Buscando uma experiência autêntica para expandir meu conhecimento, iniciei minha peregrinação rumo ao Ashram de Amma, conhecida mundialmente como a “mestra do abraço” por já ter acolhido mais de 40 milhões de pessoas. Líder espiritual e humanitária, Amma tem milhões de seguidores ao redor do mundo. Até esse momento da jornada, eu não a via como uma mestra iluminada viva. Ouvia dizer e não discordava. Apenas acreditava. Mas, ao longo desta série sobre uma carioca em um ashram na Índia, você verá como essa percepção mudou completamente.
A Jornada até o Ashram
A peregrinação já começa no trajeto. Às 10h da manhã, partimos de carro de Pushkar, no deserto do Rajastão, rumo ao aeroporto de Jaipur, em uma viagem de três horas. De lá, pegamos um voo para Cochin, com conexão em Bangalore. O primeiro trecho durou 2h30; o segundo, 1h. Já em Cochin, seguimos de carro por mais 3h30 até o ashram, localizado na pequena aldeia de pescadores Parayakadavu, onde Amma nasceu, no distrito de Kollam, em Kerala, sul da Índia.
Nossa peregrinação chegou ao fim por aquele dia quando, exaustos, desembarcamos às 2h30 da manhã. Nosso quarto era o D1216, no 12º andar. Duas camas de solteiro, um colchonete fino sobre cada uma – garantindo a esperada cama dura dos ashrams –, um banheiro simples, mas funcional, com privada, pia e chuveiro no estilo indiano, que molha todo o ambiente. A sala tinha uma bancada com pia, armário e um ventilador de teto.
Deitei sabendo que a noite seria difícil. Acostumada ao ar-condicionado, estranhei o calor intenso. Revirei na cama e comecei a me intrigar com um som forte, que eu sabia não ser vento. Parecia o mar. Adormeci.
O Primeiro Amanhecer no Ashram
Poucas horas depois, despertei ao som dos mantras e dos pássaros. Fui até a janela para entender o complexo e, de cima, confirmei minha suspeita: o som vinha do mar, das ondas quebrando na margem. Extremamente relaxante e meditativo, senti que esse som já iniciava um trabalho interior em mim.
Descemos para o café da manhã e nos surpreendemos com uma estrutura ocidentalizada, incluindo uma cafeteria que servia opções vegetarianas e ovos, além de chás, kombuchas e café. O sistema funcionava com um cartão pré-pago, e era necessário adquirir uma caneca de alumínio ou descartável para bebidas. A comida, deliciosa e baratíssima, aliviou um dos meus maiores receios: a alimentação. Minha experiência anterior com prassada (comida oferecida a uma divindade antes de ser compartilhada com devotos) não havia sido das melhores, mas aqui a impressão foi outra.
Conhecendo o Complexo
Logo após, fomos recebidos por Gautam, um americano de Los Angeles que vive no ashram há 26 anos. Ele nos guiou pelo espaço e explicou que o ashram foi construído em 1981, no local de nascimento de Amma, e recebe anualmente cerca de meio milhão de visitantes. A alta temporada ocorre nos meses de dezembro, agosto e setembro, enquanto março – o mês que escolhi – é considerado baixa temporada devido ao calor intenso.
O ashram abriga entre 3.000 e 5.000 pessoas, sendo metade residentes e metade visitantes temporários, entre discípulos monásticos, buscadores espirituais, famílias e peregrinos. Todos compartilham seu tempo entre práticas espirituais e trabalho voluntário. A praia fica logo à frente, mas nadar é proibido. Curiosamente, a maioria dos indianos, incluindo os pescadores locais, não sabe nadar.
Há opções de quartos individuais, coletivos, para casais e famílias. A hospedagem custa 600 rúpias indianas por noite (cerca de R$ 40 em março de 2025). O complexo não oferece Wi-Fi.
Infraestrutura e Regras do Ashram
O ashram dispõe de uma série de serviços:
- Banco e caixa eletrônico (não aceita Mastercard)
- Lojas de produtos indianos
- Barraca de sucos naturais
- Departamento de ecologia
- Centro de atividades (oferece workshops e práticas espirituais)
- Assistência médica (hospital ayurvédico, farmácia e serviço de saúde holística)
- Lavanderia
- Bibliotecas (com livros espirituais em vários idiomas)
- Cantinas ocidental e indiana
- Centro de informações
Do outro lado da ponte, há um hospital e uma universidade, ambos pertencentes a Amma.
Regras e protocolos do ashram:
- Vestimenta: roupas modestas. Mulheres devem usar calças ou saias (longas até o tornozelo), blusas largas, sem decote, tampando braços até o cotovelo; homens devem evitar camisetas sem mangas.
- Autossuficiência: cada um deve lavar sua própria louça e manter seus pertences organizados.
- Respeito à espiritualidade local: silêncio nos templos, cumprimento com “Namastê”, evitar críticas à cultura e religião.
- Conduta: proibição de drogas e álcool, de fotos ou vídeos dentro do ashram e de demonstrações de afeto em público.
A Expectativa pelo Darshan
Já me sinto profundamente abençoada por viver essa experiência, e ainda nem chegou o momento mais esperado: receber o darshan, o abraço de Amma. A grande bênção de uma mestra iluminada em vida.
“Amritapuri é como uma universidade onde pessoas de todas as esferas da vida vêm para estudar a ciência da vida e do amor.”
– Visitante de Amritapuri