Uerj lança primeiro jogo digital sobre cidadania para adolescentes em situação de vulnerabilidade social

Game “Faz Teu Corre” estimula reflexões sobre escolhas e responsabilidades no cotidiano juvenil

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A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) lançou o game “Faz Teu Corre”, o primeiro jogo digital voltado para adolescentes em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de promover reflexões sobre cidadania, direitos e responsabilidades. O projeto foi desenvolvido pelo Observatório de Políticas Públicas para Adolescência (Oppa) e apresentado no evento Corre Cultural 2.0, realizado no Circo Voador, em dezembro de 2024.

O jogo, disponível gratuitamente para download, foi criado em parceria com a Fundação para Infância e Adolescência (FIA) e está integrado ao Programa Trabalho Protegido na Adolescência (PTPA). Segundo Tatiane Alves, coordenadora do Oppa, o objetivo é utilizar ferramentas digitais e a gamificação para engajar os jovens no aprendizado de forma interativa.

“O game é um projeto de extensão que nasce a partir de um cuidado do Observatório com o desenvolvimento de novas pedagogias mais alinhadas ao perfil desse jovem que, mesmo desfavorecido, está sintonizado às novas mídias, como redes sociais e jogos digitais”, explica Tatiane.

O jogo e seus desafios

Na primeira fase do jogo, o adolescente simula seu dia a dia dentro de casa, enfrentando oito desafios, que vão desde acordar para ir à escola até cuidar de um irmão mais novo e lidar com problemas domésticos, como uma infestação de ratos. Os jogadores podem criar e personalizar seus avatares, tornando a experiência mais próxima de sua realidade.

“O jogador se diverte porque o game é engraçado e fala a língua do jovem. Ao mesmo tempo, transmite noções de direitos, escolhas e consequências. Tudo de forma lúdica”, detalha Tatiane.

O cenário do jogo foi escolhido a partir de uma pesquisa realizada pelo Oppa, que perguntou a 200 adolescentes qual aspecto de sua rotina gostariam de ver representado em um game. Surpreendentemente, a casa foi a opção mais votada, superando temas como amizade e relacionamentos afetivos.

“A casa representa o espaço de desafios diários desses jovens, envolvendo habitação, alimentação, segurança e relações familiares. Decidimos, então, transformar essa realidade em uma experiência interativa dentro do jogo”, acrescenta a coordenadora.

Expansão do projeto e desafios para o futuro

Desde seu lançamento, o jogo já contabilizou mais de 500 acessos, considerando o processo de cadastro e download. No entanto, a equipe do Oppa busca financiamento para ampliar a distribuição do game, incluindo sua publicação em lojas de aplicativos para Android e iOS.

Para 2025, o projeto prevê uma nova fase do jogo, na qual o jovem sai de casa para trabalhar, enfrentando desafios como mobilidade urbana e segurança pública. Além disso, o conteúdo será ampliado para incluir informações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), utilizando a linguagem e gírias dos próprios jovens.

“O desafio agora é viabilizar essa expansão. Em março, realizaremos oficinas com atividades experimentais para colher feedbacks e fazer ajustes. A ideia é que o jogo continue evoluindo e trazendo impacto real para esses adolescentes”, adianta Tatiane.

Reflexões e impacto social

Para o antropólogo Ricardo Lima, coordenador de Estudos Aplicados à Cultura do Oppa, o jogo é uma ferramenta poderosa para estimular o jovem a refletir sobre seu próprio potencial.

“O ‘Faz Teu Corre’ ajuda o jovem a perceber sua importância e a tomar decisões dentro do jogo que refletem desafios reais. Enquanto alguns games são criticados por alienar, esse projeto faz o contrário: insere o jovem na sua realidade e o incentiva a pensar sobre suas escolhas”, destaca Lima.

A Uerj é a primeira universidade brasileira a desenvolver um game voltado para políticas públicas e inclusão social, reforçando seu compromisso com educação, inovação e cidadania.

“Nosso objetivo não é apenas pioneirismo, mas colaborar com o fortalecimento das políticas públicas e criar oportunidades para esses jovens. Eles precisam ter seus direitos garantidos e vivenciar sua adolescência de forma respeitosa. Com isso, teremos uma sociedade mais justa”, finaliza Tatiane.

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