Roberto Anderson: A fazenda

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre a rotina de trabalha na FPJ

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(Foto: Reprodução)

O sujeito precisa acordar cedo, mas é cedo de verdade, quando, mesmo no verão, o céu ainda não clareou. É que o caminho até o local de partida para a lida é longo. Quando for seis horas da manhã, ele já terá que abrir os portões. 

Os outros trabalhadores também já estão chegando aos diversos locais de encontro, de onde partirão para o trabalho. Mas dá para tomar um café e saber das novidades dos colegas. Depois é reunir enxadas, ancinhos e tesouras. Se for dia de plantio, uma turma já estará indo ao horto escolher mudas para empilhá-las na caminhonete. 

Enquanto isso o encarregado de preparar o alimento dos animais já começa a picar legumes e hortaliças, e a separar o milho e a ração. A bicharada come bastante, e mais de uma vez por dia! É o que garante o pelo lustroso e as penas coloridas. 

As turmas de campo já chegaram onde vão atuar. Avaliam o quanto o mato avançou e o que dá para aproveitar. Nos últimos tempos tudo estava meio abandonado. Capinam duro, arrancam com as mãos as ervas daninhas, seus olhos treinados sabendo separar o que pode ficar. 

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Antes do plantio, é preciso afofar a terra. Enxadas entram em ação. A terra tá bem seca e um pouco de água vai bem. As mudinhas vão sendo retiradas dos saquinhos pretos e plantadas nas covinhas onde agora seguirão sua vida fora da proteção da estufa. 

Pessoas passam e gostam de ver as turmas trabalhando. Cumprimentam, perguntam sobre o que está sendo plantado, e às vezes oferecem para aguar as plantinhas nos dias seguintes. 

A alegria é grande porque hoje também é dia de plantio de mudas de árvores. Os locais e as espécies foram escolhidas por especialistas, com décadas de experiência no assunto. Mas são os braços trabalhadores que abrem as covas, jogam adubo, colocam a muda no lugar onde, se tudo correr bem, se desenvolverão. As folhas da leucena, árvore oportunista para uns, invasora para outros, mas cujas folhas são ricas em nitrogênio, são ótimas para figurarem nesse berço em que a futura árvore crescerá. Por fim, tem que fincar os tutores, ligá-los às mudas, e jogar as últimas pás de terra.

O sol já vai alto, o trabalho está avançado quando o pessoal do escritório chega para conferir. Alguns são entusiasmados, indagam sobre tudo e até tentam meter a mão na massa. Mas sua função é outra. Precisam planejar onde as turmas trabalharão nas próximas semanas, garantir insumos e ferramentas, e o mais importante, se o pagamento virá direitinho, sem surpresas ou atrasos.

Muitas vezes as marmitas são consumidas ali mesmo, os trabalhadores sentados em alguma sombra. Bom mesmo é quando dá para voltar à sede, onde um companheiro prepara a bóia, com os ingredientes comprados por todos. Não há luxos. O refeitório é simples, assim como os vestiários. O pagamento sempre foi menor do que o desejado. Mas o amor às plantas e aos animais faz com que todos se dediquem ao longo de todos esses anos.

À tardinha é hora de voltar aos locais de onde partiram. Tomar um bom banho, trocar de roupa, pegar a mochila surrada, dar adeus aos companheiros, e voltar para casa. Logo os portões serão fechados. A lida do dia na fazenda urbana chegou ao fim. Amanhã tudo recomeça na Fundação Parques e Jardins. 

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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