Roberto Anderson: O diverso Centro do Rio

O Centro está prestes a passar por alterações importantes, que se espera o tornem ainda mais interessante e diversificado

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Tradicionalmente, o centro do Rio de Janeiro constituía um único bairro. Mais recentemente, foi desmembrado o bairro da Lapa, e os dois passaram a conformar a II Região Administrativa (II RA). Mas mesmo essa divisão não dá conta da diversidade de territórios ali existentes. Na década de 1960, já se percebia a existência de uma área dedicada ao comércio varejista, com ruas de pedestres, outra mais ocupada por escritórios, uma área com predominância de bancos e sedes sociais de empresas, e uma área de diversões e hotéis (A. C. Duarte).

Atualmente o Centro passa por um momento de perda de dinamismo, como consequência da pandemia de Covid-19, que forçou o exercício do trabalho remoto, e provocou o fechamento de muitos postos de trabalho. Essa redução da presença de escritórios no Centro, ao que tudo indica, parece ter um caráter mais permanente. A resposta do poder público municipal é o incentivo à vinda de novas moradias para a área, através do projeto Reviver o Centro. Se o projeto tiver sucesso, aquela área passará por transformações importantes, que irão alterar as suas atuais caracterizações territoriais. Assim, é importante conhecer o que foi o Centro até aqui.

A II RA contém áreas características de um centro metropolitano, com atividades financeiras e de serviços, áreas com grandes equipamentos culturais e áreas onde “cristalizaram-se” o uso residencial de baixo e médio poder aquisitivo ou o comércio varejista. De forma a melhor compreender a atual diversidade do Centro, é possível dividi-lo em seus setores de maior homogeneidade: Praça XV; Castelo; Aeroporto; Quadrilátero Financeiro; Saara/ Pç. Tiradentes/Uruguaiana; Esplanada de Santo Antônio; Cinelândia; Lapa; Cruz Vermelha; Adjacências da Rua de Santana; Mal. Floriano/Central do Brasil; Mal. Floriano/ Pç. Mauá.

A área no entorno da Praça XV engloba os logradouros entre a baía e a Rua 1° de Março, e entre a Av. Pres. Vargas e a Rua Santa Luzia. É aquela que concentra os imóveis mais antigos da cidade e monumentos de grande porte. Atualmente, concentra grandes equipamentos culturais como centros culturais e restaurantes. Mas até 1991, lá funcionou o mercado de peixes, com seu imenso contingente de caminhoneiros, vendedores, compradores de peixes e ambulantes. A partir de então, ocorreu um drástico processo de elitização, baseado na implantação de equipamentos culturais, e iniciado com a abertura do centro cultural no Paço Imperial em 1985. A ele vieram se juntar o Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB (1989), a Casa França-Brasil (1990), do Espaço Cultural dos Correios (1993) e o Espaço Cultural da Marinha (1998).

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O Castelo é a área compreendida entre a Av. Nilo Peçanha (inclusive) e a Av. Beira Mar e entre a Rua México e a Av. Mal. Câmara. Resultante do arrasamento do Morro do Castelo, a área sedia prédios de escritórios, representações dos ministérios, secretarias estaduais e institutos de previdência, tendo um forte uso institucional.

A área do Aeroporto é aquela entre o Aeroporto Santos Dumont e a Av. Mal. Câmara, marcada pela forte presença desse equipamento, por instalações da Força Aérea, e edifícios de escritórios.

O Quadrilátero Financeiro é a área com grande concentração de instituições financeiras compreendida entre as ruas 1° de Março e Gonçalves Dias e entre a Pç. Pio X e a Av. Nilo Peçanha. É o coração do Centro, que justifica a sua caracterização como centro de negócios.

A área que se pode chamar de Saara/ Tiradentes/ Uruguaiana é a área do comércio varejista, nacionalmente conhecida por sua diversidade e pelo trabalho de gerações de imigrantes. Está compreendida entre a Rua Gonçalves Dias e a Praça da República, e entre a Av. Pres. Vargas e as ruas Visconde do Rio Branco e Carioca.

A Esplanada de Santo Antônio é a área entre a Rua da Carioca e a Av. Chile e entre o Largo da Carioca e a Rua do Lavradio. É ocupada por edifícios de uso institucional, como a Petrobrás, o BNDES e pelo comércio.

A Cinelândia é a área de equipamentos culturais de grande porte e de diversões, entre a Av. Almirante Barroso e a Av. Beira Mar, e entre a Rua México e a Av. Rep. do Paraguai. Apesar do fechamento da maioria dos cinemas, ainda possui um enorme potencial para o lazer e a cultura.

A Lapa engloba o entorno da Rua da Lapa e dos Arcos, e parte das Ruas do Lavradio, Riachuelo e Mem de Sá. Concentra equipamentos variados de diversões, caracterizando-se por um uso mais popular. Resistiu ao tempo, à repressão de costumes e se reinventou com espaço de lazer.

A área da Cruz Vermelha é aquela entre a Rua do Lavradio e Riachuelo, e entre a Av. Visconde do Rio Branco/ Frei Caneca e Riachuelo. É uma área marcada pela permanência do uso residencial no Centro.

A área Adjacências da Rua de Santana, entre o Campo de Santana e o Viaduto São Sebastião, e entre a Av. Pres. Vargas e a Rua Frei Caneca também se caracteriza pela permanência do uso residencial e pelo comércio de materiais de construção.

A área da Marechal Floriano/ Central do Brasil é aquela entre a Av. Pres. Vargas e a Rua Barão de São Félix, e entre a Rua Camerino e o Viaduto São Sebastião. É uma área de comércio varejista e de grandes terminais de transportes, como a Central do Brasil, o Terminal Rodoviário Procópio Ferreira e o Terminal Rodoviário Américo Fontenele.

Por fim, a área Marechal Floriano/ Pç. Mauá, entre a Av. Presidente Vargas e a Rua do Acre, e entre a Praça Mauá e a Rua Camerino, é uma área mista, incluindo o comércio varejista, escritórios e residências.

As fisionomias das cidades estão sempre em mutação, às vezes mais sutil, às vezes mais violenta. O Centro está prestes a passar por alterações importantes, que se espera o tornem ainda mais interessante e diversificado.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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1 COMENTÁRIO

  1. Ouvi de muitos comerciantes do Centro do Rio que o BRT afastou o comprador do comerciante deste local.
    Vi uma cidade deserta e BRT’s idem, sem nenhuma pessoa dentro.
    Afinal, o que vai mudar, além da posição dos camelôs?
    O acesso ao metrô da Uruguaiana, em dia de chuva, é um desespero.
    No entanto, os camelôs sempre estarão onde tiver uma parada de ônibus ou qualquer local de acesso a algum meio de transporte. E isto deve ser levado em consideração.
    Ah, tropecei nos buracos das calçadas do Centro, onde a pedra portuguesa deu lugar a poças e à imundície.
    Centro é lugar de escritório, barulho, poluição e nunca mais será local de moradia.
    Um guardinha mal vestido, mais parecia um organizador da batucada de uma escola de samba e não parava de apitar neuroticamente… Como morar com um maluco desses no seu ouvido?

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