Despertamos completamente quebrados. As pernas sentiram bastante, especialmente os joelhos esquerdos de cada um. Sentiríamos os impactos durante os próximos dias, uma constatação de que precisamos melhorar bastante o preparo físico, parte da vida sobre rodas que ainda não conseguimos equalizar. Se ficou curioso para saber o porquê estávamos assim, leia a última coluna.
Apesar da vontade de ficar o dia inteiro de pernas para o ar, era hora de nos despedirmos do Parque Nacional Tierra Del Fuego. Infelizmente, pois amamos cada minuto. Como se não bastasse, tínhamos algumas missões rotineiras acumuladas para cumprir na cidade.
A primeira foi lavanderia. Utilizamos os serviços do Lavadero HoHo, onde conseguimos não só que nossas roupas ficassem prontas no final do dia (algo superimportante para nós que não temos muita roupa de frio ou cobertas) como um belo desconto quando contamos nossa história. No final das contas pagamos ARS$ 2000,00 – R$50,00 para lavarmos três sacolas grandes de roupas mais as duas cobertas.
A tarefa seguinte era encontrar onde lavar a nossa casa, que estava implorando por um banho já fazia um tempinho, mas seguramos por conta da quantidade de ripio que pegaríamos. Com a indicação da funcionária da lavanderia fomos no Lavadero Los Pinguinos. Explicamos que a van era nossa casa e que não poderíamos ficar sem ela por muito tempo, conseguimos agendar para o mesmo dia às 16h. Por conta da pandemia não atendiam mais por ordem de chegada. Nos cobraram ARS$3000,00 – R$75,00.
Enquanto aguardávamos para lavar a casa, aproveitamos para reabastecer a despensa no Carrefour que ficava duas quadras dali. Traímos nosso querido La Anônima (risos). Em seguida fizemos um almoço rápido em casa, uma saladinha com frango grelhado, e já estava no nosso horário.
Retornamos ao Lavadero HoHo e, com as três missões cumpridas, voltamos para o camping municipal para uma noite de resenhas e choripan (sanduiche de linguiça) com os brasileiros.
Acordamos para um dia de passeio, na verdade um dos mais clássicos do Ushuaia e que não poderíamos deixar de fazer. Antes, porém, tínhamos outra questão para resolver. O clima no sul da Argentina também é seco e a Dani tem sentido demais, de modo que precisávamos achar um umidificador de ambiente no centro da cidade.
Fizemos aquele sacrifício básico de bater pernas pelas ruas do centro, o que gostamos pouco de fazer (risos), e encontramos com certa facilidade o umidificador e até essência para deixar nossa casa com cheirinho gostoso.
Daí foi o tempo certo de almoçarmos em casa e chegarmos no porto turístico de onde sairia nosso passeio do dia às 15h: navegação com mini trekking no Canal Beagle.
Embora a solicitação de antecedência para trocar o voucher que adquirimos com a empresa Brasileiros em Ushuaia fosse de 30 minutos, chegamos com mais de uma hora de antecedência e já havia uma fila imensa. Troca feita, fomos direcionados para entrada do porto onde estaria nosso catamarã.
Conseguimos nos sentar na janela com um grupo de senhoras argentinas muito simpáticas, que inclusive nos contaram sobre um programa de incentivo do turismo nacional para terceira idade, no qual o governo restitui boa parte dos gastos, algo em torno de 70%. Achamos o máximo, deveria existir algo assim no Brasil!
Depois de apreciar a vista maravilhosa da cidade saindo do porto, as montanhas argentinas e chilenas no famoso canal que conecta os oceanos Pacífico e Atlântico, chegamos na nossa primeira parada. A Isla de los Pajaros, onde vimos de pertinho os leões marinhos e os comorones, pássaros muito parecidos com os pinguins, só que com asas.
Após mais alguns minutos de navegação, chegamos em uma das Islas Bridges onde havia, na realidade, uma leve caminhada para ver a flora local e tirar algumas fotos com a cidade bem ao fundo.
