Thais Ferreira: Doula a quem quiser

Vereadora e colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o Dia da Doula, profissionais profissionais que atuam no apoio durante a gestação, parto e puerpério

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
(Foto: Divulgação)

Neste sábado (18) celebramos o Dia da Doula, em virtude de uma legislação que aprovamos na Câmara Municipal para incluir a referência simbólica no calendário oficial da cidade. Para quem ainda não sabe, doulas são profissionais que atuam no apoio durante a gestação, parto e puerpério, colaborando na garantia de dignidade nessa fase sensível da vida.

Elas auxiliam, principalmente, na construção da autonomia e do protagonismo da pessoa gestante para definir a melhor forma de vivenciar a própria gravidez e o parto, proporcionando informações confiáveis que trazem alívio físico e emocional.

Um papel próximo a esse coube durante muito tempo apenas a mães, tias ou avós. Pessoas, geralmente da família, é que transmitiam seus conhecimentos e vivências pessoais, na expectativa de auxiliar a pessoa grávida. No entanto, embora esse tipo de conhecimento não seja pouco importante, algumas informações mais específicas sobre gravidezes e partos ainda dependem de aprofundamento e amparo sobre técnicas e evidências científicas que podem melhor evitar sofrimentos e a violência obstétrica. E é, aí, é que as doulas são fundamentais.

A pesquisa “Mothering the mother”, publicada nos EUA, demonstrou que o auxílio profissional de doulas durante a gravidez reduzia, naquela altura, em 50% os índices de cesarianas; em 25% o tempo de duração do parto; em 60% os pedidos de analgesias (espécies de anestesias); em 40% uso de ocitocina; 40% uso de fórceps.

Advertisement

Em outras palavras, as informações adequadas e o conhecimento da pessoa grávida a respeito do cenário obstétrico, demonstram-se capazes de reduzir ao longo de todo processo a ocorrência de procedimentos inadequados e o sofrimento durante o parto.

Baseando-se nesse tipo de dados, desde 1996, o acompanhamento por doulas é uma recomendação da Organização Mundial da Saúde, que declarou naquele ano que: “O apoio físico e empático contínuo oferecido por uma única pessoa durante o trabalho de parto traz muitos benefícios, incluindo um trabalho de parto mais curto, um volume significativamente menor de medicações e menos partos operatórios.”

E essa orientação foi seguida pelo nosso Ministério da Saúde, no mesmo ano.

Uma vez reconhecida a importância das doulas, nosso desafio passa a ser, portanto, ampliar o serviço no SUS, para que esteja disponível a qualquer pessoa que o desejar, inclusive as que dependem exclusivamente da saúde pública. Como lembrou-nos recentemente Louise Munier, doula e palestrante aqui no Rio, durante debate que fizemos na Câmara, devemos questionar sempre quem está obtendo acesso aos partos mais humanizados, pois cresce a desigualdade também nesse sentido. Geralmente são as mulheres de maior poder aquisitivo e as mulheres brancas que obtém acesso aos partos mais respeitosos, contribuindo para o quadro no qual as mulheres negras aparecem como vítimas desproporcionais de casos de violência obstétrica, e em que sofrem os maus tratos e as negligências, por exemplo, que são assumidos como “parte natural” de um parto.

A ampliação do acesso às doulas, no meu caso, também carrega uma dimensão muito pessoal. Eu perdi meu primeiro filho com 8 meses de gestação, como consequência de uma negligência médica e sofri violência obstétrica na ocasião do parto. Tivesse obtido naquela circunstância a oportunidade de ter o auxílio de uma profissional melhor qualificada, provavelmente meu filho ainda estaria aqui comigo. Foi na sequência dessa dor que comecei a buscar explicações sobre o ocorrido, e encontrei muitas mulheres na mesma situação que eu, parecidas comigo, e assim me tornei uma ativista reconhecida pelo trabalho na disseminação de informações em saúde para pessoas gestantes, famílias e crianças na primeira infância.

Até que não estejamos mais perdendo nenhum outro bebê ou permitindo que mulheres sofram e morram de causas evitáveis, eu não vou descansar. Sigo por essa luta, ao lado de tantas e tantos aliados na causa, até que haja – como diz o nome da campanha lançada em 2018 pela Associação de Doulas do Estado do Rio de Janeiro – ‘Doula a quem quiser‘.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Thais Ferreira: Doula a quem quiser
Avatar photo
Thais Ferreira, é mulher preta, mãe e cria do subúrbio. Especialista em políticas públicas para maternidades e infâncias, é filiada ao Movimento Negro Unificado (MNU) e atualmente é vereadora pelo PSOL e presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Advertisement

1 COMENTÁRIO

  1. Pronto! Agora instituído o dia da Douglas, todos podemos pagar kkkkkkkkkk Rio de Janeiro está uma piada mesmo… na verdade, já pagamos muito caro em impostos e não tem nem o básico na saúde municipal, aí vemos um vereador como Gabriel Monteiro combatendo os falsos profissionais, que dormem no horário de trabalho, assinam folhas de pontos fraudulentas e a câmara impede!? Ridículo isso… devia se preocupar com isso ao invés de dia de um profissional que só ricos podem pagar…

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui