Roberto Anderson: Abrigos antiaéreos?

'Quando caem as bombas, são os únicos locais onde os civis conseguem ter alguma sensação de segurança, apesar das privações'

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A invasão da Ucrânia pela Rússia gerou novas, mas infelizmente conhecidas, imagens de bombardeios a áreas civis, perdas de vidas, destruição da infraestrutura de um país, deslocamentos internos, famílias separadas, e refugiados cruzando as fronteiras. Reavivou também o papel de abrigos antiaéreos distribuídos pelas cidades, nos subsolos dos edifícios e em estações de metrô. Quando caem as bombas, são os únicos locais onde os civis conseguem ter alguma sensação de segurança, apesar das privações. 

O Brasil já teve uma legislação que obrigava a construção de abrigos antiaéreos, o Decreto 4.098, de 1942, editado por Getúlio Vargas dez dias após a entrada do país na Segunda Guerra Mundial. Em seu Artigo 3°, era determinado que edifícios com cinco ou mais pavimentos, ou área coberta de mais de 1.200 metros quadrados, construíssem esses abrigos. Estariam alcançados pelo decreto os edifícios de habitação coletiva, hotéis, hospitais, casas de diversão, estabelecimentos comerciais, industriais e de ensino.

Alguns abrigos antiaéreos até foram construídos em edifícios de cidades brasileiras. Hoje eles se encontram transformados em garagens, depósitos, salões de festas, ou refeitórios. Em Belo Horizonte o edifício Tupynambás contava com um espaço assim, três metros abaixo da portaria, mas hoje abandonado. Em São Paulo, o edifício São Luís, na Praça da República, projeto do arquiteto francês Jacques Pilon, conta com um espaço destinado a abrigo de 100 metros quadrados. Esse mesmo arquiteto depois projetou a Maison de France e o edifício Chopin no Rio de Janeiro. 

Também aqui no Rio foram construídos alguns abrigos. Um deles no subsolo da Galeria Menescal, em Copacabana. De 1942, o edifício foi projetado pelo engenheiro Humberto Menescal, e contava com “o maior abrigo antiaéreo já licenciado pelo Serviço de Defesa Civil”. Da mesma forma, em Niterói, o edifício Moema, na Praia de Icaraí, conta com um abrigo antiaéreo, atualmente utilizado como bicicletário.

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O único abrigo antiaéreo construído para uso público no Rio é a atual garagem abaixo da Praça dos Expedicionários, no Castelo. A praça esteve fechada ao público durante muitos anos, quando foi indevidamente ocupada pelo canteiro de obras da construção dos intermináveis anexos do Fórum. Em 2016, a praça foi reurbanizada e reaberta ao público, mas alguns de seus elementos paisagísticos, como cascatas e espelho d’água nunca foram reativados.

E nossas atuais estações de metrô, serviriam como abrigos antiaéreos?  É uma informação difícil de se obter. Mas vale saber que a Estação Gávea, sob o estacionamento da PUC-Rio, ficará a 55 metros abaixo do nível da rua. Ela será a mais profunda da cidade. O problema é que atualmente ela se encontra inacabada e cheia de água, bombeada para dentro para impedir o colapso das paredes e estruturas já construídas. Já sob a Estação Carioca, existe uma plataforma inacabada, a 40 metros abaixo do nível da rua. Ela foi projetada para a passagem da linha 2 do metrô, que iria até à Praça XV. O governo Cabral optou por uma gambiarra, inserindo a linha 2 no trajeto da linha 1. Assim a plataforma na Carioca permanece inutilizada, a nos lembrar da má gestão dos recursos públicos por nossos governantes. 

No passado, o Rio de Janeiro já foi atacado por corsários franceses, tendo sido ocupado por um deles, Duguay-Trouin, em 1711. Depois disso, só vivemos a ameaça, não concretizada, dos submarinos alemães, que teriam rondado a costa brasileira na Segunda Guerra Mundial. Mas, se um dia as bombas russas, ou de quaisquer outros invasores, chegarem até nossas praias, pelo menos sabemos para quais abrigos correr…

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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