No filme O Poderoso Chefão, produção norte-americana de 1972, há uma reunião entre as famílias mafiosas Corleone e Tattaglia para tratar de negócios. No último dia 25 o Rio de Janeiro assistiu à versão carioca deste encontro de máfias: taxistas compareceram em massa ao Palácio Pedro Ernesto para pressionar os vereadores a aprovarem uma lei que, na prática, proibiria o Uber.
Assim como a reunião entre os Corleone e os Tattaglia, o encontro dos taxistas com os vereadores foi um imenso sucesso – para os envolvidos, claro. Foram 42 votos a favor da proibição e apenas 1 contra! 42 x 1! Deixou Brasil e Alemanha no chinelo. Ainda mais incrível foi uma discussão tão polêmica não ter sequer uma audiência pública, excluindo a sociedade do processo.
Os vereadores tiveram muitos motivos para votar tão unânime e rapidamente tema tão controverso. Para ser mais exato, aproximadamente 40 mil motivos. Este é o número estimado de votos de taxistas no Rio de Janeiro, quantidade admirável faltando um ano para as eleições.
Importante ressaltar que o projeto de lei não mexeu na questão das diárias elevadas cobradas de taxistas nem de empresas que detém inúmeras concessões em nome de laranjas. Talvez porque parte delas seja propriedade dos digníssimos vereadores.
A esperança da população agora se concentra na caneta de Eduardo Paes. O prefeito perdeu o prazo de 15 dias para aprovar a lei e, apesar de já ter dito que vai sancioná-la, dá sinais de que conversaria com o Uber. No fundo no fundo, Dudu Paes deve estar em conflito entre o óbvio, que é ouvir o clamor da população e regulamentar o aplicativo, e os votos dos motoristas de táxi.
Acredito que os taxistas ainda sairão derrotados de todo esse enredo. Mesmo que Eduardo Paes sancione a lei, a sociedade já abraçou as novas formas de transporte, e não haverá encontro de mafiosos que faça isso regredir. Apesar de “O Poderoso Chefão” ser um filme excelente, já estamos fartos de máfias na vida real. Quanto antes os taxistas entenderem isso, melhor.
