Tempo de Jubileu é tempo de recomeço

Uma tradição milenar, nos remete a uma sabedoria antiga: a importância do perdão e do recomeço, como um reset, inclusive econômico e que permite a todos e principalmente as famílias mais pobres, um reequilíbrio à vida social. Uma lição para mundo moderno combater a desigualdade, inclusive entre as nações.

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Papa Francisco - Divulgação

Na agitação frenética do mundo moderno, onde dívidas e obrigações parecem se acumular sem fim, a Igreja Católica nos convida a uma pausa reflexiva com o Jubileu de 2025.

Este evento milenar, enraizado na tradição judaica, tem uma origem histórica e celebra a importância do perdão e do recomeço.  Há milênios, na terra de Canaã, o povo hebreu praticava algo revolucionário a cada 50 anos. Um tempo sagrado de recomeço, quando se permitia um descanso para a terra, e não faziam a semeadura, para que o solo pudesse se recuperar. Também as dívidas eram perdoadas, as famílias de escravos conquistados em guerra, eram postos em libertados e as terras arrendadas eram devolvidas aos seus proprietários originais. Imagine só: uma sociedade inteira dando-se a chance de reiniciar, de corrigir os desequilíbrios que inevitavelmente se acumulam com o passar do tempo.

Esta prática não era apenas um ato de caridade. Era uma profunda compreensão da natureza humana e das dinâmicas sociais. Os antigos entendiam que, sem um mecanismo de “reset”, as desigualdades tenderiam a se perpetuar e se aprofundar, criando uma sociedade cada vez mais dividida e instável.

Hoje, enquanto nos preparamos para o Jubileu de 2025, vale a pena refletir sobre o espírito desse costume, de praticar, de tempos em tempos, um período de “retiro e retomada”, o tempo sabático do jubileu. Não se trata de uma celebração religiosa, mas de um convite a repensar nossas relações – com o dinheiro, com o trabalho, com os outros e com nós mesmos.

Em um mundo onde o endividamento crônico se tornou a norma, onde milhões vivem sob o peso esmagador de dívidas que parecem impossíveis de serem quitadas, o conceito de Jubileu soa quase utópico. E, no entanto, é precisamente dessa ousadia que talvez precisemos.  Entender que as dívidas de uns que lhes pesam toneladas e os impedem de uma vida digna e plena, são miligramas para outros e não representam valor em seus balanços financeiros. E isso vale para pessoas e nações.

O Papa Francisco, ao convocar este Jubileu sob o tema “Peregrinos de Esperança”, nos desafia a imaginar uma sociedade mais justa e compassiva. Ele nos lembra que a verdadeira riqueza não está na acumulação, mas na capacidade de perdoar, de compartilhar, de recomeçar. Claro, não podemos esperar que todas as dívidas sejam magicamente apagadas. Mas podemos usar este momento para iniciar conversas difíceis, para repensar políticas econômicas, para buscar soluções criativas para problemas que parecem intratáveis. É possível sim criar mecanismos de conversão de dívidas em bonds ou títulos, mediante a compromissos por um roteiro de estabilidade e desenvolvimento social, que se faça acompanhado por qualificação e boas práticas.

Apenas para efeito de ilustração, se alocarmos 5% da fortuna dos mais ricos, que são 1% da população mundial em programas para erradicação da pobreza, combate à fome e geração de renda, seria possível gerar recursos da ordem de 1,5 trilhões de dólares, valor esse que pode impactar na vida de 1 bilhão de pessoas mais pobres (1). E ideia não é de criar mais um imposto sobre ricos que no final se torna mais uma fonte de recursos para governos desviarem e enriquecerem seus membros. Precisamos como sociedade criar uma mentalidade e mecanismos para que os mecanismos do reset econômico inspirados no jubileu, possam acontecer em nível local.

O Jubileu nos convida a um tempo de entendimento e renegociação. É uma oportunidade de olhar para além dos números em uma planilha e ver as histórias humanas por trás deles. De reconhecer que, às vezes, o perdão não é apenas um ato de misericórdia, mas de sabedoria econômica e social.  O combate às desigualdades é também uma forma de crescimento social e espiritual de todos nós.

Fontes.

  1. https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1578239/jewish/Ano-do-Jubileu.htm
  2. https://www.significados.com.br/jubileu/
  3. https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-04/por-015/nas-raizes-do-jubileu.html
  4. https://www.oxfam.org.br/noticias/o-1-mais-rico-do-mundo-embolsou-quase-duas-vezes-a-riqueza-obtida-pelo-resto-do-mundo-nos-ultimos-dois-anos/
  5. https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/13909-estudos-revelam-impacto-da-redistribuicao-de-renda-no-brasil
  6. https://www.scielo.br/j/ccrh/a/vgpn8Qcn5JMkkmkyFXS35VD/

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