Por fim, chegávamos em um dos mais belos cartões postais do Ushuaia: O Farol do Fim do Mundo. Passeamos bem devagarinho perto dele, conseguimos fazer várias fotos e filmagens lindas, realmente é um contexto deslumbrante. Porém, descobrimos que o Faro les Eclaireus não é o verdadeiro farol do Fim do Mundo. Embora seja cartão postal da cidade e tenha essa fama, o último farol ao sul do continente fica na Isla de Los Estados.
Retornamos envolvidos por um bom papo com as senhoras argentinas e pela paisagem fascinante. Chegamos 18h super empolgados com o passeio e aproveitamos para tirar mais algumas fotos pela cidade, estava um dia lindo. Se existe uma coisa que não podemos reclamar em nossa jornada é de São Pedro, que tem caprichado nos dias maravilhosos.
Fechamos nosso dia com chave de ouro jantando no Dieguito. Sério, o lugar que mais nos sentimos em casa comendo fora do Rio de Janeiro. Em uma rua mais para dentro da cidade tivemos a felicidade de cruzar com esse achado. Tinha churrasco, pizza, empanadas de vários sabores, gente falando alto, futebol na TV e decoração com camisas de times espalhadas, cerveja artesanal, e, talvez, o único atendimento que preste em Ushuaia. Foi uma noite maravilhosa, com muita cerveja, linguiça de entrada, pizza de prato principal e muitas empanadas para levar!
Depois de alguns dias de descanso, queríamos conhecer outro clássico do fim do mundo: o Glaciar Martial. Ao acordarmos fomos direto para a base da trilha, tomamos nosso café da manhã por lá e saímos em busca de informações. Conseguimos em um refúgio de café com uma senhora supersimpática.
Escolhemos o caminho que começava pelo bosque e depois encontrava com a estrada principal de ripio. Apesar da elevação constante do trajeto e do vento forte na parte final, o trekking foi bem tranquilo. Especialmente porque subimos a régua do nosso parâmetro com o Sendero do Cerro Guanaco. O trajeto é lindo e o gran finale ao se aproximar do Glaciar é impactante: o gelo/neve nas montanhas e, do outro lado, uma vista panorâmica da cidade. Sem contar a emoção, pois foi a primeira vez que a Dani teve contato com a neve nas montanhas.
Descemos com calma, o joelho da Dani ainda deu alguns gritos pelo caminho. Na base fomos conhecer La Cabaña, uma casa de chá lindíssima que fica ali, com vários utensílios atrelados ao chá e uma diversidade de sabores. Como tinha fila para sentar e queríamos almoçar em casa, compramos apenas um chá para levarmos conosco e dois enfeites que a Dani bateu o olho e amou.
Descemos para o centro da cidade e saímos para caminhar. Em verdade, caminhamos bastante, estávamos melancólicos e com aperto no coração, sentíamos o tom da despedida que se aproximava.
Cientes que o fim do Fim do Mundo estava próximo, não poderíamos ir embora sem provar a famosa Centolla, conhecida também como King Crab ou Caranguejo Gigante. Nos organizamos para jantar no restaurante El Viejo Marino. Pasmem, quando passamos na porta, mais de uma hora antes de abrir já tinha fila. Nossa casa estava próxima e conseguimos monitorar dali o aumento da fila, porém não adiantou muito. Logo tivemos que ir para porta. Conseguimos entrar com a primeira leva de clientes, ficou bastante gente de fora porque o restaurante é pequeno. Para variar, o atendimento era bem ruim, mas não nos abalamos com isso. Escolhemos uma entrada de Centolla ao natural para Dani provar (nunca havia experimentado) acompanhada de uma cerveja gelada. Depois um prato individual para cada um: para Dani com queijo parmesão gratinado e para o Livio com molho de vinho. Os dois estavam uma delícia, valeu muito a pena. Pagamos o total de ARS$6880 – R$172,00.
Conquistávamos nosso grande objetivo: chegamos e desbravamos o Fim do Mundo. Vivemos semanas incríveis que jamais esqueceremos. Mas a nossa história não podia terminar aqui! Queríamos mais! Tínhamos muita vontade de seguir adiante e criamos um novo marco para alcançarmos: conquistar a América do Sul! Vamos partir do Ushuaia até a Colômbia! Bora nessa aventura com a gente?!
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