A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) se prepara para abrir mão de uma de suas principais propriedades imobiliárias no Centro do Rio. Um decreto assinado pelo presidente Lula e publicado nesta quinta-feira (22/05) no Diário Oficial da União autoriza a instituição a vender os 11 andares de sua posse no Edifício Ventura, na Avenida Chile.
A alienação dos imóveis será feita por meio de licitação pública, como prevê a Lei nº 14.133/2021. O dinheiro arrecadado, no entanto, não poderá ser utilizado de forma livre e deverá ser investido na própria estrutura física da universidade, de acordo com a Lei nº 6.120/1974 — que, em casos específicos, também permite o uso parcial para despesas de custeio. No caso da UFRJ, com campi em situação crítica, a prioridade segue sendo obras e manutenção.
A decisão ocorre em meio a um cenário dramático para a instituição. Com dívidas acumuladas de R$ 61 milhões, a universidade enfrenta atrasos em serviços básicos, paralisações e prédios em condições precárias. De seus 154 imóveis, 75% precisam de reformas. Relatórios internos apontam que o orçamento discricionário — verba usada para custear serviços essenciais como limpeza, segurança e energia — cobre apenas parte das necessidades.
A reitoria alerta para o risco real de suspensão das atividades já no próximo ano. De acordo com o reitor Roberto Medronho, a UFRJ deve receber, até novembro, apenas 60% dos R$ 406 milhões previstos para 2025. O valor é menos da metade do orçamento disponível em 2012.
Terreno virou ativo, mas não rendeu como se esperava
A UFRJ cedeu o terreno onde foi erguido o Edifício Ventura e, em troca, ficou com 11 pavimentos do edifício de alto padrão. A área recebida equivale a cerca de 17% do total construído, o que representa 16,6 mil metros quadrados.
Apesar do potencial, o retorno foi modesto. Atualmente, apenas duas empresas ocupam os espaços sob posse da universidade. Dois andares também abrigam provisoriamente a Escola de Música da UFRJ, já que a sede histórica da instituição, na Rua do Passeio, aguarda por uma restauração que nunca saiu do papel. Inclusive, uma das exigências iniciais da instituição era de que o novo comprador assumisse o compromisso de reformar o prédio original da escola, que é tombado e está em péssimas condições. O custo estimado da obra, segundo o BNDES, girava em torno de R$ 300 milhões em agosto do ano passado.
Locação nobre
O Ventura Corporate é considerado um dos edifícios comerciais mais valorizados do Centro do Rio. Com 34 andares, dois heliportos e padrão classe A, está ao lado das sedes da Petrobras, BNDES e da Catedral Metropolitana. Construído por um consórcio entre Camargo Corrêa, Método e a gigante americana Tishman Speyer, o empreendimento custou R$ 650 milhões e tornou-se símbolo da revitalização da área.
Segundo o corretor Marcus Vinícius Ferreira, da Sérgio Castro Imóveis, o valor de mercado para aluguel no prédio gira em torno de R$ 135 por metro quadrado. Já para venda, ele aposta que o leilão vai atrair compradores dispostos a pagar mais de R$ 16 mil por metro quadrado. “É um ativo raro e estratégico. A concorrência deve ser forte”, avalia.