O Brasil atingiu um recorde histórico de afastamentos por transtornos mentais em 2024. Foram 472.328 licenças médicas registradas, um aumento alarmante de 68% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Previdência Social. Esse número reflete uma epidemia silenciosa de sofrimento emocional, atravessando a vida de milhares de brasileiros e brasileiras.
A ansiedade e a depressão lideram os diagnósticos, afetando principalmente mulheres (64% dos casos), que enfrentam sobrecarga de trabalho, menor remuneração, acúmulo de responsabilidades familiares e violência. Entre a população negra, o racismo estrutural também agrava o cenário, aumentando o risco de suicídio em 45% entre pretos e pardos, conforme dados do Ministério da Saúde.
As condições de trabalho desumanas são um fator central desse problema. Jornadas exaustivas, metas inalcançáveis e falta de acolhimento são gatilhos para a Síndrome de Burnout e outros transtornos graves. A crise na saúde mental levou o governo a atualizar a NR-1, exigindo maior fiscalização das empresas. Mas a solução precisa ir além de multas: é necessário transformar a cultura organizacional e garantir suporte efetivo aos trabalhadores.
Precisamos democratizar o acesso ao cuidado em saúde mental. O bem-estar emocional não pode ser privilégio de poucos. É fundamental ampliar o atendimento psicológico e psiquiátrico, especialmente para grupos vulneráveis como mulheres, negros, indígenas e pessoas da periferia. As empresas também devem assumir sua responsabilidade, criando ambientes mais saudáveis, onde os trabalhadores possam expressar suas dificuldades sem medo de represálias.
Além do tratamento, a prevenção precisa ser prioridade. Práticas como oficinas de inteligência emocional, mindfulness e outras abordagens baseadas em evidência podem ajudar na gestão do estresse e no fortalecimento do bem-estar.
O sofrimento psíquico não é frescura nem fraqueza — é um pedido de ajuda. A sociedade precisa escutar, acolher e agir. O combate à crise de saúde mental deve ser coletivo, ético e acessível. O tempo de ignorar esse problema já passou.