Tráfico e milícia já respondem por 80% da venda de botijões de gás do RJ

Números mostram o quão lucrativo é a ação dos bandidos que, indiretamente, podem ser beneficiados com programas assistenciais do governo

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Foto: Governo Federal

O crime organizado no Rio de Janeiro vem dando mais uma demonstração de poder nas áreas menos assistidas do estado do Rio de Janeiro pelo Poder Público. Segundo reportagem do jornal O Globo, com levantamento da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg), tanto o tráfico quanto a milícia já são responsáveis por até 80% do mercado de botijões de gás de cozinha em todo território fluminense.

Na tentativa de auxiliar a população mais carente, o governo federal e estadual lançaram recentemente programas para ajudar os mais necessitados, um deles é o Auxílio Gás, do Ministério da Cidadania, que irá disponibilizar uma quantia para que as famílias de baixa renda possam ter acesso a esse item tão básico do dia a dia, porém, o temor é de que, involuntariamente, o aporte financeiro possa aumentar as cifras dos criminosos.

Estima-se que só com a primeira parcela do Auxílio Gás, paga ao longo deste mês, entre R$ 18 milhões e R$ 20,6 milhões podem parar nos cofres de distribuidores ligados ou explorados por traficantes e milicianos. De acordo com a Asmirg, que reúne comerciantes do gênero de todo o país, a situação é especialmente grave na Região Metropolitana, que concentra 72,5% das famílias favorecidas pelo auxílio federal, cujo pagamento da primeira parcela vai até 31 de janeiro.

Veja o ranking de cidades com mais favorecido na relação abaixo:

Advertisement
auxilio gas Tráfico e milícia já respondem por 80% da venda de botijões de gás do RJ
Imagem: Reprodução Extra

Na semana passada, o governador Cláudio Castro afirmou que a proposta é de fornecer um voucher, e não a quantia em espécie. O objetivo é justamente de evitar que o dinheiro pare nas mãos do crime.

Ação dos bandidos e números lucrativos

Já a prática dos criminosos é das mais manjadas, intimidar vendedores e distribuidores e dominar as áreas em que eles atuam, sobretudo na Baixada e na Zona Oeste, as áreas mais críticas. Fazendo com que os moradores da região tenham poucas opções de compra, pagando muito mais caro do que o valor convencional do produto.

Os números mostram o quão rentável podem ser os negócios ilegais. O Rio possui o terceiro maior mercado de gás de cozinha do país, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. O estado conta com 1.815 revendas varejistas autorizadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entidade responsável por fiscalizar o setor. São pouco mais de 2 milhões de botijões comercializados todos os meses, dos quais ao menos 1,4 milhão, nas contas da Asmirg, fazem parte da cadeia controlada pelo crime organizado.

O levantamento da ANP também aponta que, atualmente, o preço médio do botijão de 13kg em solo fluminense é de R$ 92,31. Já investigações da Polícia Civil indicam que a taxa imposta pelos bandidos costuma ser de, no mínimo, 20% sobre o valor original, o que faz com que, nessas áreas, o produto custe ao menos R$ 110, podendo ir a R$ 120 ou R$ 130. Uma matemática que resulta em um lucro bruto mensal superior a R$ 25 milhões com a prática criminosa estado afora — valor, aliás, similar ao total a ser desembolsado pelo governo federal, no Rio, nesta primeira parcela do Auxílio Gás.

Mas a comercialização dos botijões não é vantajosa para o crime apenas pelo lucro milionário. Em abril de 2020, por exemplo, uma grande operação da Polícia Civil prendeu quatro suspeitos de lavarem dinheiro para uma milícia que agia em Nova Iguaçu e Seropédica, na Baixada Fluminense. O esquema envolvia revendedoras de gás e, segundo os investigadores, movimentou quase R$ 200 milhões em cinco anos.

Primórdios da exploração da venda de botijões

O início da exploração da venda dos botijões de gás remete à expansão das milícias na cidade do Rio, na virada dos anos 2000. Tal qual faziam com outros serviços básicos, como o sinal de televisão e a internet, os paramilitares passaram a controlar o setor a mão de ferro, exercendo monopólio quase total em suas áreas de atuação. De lá pra cá, contudo, o mesmo modus operandi foi adotado por traficantes de diversas regiões, principalmente na Zona Norte carioca.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Tráfico e milícia já respondem por 80% da venda de botijões de gás do RJ
Advertisement

2 COMENTÁRIOS

  1. Caraças, vamos por ordem nas ideias: o tráfico e a milícia – principalmente o primeiro – não vai procurar emprego formal no dia que a droga deixar de ser ilegal. Como ela ainda é ilegal, ainda é lucrativa, mas dá trabalho traficar. Vender botijão de gás é muito lucrativo se você impedir a concorrência (e é isto que ambos tráfico e milícia fazem) e a princípio você não precisa estar armado pra trazer os botijões e mantê-los num depósito. Ou seja, é um negócio muito mais “clean”.

    Agora, o que tem a ver os benefícios do governo com isso? Sugerir que o governo quer apoiar tráfico e milícias? Isso é inverter a ordem das coisas.

    As pessoas compram botijão não porque acham bonito, mas porque ou não tem oferta de gás encanado ou é porque é mais barato mesmo. A necessidade de gás existe, não é fomentada pelo governo. O subsídio vem pra ajudar quem tem dificuldade de bancar o gás e tal.

    O errado é ter mafiosos vendendo botijão de gás, estrangulando a concorrência livre pra comprar. Isso também é desordem urbana. Ocorre com internet também. No papel, estas empresas são limpas, têm até CNPJ, mas a sua atuação é que é suja. Vá comprar um botijão de fora do bairro pra ver o que acontece? Tenho conhecido de santa cruz em que chegaram a perguntar pra ele se não cozinhava, dado que nunca comprava gás no depósito!

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui