O dilema do horário de verão voltou à tona nas conversas entre os brasileiros nesta semana. Amado por uns e odiado por outros, o tema gera debates em reuniões entre ministros. Na última quinta-feira (19), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou o retorno do horário de verão no país. Contudo, o governo federal ainda irá avaliar o cenário, antes de optar pela medida.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, uma decisão deve ser tomada nos próximos dez dias. Se for adotada, a proposta valeria ainda para 2024, não necessariamente em todo o verão.
As declarações do ministro ocorreram após uma reunião da ONS, que indicou que a adoção do horário de verão é prudente. “Temos hoje uma política de planejamento do setor elétrico muito alicerçada na ciência e na busca do equilíbrio entre segurança energética e melhor tarifa para a população. E com base nisso, vamos analisar a situação”, argumentou Silveira.
O encontro ocorreu na sede do ONS, no Centro do Rio, responsável por coordenar e controlar as operações de geração e transmissão de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN). Técnicos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) também participaram. “Foram apresentados dados objetivos da crise hídrica que estamos enfrentando no Brasil. O Cemaden mede os índices pluviométricos nacionais desde 1950 e hoje registramos o menor índice desse período”, relatou o ministro.
Silveira reiterou que, apesar da recomendação do ONS, não há risco energético para 2024 devido ao planejamento adotado. Assim, a adoção do horário de verão será avaliada com cautela. Ele também enfatizou que ainda não está convencido da necessidade da medida.
“Se fosse um indicativo que apontasse diretamente para risco energético, nós não teríamos nenhuma dúvida na adoção do horário de verão. Obviamente, dando prazo necessário ao planejamento dos diversos setores da economia e da sociedade. Mas eu ainda não me convenci da necessidade da medida. Demonstrou-se que ela tem um grau de economicidade, demonstrou-se que ela aumenta nossa confiabilidade. Mas, considerando a tranquilidade de que não faltará energia no Brasil graças ao planejamento que nós implementamos, eu ainda creio que precisamos avaliar alternativas antes de adotar essa decisão. Porque ele mexe com a vida de todos os brasileiros”, disse.
Ele ressaltou, no entanto, que a opinião dos variados segmentos econômicos interessa exclusivamente para fins de planejamento. “Queremos dialogar não para nos ajudar a decidir. É para poder entender melhor qual seria o prazo de planejamento de setores estratégicos nacionais. A decisão deve ser baseada no planejamento e na ciência. O gestor tem que ter a coragem de tomar certas medidas, independente de agradar ou desagradar algum setor”, acrescentou.
O horário de verão foi instituído no Brasil em 1931 e funcionou continuamente de 1985 até 2019, quando foi revogado pelo governo anterior, em abril de 2019, que alegou baixa efetividade na economia energética.
Questões técnicas podem ser enfrentadas
Mesmo em dúvida sobre a adoção da medida esse ano, o ministro destacou as questões técnicas que poderia ser enfrentadas com a implementação do horário de verão. “Hoje nós não temos problema de geração de energia mesmo com essa grave crise de hídrica. Mas temos um momento do dia, entre 18h e 21h, em que precisamos despachar quase que na totalidade o nosso parque térmico. Isso custa mais e estressa mais o sistema. Temos que considerar a economia para o consumidor. E também levar em conta que o setor elétrico sempre tem que contar com eventuais fatos intervenientes. Tem que manter uma folga”.
Conforme Silveira, é preciso levar em conta não só as demandas de transmissão, mas também o ritmo de geração. “Alguns técnicos vão dizer que o horário de ponta não é mais entre 18h e 21h e sim entre 14h e 16h. Realmente, entre 14h e 16h, há maior exigência do ponto de vista da transmissão. Porém, nesse período, nós estamos no pico da geração das energias renováveis, como a energia solar”.
População defende o horário de verão
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também sugeriu a possibilidade de reimplementação da medida, e agora a população também se manifesta. Um levantamento feito pelo portal Reclame Aqui e pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) revela que, de acordo com a pesquisa realizada com três mil pessoas, cerca de 55% dos entrevistados são favoráveis à mudança nos relógios ainda este ano.
Horário de verão ajuda na economia de energia. Há um aumento da atividade normal dentro do tempo de luminosidade natural.