de agora.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

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