Gregório de Mattos, o grande poeta baiano do século XVII, denunciava os desmandos dos dirigentes para atender seus próprios interesses (ou de amigos próximos).
Notícias recentes sobre a região central do Rio, (Triste Bahia-Rio! Ó quão dessemelhante estás e estou do nosso antigo estado) no próprio coração da cidade, indicam a possibilidade da construção de um ameaçador espigão, como tantos outros que mutilaram o perfil urbano, trazendo parcas vantagens para a população, muitas vantagens para interesses pouco conhecidos (Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
rica te vi eu já, tu a mi abundante).

Matéria recente deste Diário apresentou uma simulação da inserção do projeto no terreno conhecido como “Buraco do Lume”, comprometendo a ambiência da região, incluindo seu microclima, aspectos sociais e as próprias visadas da vizinhança imediata, como o casario remanescente de uma das vias mais importantes da cidade, que remonta ao período colonial: a rua São José, ao Norte. Na direção Oeste, após o olhar passar pelo Edifício Avenida Central, um marco da arquitetura moderna na cidade com sua estrutura metálica, inaugurado no início da década de 1960, no horizonte se descortina, ao longe, o convento de Santo Antônio no Largo da Carioca. Ao Sul, o edifício que abrigou o Banco do Estado da Guanabara, instituição que originou a demanda pela área em questão, ocupado pela ALERJ.

Certamente, por desconhecimento da história da cidade em suas diversas nuances, alguns parlamentares da ALERJ se empenharam pela liberação da construção de uma grande edificação no terreno, com pouca fundamentação teórica, sem uma argumentação tecnicamente sustentável ou parecer de profissionais ou órgãos de classe com a devida habilitação.
A área “odiada” por alguns, compreende uma seção da praça Mário Lago, nas imediações de um local tradicional de manifestações de partidos progressistas, o que desagrada muitos conservadores, inclusive quem defende a liberdade de expressão.
A cidade pertence, inclusive na formação da palavra, aos cidadãos. Principalmente seus espaços públicos de fato, como a praia o a praça. Outro baiano, Castro Alves, já clamava:
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!
Senhor!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua seu…
O “Buraco do Lume”, como tornou-se popularmente conhecido, tratava-se de uma grande escavação para implantação de um empreendimento imobiliário do Grupo Lume, um edifício de 55 pavimentos, então o maior do Brasil. As obras pararam em 1974, após a liquidação financeira dos principais acionistas.
A cava destinada ao subsolo e fundações encheu-se de água, gerando um ambiente propício à disseminação de doenças. Em frente, num lago do edifício originalmente destinado ao Banco do Estado da Guanabara – BEG, projeto do arquiteto Henrique Mindlin (também responsável pelo Edifício Avenida Central) algumas crianças de rua mergulhavam em busca de moedas atiradas por transeuntes, que se divertiam com essa cena insalubre, posteriormente impedida pela colocação de grades.
Na área remanescente da antiga praça Henrique Lage, rebatizada Melvin Jones, foi implantado um projeto paisagístico que incluía uma passarela sobre um lago, interligando as ruas fronteiriças à praça e liberando a vista do casario eclético da Rua São José. Essa praça foi tombada pela prefeitura em 1989, “por seu interesse urbano, social e paisagístico”.
No final da década de 1990, uma lei municipal alterou o nome da praça para Mário Lago, decisão só ratificada em 2009, durante o mandato do atual prefeito. O logradouro recebeu tombamento estadual em 2019.
Curiosamente, em julho de 2020, foi aprovado pela Câmara Municipal a “Lei dos Puxadinhos”, que flexibilizava parâmetros urbanísticos na cidade do Rio de Janeiro, que é motivo para um detalhado artigo, tal a irresponsabilidade presente em alguns parágrafos sem a devida justificativa. Essa lei revogava o Decreto n° 6.159, de 30 de setembro de 1986, que restringia a edificação no lote à uso cultural.
A praça, toda praça é do povo!
Um espaço público é, definitivamente, composto por vias e, principalmente, por pessoas, gerando uma ambiência urbana que define e preserva a memória de um logradouro, de um bairro, de uma cidade.
A descaracterização de uma área tradicional com a inserção de uma torre, independentemente da qualidade de seu partido estético e funcional, é uma violência contra a paisagem. Um ato egoísta para favorecer interesses ou objetivos de poucos, sejam econômicos ou ideológicos. Cabe a população se manifestar diante de atos que, revestidos da aprovação de parlamentares, flertam com o autoritarismo que impõe uma cidade que não queremos, adjetivada por eufemismos que escondem, mas não resolvem questões de maior importância do que liberação de gabaritos e extinção de praças, principalmente em áreas tão adensadas, onde uma pequena área livre permite a respiração da urbes e a visualização de uma seção maior do céu carioca.
Para saber mais: https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.252/8190
Existem tantos prédios ociosos no Centro do Rio que não há razão para uma empreendimento deste. Basta incentivar a destinação das atuais unidades comerciais para residenciais e deixar o espaço franqueado ao público. Obviamente trazendo atividades culturais para a aquele anfiteatro e não deixando largado como está.
De parques e praças abandonados o Centro já está cheio (a Cinelândia e os largos da Carioca e de São Francisco são a prova viva)! Se é para deixar do jeito que está, imundo e servindo como camelódromo, abrigo de pivetes e mictório ao ar livre, então que se construa alguma coisa naquele espaço. Não dá é pra continuar largado como o é há muitos anos…
Não sei se essa nova torre será essa hecatombe descrita. mas espero que a prefeitura, caso não saia o tal prédio, dê uma arrumada naquele mafuá. Essa praça é um antro de trombadinhas, lugar cheirando a fezes e urina. Sempre foi um canto meio sinistro e mal-ajambrado do centro. De noite é melhor evitar.
Fico também com o relator.
Tanta construção vazia e precisam construir uma nova. Temos é que requalificar espaços públicos para servir ao povo, não para alguns se servirem deles como dormitórios ou latrinas. O centro tem verde?
O Centro é um dos bairros do Rio com mais praças e áreas verdes (só para citar alguns: Aterro, Cinelândia, a Praça do Expedicionário ao lado do TJ, o Passeio Público, o Campo de Santana, os largos da Carioca e São Francisco e o espaço junto aos Arcos da Lapa, TODOS ABANDONADOS, fedendo a urina e servindo de abrigo a moradores de rua, cracudos e pivetes). Mas a imprensa e os “defensores dos espaços públicos” só se lembram deles quando algum investidor pretende ocupar o espaço para construir.
Quanto ao “povo”, que se diz dono da praça, podia também fazer sua parte não a sujando ou vandalizando! Ao viajar pelo mundo, principalmente pela Europa, chego à conclusão do porque brasileiros e outros povos de países menos desenvolvidos (como de alguns do Oriente Médio, Ásia e África) são tão mal vistos… E não se trata de classe social, pois já assisti a brasileiros de classe média pisoteando jardins, sujando praias ou infernizando terceiros com som alto em lugares públicos mundo afora. A educação, a limpeza e o cuidado com o bem público infelizmente ainda não fazem parte de seus costumes!
Muito bem dito.
A praça é do povo.
E uma pseudo votação por pseudos representes não avaliza o interesse público.
Apoiado.
Voto com relator.
Onde é que eu assino?