Vitor Friary: Na luta contra a depressão, exercício físico é essencial

Como a ciência e a psicologia estão redescobrindo o poder da atividade física

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Pessoas praticam atividades físicas na Lagoa Rodrigo Freitas | Fotos: Rafa Pereira - Diário do Rio

Uma das descobertas mais impactantes da saúde mental nos últimos anos voltou a ganhar destaque: a atividade física é um dos tratamentos mais eficazes contra a depressão. De acordo com um estudo publicado na prestigiada revista científica British Journal of Sports Medicine, o exercício regular pode ser até 1,5 vez mais eficaz que medicamentos ou terapia isoladamente no combate à depressão e à ansiedade. A pesquisa analisou mais de 97 revisões científicas envolvendo cerca de 130 mil participantes, e demonstrou que a prática de exercícios aeróbicos, musculação e até caminhadas têm efeitos positivos consistentes no humor e na saúde mental.

Mas aqui vai a questão real: como levantar do sofá quando sua mente diz que nada vale a pena? Como colocar o corpo em movimento quando o pensamento diz que você não tem forças? É aí que entra o olhar da psicologia contemporânea e das práticas que utilizamos em nossa clínica.

O que está por trás da força que nos movimenta?

A depressão suga não só a energia física, mas também o impulso vital. Ela distorce a percepção de si, do outro e do futuro, nos colocando num ciclo de pensamentos pessimistas, autocrítica e desesperança. E aqui está o ponto: não basta saber que exercício ajuda. É preciso atravessar as barreiras emocionais e mentais que impedem a ação.

Por isso, proponho um plano em 5 passos que une evidências científicas com práticas de Mindfulness, ACT e Psicologia Positiva, abordagens que utilizo com sucesso em meus atendimentos.

  1. Reconheça a sua dor sem julgá-la
    Olhe para o sofrimento com compaixão, em vez de resistência. Pergunte-se: O que estou sentindo agora? Onde isso dói em mim? Nomear emoções e aceitá-las abre espaço para a mudança. A dor não precisa ser eliminada antes da ação. Você pode se mover com ela.
  2. Pratique o “pequeno passo com sentido”
    Comece com micro ações. Caminhar 5 minutos, alongar o corpo ao acordar ou subir escadas em vez do elevador já é movimento. Florescemos quando agimos em direção ao que dá sentido à nossa vida. Dê passos pequenos, mas com direção.
  3. Conecte-se com seus valores, não com a tão esperada motivação
    Não espere a vontade aparecer. Lembre-se por que você quer viver melhor. Você valoriza cuidar do seu corpo? Ter energia para brincar com seus filhos? Viver com mais autonomia? Mova-se por esse valor de vida. O exercício passa a ser um ato de fidelidade a quem você quer ser – não uma obrigação.
  4. Respire antes de agir
    O Mindfulness nos ensina a pausar, observar a mente e decidir com mais consciência. Quando vierem pensamentos como “não consigo”, “vai ser inútil”, “sou um fracasso”, respire profundamente, sinta os pés no chão e pergunte: isso é um fato ou um pensamento? Essa pausa é o espaço da liberdade. Ela pode mudar o rumo do seu dia.
  5. Cultive pequenas vitórias e comemore
    A celebração das pequenas conquistas estimula a dopamina, o neurotransmissor da motivação. Caminhou 10 minutos? Reconheça. Alongou o corpo? Comemore. O que parece pequeno hoje pode ser o começo da sua virada.

Qual atividade escolher? O ideal é escolher que se adequem ao seu momento e pode ser gentil com você começando com atividades mais suaves e gradualmente intensificando se precisar, ou apenas mudando o formato de tempo por exemplo.

Veja algumas opções:

  • Para quem está começando do zero ou está com baixa energia:
    Caminhadas leves, alongamentos, dança em casa ou yoga restaurativa.
    (Essas atividades despertam o corpo sem sobrecarregar.)
  • Para quem busca liberar tensões e aumentar disposição:
    Corrida leve, bicicleta, natação ou musculação.
    (Ajudam a regular o humor e aumentam os níveis de energia.)
  • Para quem precisa de foco e equilíbrio emocional:
    Yoga, Tai Chi, Pilates ou caminhadas conscientes (Mindful Walking).
    (Atuam também sobre o sistema nervoso e reduzem a ruminação mental.)
  • Para quem vive com sobrecarga mental e emocional:
    Atividades em grupo, como aulas de dança, hidroginástica ou esportes coletivos.
    (Geram conexão, sensação de pertencimento e reforçam o senso de prazer.) O importante não é o que você faz, mas como e por que você faz. Exercício físico é um dos antidepressivos naturais mais potentes que temos. Mas para ele funcionar, precisamos ir além da informação. Precisamos cuidar das emoções, desafiar pensamentos automáticos e cultivar uma mente mais consciente e compassiva.

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