Wagner Victer: A emocionante vitória da educação na Maré

Ex-secretário estadual de educação comenta a ida de alunos para o Torneio Internacional de Robótica

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Alunos da Maré, ganharam o “Torneio Internacional de Robótica”. Foto: Divulgação Secretaria Estadual de Educação

Vejo uma notícia que acaba de sair na mídia e que me enche muito de emoção, orgulho e que confesso que me trouxe as lágrimas.

A notícia que Alunos da Maré, ganharam o “Torneio Internacional de Robótica”, o que para mim é um exemplo marcante pessoal daquilo que digo da importância de acreditar na persistência e quando sequer fazer, tendo equipes comprometidas, podemos fazer o que os outros consideram impossível.

Quando assumi a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, um dos desafios que me foram colocados como sendo impossíveis era uma escola que havia sido construída dentro da Maré, em um enclave, que por conta da disputa entre facções, diziam que, apesar de pronta, seria inviável ser colocado em operação, pois não teria demanda por alunos. Para chegar nela seria impossível sem ter conflitos, até porque é uma Escola de Nível Médio (antigo segundo grau), basicamente vocacionada para adolescentes, e logicamente, bem diferente daquele complexo de escolas, feitas pela Prefeitura, instaladas em lugar que não era conflagrado, que eram para alunos do ensino fundamental.

Como disse a escola já estava pronta por anos. Havia virado um local de total abandono, até com a guarda de produtos do crime e isso me incomodava profundamente, até porque, historicamente sempre consegui desenvolver trabalhos dentro de comunidades como Presidente da CEDAE, inclusive na Maré e onde conseguia conversar muito bem com todas as Associações locais.

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Me lembro das diversas vezes que fui pessoalmente a escola, entrando sem qualquer segurança, sem suporte de policial e caminhando, de botas, crachá e com minha tradicional camisa jeans da Secretaria de Educação, por dentro da comunidade e ainda passando por barricadas armadas e me chamavam de “doido”, pois não acreditavam que o Secretário de Educação, sozinho e sem suporte pudessem estar visitando aquele ponto da comunidade.

Na ocasião, reuni nossas equipes da Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC), e definimos como meta: vamos colocar essa escola em operação como um desafio de SEEDUC.

A estratégia que parecia complexa, foi no início chamar todas as representações efetivas de moradores, entidades e fazer uma reunião muito clara, tipo “olho no olho”, dizendo que tínhamos que nos unir para colocar aquela unidade funcionando.

Escolhemos para ser Diretor, o professor Marcelo Belfort, que morava na localidade que se dedicou muito. Por diversas vezes, eu estive pessoalmente, o que todos não recomendavam, visitando pessoalmente a escola, passando no meio de pessoas fortemente armadas, o que particularmente era algo que já tinha vivenciado em outras funções que adotei. Já os motoristas da Secretaria se recusavam a entrar.

Para fazer as adaptações, pois havia depredações, designei um Engenheiro, que trabalha comigo a muitos anos, que havia convocado para trabalhar na educação, José Paulo Sarmento, e ele pessoalmente conduziu o processo não com empreiteiros, mas com as equipes de manutenção da Secretaria e inicialmente botamos o primeiro andar para funcionar e depois o segundo andar. As matrículas abertas em 2017, no primeiro momento, os pessimistas consideravam que não formaríamos sequer uma turma.

Escolhi para dar nome batizando a escola, uma das pessoas mais importantes na educação da Ilha do Governador, que é o bairro ao lado e que foi muito importante na minha vida, que é o Diretor João Borges, que foi Diretor do Colégio Cenecista Capitão Lemos Cunha, que era um grande disciplinador e que eu dizia que ele inspiraria a solução.

Conseguimos inicialmente a doação de alguns computadores usados, com uma empresa petrolífera. Fomos além, implementamos a Escola em regime profissionalizante em tempo integral com vocação em Técnico de Administração com Ênfase em Empreendedorismo, o que diziam que era loucura pois não conseguiríamos mobilizar turmas em Tempo Integral.

Colocamos rapidamente a cozinha, e o refeitório funcionando, com uma merenda escolar quente considerada a melhor do Brasil, gerando mais um atrativo para jovens que ali frequentavam. Montamos bibliotecas, laboratórios de informática, climatização e tivemos apoio de parceiros como SEBRAE e SENAC, que deram cursos.

Pois bem, em poucos anos, depois do início da operação dessa escola que conseguimos colocar em operação na minha gestão, a escola já tem sido premiada em competições, em especial essa em Nível Nacional e sai essa bela matéria no Jornal O Globo, e no Bom Dia Rio.

Quero de coração, parabenizar toda a direção e o corpo docente daquela escola, pelo sucesso, às entidades da Maré por terem compreendido que disputas até em facções criminosas tem que ser superados para desenvolver um trabalho onde o ganho da própria comunidade, quero agradecer a todos os membros da Secretaria Estadual de Educação. Esses jovens da Maré, estão de parabéns por esse exemplo de superação.

Isso é muito lindo, como exemplo de superação e desafio, muito bacana e agradeço especialmente a memória do Diretor João Borges, que acredito também que ele ajudou para esse sucesso com sua inspiração.

Faço esse artigo também para aqueles que me chamavam de “doido”, pois diziam que “não dava”, que eu não deveria ficar entrando na Maré, que já tinham jogado a toalha pois consideravam que esse trabalho em comunidades conflagradas seria impossível. Aqueles que assim fizeram que hoje veem essa vitória, dessa escola, a meu ver, eram os acomodados e agiam de forma preconceituosa pois não entendiam que com superação, dedicação jovens de comunidades carentes podem dar uma belíssima resposta e desenvolver talentos.

Fui criado na Ilha do Governador, sempre entrei em comunidades de bairro. Fiz trabalhos por muitas empresas dentro de outras Comunidades do Estado e sei que mesmo quando há uma situação conflituosa, através do diálogo e principalmente sem preconceitos pode ser feito com trabalhos e dar oportunidades a outros.

Aqueles que me acompanharam na Educação, sabem como colocar essa escola na Maré tinha “um que” de especial para mim, pois me via como um desafio de respeito a uma comunidade e literalmente uma oportunidade para as pessoas carentes.

Mais uma vez, as matérias que vejo hoje, para mim, me guardam uma conquista muito importante, e desejo sucesso e vida longa para a Escola Estadual Diretor João Borges.

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