A recuperação das passagens subterrâneas de Botafogo é uma antiga reivindicação dos moradores e não é por menos.
Mesmo com tantos investimentos e reformas de espaços públicos na cidade nos últimos anos, a orla de Botafogo continua pouco frequentada devido a sua péssima infraestrutura de conexão com a quadra dos prédios.
As passagens subterrâneas sob as pistas da Avenida Nações Unidas, uma via expressa, em dias de chuva, além de fétidas, apresentam inúmeros pontos de alagamentos e que em casos extremos, impedem completamente a travessia.
Muito vem se discutindo em relação a necessidade de adoção, como regra no desenho urbano, de elementos que priorizem o urbanismo caminhável.
Em relação a Botafogo, as passagens subterrâneas, além de repulsivas e não inspirarem segurança, acabam contribuindo ainda mais para o esvaziamento da orla, afastando as pessoas de um espaço que poderia ser melhor ocupado.
A poluição da praia de Botafogo é parte do problema que provoca o esvaziamento da região, como no verão, mas a falta de ocupação dos espaços deve-se em grande parte pela insegurança. A insegurança é consequência do abandono e da falta de uso.
A Praça Pimentel Duarte, que oferece um amplo espaço livre, com uma vista fantástica é subutilizada pela pouca acessibilidade e nenhum uso.
Considerando as centralidades por áreas de planejamento, Botafogo figura como uma das mais importantes da AP 2. No entorno da Praça Pimentel Duarte, onde encontram-se um dos acessos de uma das duas passagens subterrâneas, localizam-se vários centros empresariais, sede de empresas internacionais, shoppings, diversos cinemas e bares.
As presenças do Botafogo Praia Shopping e do Itaú Cultural deram uma boa contribuição para parte da região na quadra dos prédios. O movimento das lojas, restaurantes e cinemas garantem um fluxo, inclusive noturno, de pessoas circulando pelas calçadas da região, mas e a orla?
Com o lamentável estado de conservação das passagens subterrâneas, até para incentivar uma simples caminhada pela orla, moradores e turistas, evitarão caminhar por ali.
O fato da Avenida Nações Unidas ser uma via expressa, portanto sem sinais e faixa de pedestres, impõe sobre as passagens subterrâneas uma importância ainda maior diante à infraestrutura de trânsito para os pedestres.
Além da recuperação das passagens subterrâneas, soluções bastante interessantes sugiram para garantir a ocupação da região em dias de sol e chuva. É o caso da indicação nº 1821/2017, enviada ao Poder Executivo pelo vereador Alexandre Arraes que propõe, a construção de uma galeria comercial no subsolo da Praça Pimentel Duarte, a exemplo da Turnstyle Underground Market de Nova York, onde funciona um centro gastronômico. Para isso, foi proposto na indicação uma parceria público-privada, incluindo além da galeria comercial, a construção de outra passagem subterrânea, na altura da Rua São Clemente com a Avenida Praia de Botafogo.
Lojas e serviços poderiam ser instalados no subsolo da praça e o piso da Praça Pimentel Duarte funcionar com um amplo terraço para mesas e espaços recreativos, garantindo o uso diversificado e no subsolo, serviços diversos e banheiros para o maior conforto dos usuários que frequentarão o espaço.
A proposta de conexão da segunda passagem subterrânea garantiria a conexão segura da quadra dos prédios até a orla, criando uma linha de travessia no subsolo, aproveitando a estrutura da passagem existente, que seria reformada integrando o conjunto da galeria comercial subterrânea. Desta forma, todo o percurso poderia ser feito sem nenhum risco de atropelamentos, por exemplo.
Na galeria, além de bares e lojas, vários outros serviços poderiam ser oferecidos, como academia de ginástica e órgãos de serviços públicos. Em parte, se assemelharia ao que ocorre na estação do Metrô Carioca, que possui cafés, lojas e academia.
No caso de Botafogo, a segunda conexão de travessia subterrânea, ao ser proposta pela Rua São Clemente, está relacionada a proximidade com o acesso ao metrô.
A prefeitura do Rio, quando for tratar da revitalização da Praia de Botafogo deveria considerar, de forma impreterível, a conexão das quadras dos prédios com a orla. Essa proposta do Arraes deveria ser avaliada pela prefeitura como uma possibilidade interessante.
Sem melhorar a circulação de pessoas, a pé e de bicicleta, entre as quadras dos prédios, a Praça Pimentel Duarte e a praia, poucas alternativas restarão ao sonho de ver a orla de Botafogo repleta de pessoas de todas as idades permanecendo ou circulando por lá.