O estado do Rio de Janeiro, pioneiro no uso de helicópteros exclusivos para o transporte de órgãos e recém-nascidos prematuros com suporte de UTI, tem se tornado referência para outras regiões do Brasil. Desde agosto deste ano, a Superintendência de Operações Aéreas (SOAer) está treinando um piloto do Amazonas, com o objetivo de implantar o serviço no Norte do país. A equipe fluminense, em operação há três anos, já transportou 627 órgãos e 312 bebês, colocando o estado do Rio na 3ª posição no ranking nacional de transplantes, após ter ocupado o 14º lugar.
O piloto Ralf Kanitz, do Amazonas, é um dos profissionais que está passando pelo treinamento no Rio. Ele, que desde criança sonhava em pilotar aeronaves, acompanhava a trajetória da SOAer pelas redes sociais e viu na oportunidade de treinamento uma chance de replicar o modelo no seu estado de origem. Kanitz, com 25 anos de experiência na Polícia Civil do Amazonas e 12 anos como piloto de helicóptero, está realizando a capacitação por meio de uma parceria entre a SOAer e o Departamento Integrado de Operações Aéreas (DIOA) do Amazonas.
“Meus olhos brilharam quando vi o esforço dos pilotos do Rio em salvar vidas. A Superintendência de Operações Aéreas é uma referência nacional e estou no melhor lugar do Brasil para me qualificar. Meu objetivo é implantar este modelo de sucesso no Amazonas e também salvar vidas”, destacou Ralf Kanitz.
Treinamento intensivo e resgates emblemáticos
O treinamento de Kanitz é realizado de segunda a sábado na base de operações da SOAer, na Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro, e se estende até o dia 13 de setembro. A capacitação inclui prática de voo, planejamento de ação, condições de navegação e preparação para transporte rápido de órgãos, dentro do chamado tempo de isquemia — o período máximo para a realização do transplante, que varia de quatro horas (coração e pulmão) a 12 horas (fígado).
Durante o estágio, Kanitz participou de resgates que marcaram sua formação. Um dos casos envolveu o transporte de um bebê de dois meses, com problemas cardíacos, de Angra dos Reis para um hospital no Rio de Janeiro. Outro caso emblemático foi o resgate de uma criança com leucemia, transferida de Campos dos Goytacazes para a capital. Ambos os resgates foram feitos em tempo recorde, salvando vidas que poderiam ser perdidas se o trajeto tivesse sido feito por ambulância, o que demoraria cerca de seis horas.
“O treinamento dele consiste nos procedimentos da aeronave, transportes de órgãos e de neonatos com necessidades especiais de atendimento em hospitais com suporte maior de vida. Em seu estágio, o piloto vai entender como operamos e funcionamos para levar esse modelo de ação ao Norte do país”, explicou o coronel Rogério Consendey Perlingeiro, responsável pela SOAer.
Expansão do modelo para outros estados
O modelo desenvolvido pela SOAer tem atraído profissionais de todo o Brasil. No ano passado, a médica cirurgiã Lalluna Brandão, do serviço aeromédico de Recife, passou pelo estágio da SOAer para conhecer toda a logística de transporte de órgãos e bebês prematuros. Recife, assim como outros estados, ainda não possui uma aeronave exclusiva para a área da saúde, como acontece no Rio de Janeiro.