
A Unidos de Vila Isabel ainda mantém o suspense sobre o tema que levará à Sapucaí no Carnaval 2026. O enredo será revelado oficialmente numa roda de samba neste próximo sábado (10/05), na Pedra do Sal, mas nos bastidores — e nas redes sociais — o nome do multiartista Heitor dos Prazeres já é dado como certo. O convite para o evento, inclusive, traz letras que simulam a grafia do artista, um detalhe que os fãs mais atentos logo perceberam.
O possível enredo tem tudo para emocionar. Heitor dos Prazeres foi compositor, cantor, dançarino e artista plástico, com forte ligação com o carnaval, o samba carioca e a Pequena África, região em que a Pedra do Sal está compreendida. Nascido em 1898, apenas dez anos após a abolição da escravatura, cresceu na antiga Praça Onze, berço do samba, convivendo com lendas como Pixinguinha, Ismael Silva e Nilton Bastos. Ao longo da vida, contribuiu para a criação das primeiras escolas de samba e eternizou o carnaval em diversas de suas telas.

A escolha não seria por acaso. Os carnavalescos da Vila, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, já haviam mergulhado na obra de Heitor dos Prazeres no ano passado, quando criaram uma instalação para a exposição do CCBB dedicada à trajetória do artista, que inclusive, foi um sucesso no centro cultural. Desde então, segundo pessoas próximas à dupla, a ideia de um desfile em sua homenagem começou a ganhar corpo.
A aposta na homenagem ao artista dialoga com a tradição da Vila em exaltar figuras negras centrais para a cultura brasileira, como já fez com Martinho da Vila e, de certa forma, até com Noel Rosa (um dos ícones do bairro boêmio). Se confirmada, será mais uma oportunidade de dar visibilidade a um artista que marcou o samba e as artes visuais, mas que ainda não teve o reconhecimento merecido na avenida. A escolha também tenta virar a página do mal-estar deixado por Paulo Barros no último carnaval. Na época, o carnavalesco causou polêmica ao criticar o que chamou de repetição de temas “monotemáticos”, especialmente os ligados à cultura africana. A repercussão negativa, inclusive entre outras escolas, levou a Vila a não renovar com Barros, que acabou ficando fora do Grupo Especial pela primeira vez em 16 anos.