Roberto Anderson: A Cultura da cidade

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre as manifestações culturais da cidade

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A Cultura é ainda um dos pontos em que a Cidade do Rio de Janeiro se destaca no panorama nacional. Pode se dizer ainda, porque se não houver cuidado, incentivos públicos e privados, e políticas públicas para o setor, ela, apesar de continuar existindo entre nós, poderá perder relevância. Sem a área da Cultura, a cidade seria apenas o maltratado balneário. Ela é fonte de trabalho para aproximadamente 11% da população economicamente ativa do Rio de Janeiro, com enorme potencial de crescimento. Samba, bossa nova, MPB, Funk, dança do passinho, Academia Brasileira de Letras, Theatro Municipal, MNBA, MAM, TV Globo, Cinema Novo, Parque Lage e Jardim Botânico são alguns dos ícones da cultura brasileira que têm o Rio como origem.   

Décadas atrás a Prefeitura deu início à construção de uma importante rede de equipamentos culturais, englobando teatros, museus, centros de referência da dança, da música, lonas culturais, arenas cariocas e naves do conhecimento. No entanto, o cenário atual é de abandono, com diversos desses equipamentos culturais sucateados. Além da recuperação dessa rede de equipamentos culturais, ela precisaria ser repensada, visando se alcançar uma melhor coerência territorial, já que em extensas áreas da cidade não há sequer uma lona, um teatro ou um cinema.

Essa mesma Prefeitura carioca já teve programas de apoio a companhias de teatro e dança, mas hoje, além de não mais os apoiar, suspendeu desde abril os repasses da Lei do ISS aos projetos qualificados. O poder público não pode abrir mão de sua responsabilidade em incentivar a criação cultural na cidade, inclusive através de subsídios de longa duração para grupos artísticos, selecionados de forma transparente e abrangente. Esses grupos precisam dessa segurança para exercerem seu trabalho de criação.    

É necessária também a democratização do acesso à cultura, com mais condições para o desenvolvimento de criações locais. Os pontos de cultura, criados na gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, são instrumentos de fomento a essa criatividade local. A sua ampliação numérica incentivaria o surgimento de mais manifestações e mais grupos de criação de cultura local.  

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O incentivo à produção cultural e artística dos alunos das escolas municipais pode ser uma excelente porta de entrada das crianças e jovens nesse universo de possibilidade que é a atividade cultural. É fundamental haver cultura nas escolas, como artes plásticas, oficinas de criação, leitura, bandas e orquestras, dança e teatro. Devem existir também programas municipais que levem os alunos a salas de concerto, museus, teatros e demais instituições culturais.

A adoção do conceito de bibliotecas parque foi uma importante renovação ocorrida nos últimos tempos nesse setor. Ficou para trás a imagem de espaço para poucos. As bibliotecas parques são espaços de convivência, que visam integrar a leitura a outras artes, como meio de interação e socialização. Mas elas precisam estar distribuídas pelos principais subcentros da cidade e nas grandes comunidades, onde poderão promover novas experiências artísticas e culturais. A Prefeitura deve apoiar também as bibliotecas comunitárias, que são iniciativas locais, muitas vezes sob a responsabilidade de alguém abnegado, mas que suprem a carência desses equipamentos em diversos bairros populares.

O Patrimônio cultural é outro ponto forte do Rio de Janeiro. Por ter sido, por tanto tempo, a capital do país, a cidade reúne exemplares arquitetônicos da colônia, do império, da República Velha, e do modernismo. Mas boa parte desses imóveis encontra-se em processo de arruinamento. É preciso lançar mão de instrumentos criativos, como o custeio compartilhado da restauração de pequenos imóveis com o proprietário, e a pressão, via IPTU progressivo, para que proprietários saiam da inércia que leva à deterioração desses imóveis. Uma importante ação da Prefeitura carioca seria a ampliação da proteção ao Patrimônio carioca, através de uma busca ativa por bens fora dos circuitos mais glamorosos, especialmente nos centros de bairro ao longo dos ramais ferroviários, incentivando a sua recuperação física. Quando estiverem sem uso, que se incentive a sua destinação à habitação social e à cultura.

Por fim, uma tarefa urgente será pensar como minimizar as dificuldades dos espaços culturais, acarretadas pela pandemia da Covid-19, assim como aos trabalhadores da cultura. Se faz necessária a criação de redes de apoio mútuo entre esses espaços e os profissionais, com a busca de formas criativas de incentivo à retomada da produção cultural após esse período difícil. Os cariocas são, caracteristicamente, voltados para a interação e a criatividade. Que eles possam usufruir de uma ampla gama de opções culturais e que toda sua criatividade seja incentivada para que a cultura aqui continue a florescer. E que o Rio de Janeiro continue a brilhar.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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