Rogério Amorim: Prioridades Vulgares

O vereador Dr. Rogério Amorim fala o porquê de ser contra um PL que estabelece prioridade para doadores de sangue em estacionamentos públicos ou privados e em filas de caixas

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Imagem de mohamed Hassan por Pixabay

Esta semana tentei impedir um projeto na Câmara Municipal e me recordei de toda a minha campanha em 2020. Lembrei de como eu falei em diversos encontros, públicos, que o vereador não deve se limitar a ser um edil que passa as tardes no ar-condicionado elaborando leis – a maioria desnecessárias e, entre estas, muitas que até atrapalham a vida do cidadão – e inventando homenagens e medalhas. Defendia eu, e ainda defendo, que isso é uma pequena parte do trabalho do vereador, que precisamos ser o link entre a população e o poder público, sermos cada vez mais atuantes junto às pessoas para quem trabalhamos.

Um dia, quem sabe, cada vereador e deputado eleito terá, online, um apanhado de todas suas promessas e afirmações durante as campanhas, para que o eleitor-contribuinte possa cobrar diariamente aquilo que é um dos ativos mais necessários na política: a COERÊNCIA.

E foi em nome da coerência que eu fiz de tudo para derrubar o PL 188/2021, que estabelece prioridade para DOADORES DE SANGUE em estacionamentos públicos ou privados e em filas de caixas!

É importante lembrar que a doação de sangue é um ato de AMOR, de BONDADE, de solidariedade. Neste momento em que estamos sentindo tanto as cenas terríveis de Petrópolis, a doação de sangue é praticamente mandatória, bem como as doações de alimentos, medicamentos e demais insumos. No entanto, quero trazer para vocês alguns versículos importantes do evangelho de Mateus:

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Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;

Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.

Mateus 6:2-4

Não se “premia” a doação de sangue – ainda que seja de praxe oferecer um lanche e um brinde para quem doa, e isso há muitos anos. Não se transforma a doação de sangue, um gesto humanitário, numa OPORTUNIDADE de ter prioridade de estacionamento sobre IDOSOS, DEFICIENTES E PORTADORES DE FIBROMIALGIA (estes últimos, pessoas que vivem com dores terríveis todos os dias). Não se dá ao ato de doar sangue, um dos gestos de amor mais incontestáveis da humanidade, uma “benesse” na hora de parar o carro. E imaginem a antipatia da qual o ato de doar sangue iria se revestir quando um jovem “doador” furasse uma fila enorme onde outras pessoas mais velhas estivessem aguardando para pagar as compras!?

Nessa hora, me vem ao pensamento aquele idoso precisando entregar um documento e vendo a vaga ocupada por um jovem que acabou de doar sangue. E conhecendo o caráter de alguns, não duvido que logo aparecessem “certificados de doação falsos” sendo vendidos por aí para garantirem o estacionamento – ora, não tivemos até venda de passaporte vacinal falso?

É isto o que esse projeto traz: oportunidade para o crime, razão para discórdia, risco de extremo transtorno para quem realmente precisa das prioridades. Não há um só ponto positivo. É a vulgarização da bondade e da filantropia, é transformar tal ato de fraternidade num estandarte de mau gosto e em uma pantomina cafona, uma espécie de pisca-alerta para a “virtude” em pleno estacionamento do shopping.

E acima de tudo, tempo perdido: um vereador que passa seus dias elaborando estultices como essa deixa de estar na rua ouvindo a população e conhecendo seus anseios. Pelo jeito, quem está estacionado mesmo é o mandato.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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